Tubarão pescado sem controle e vendido como cação corre risco de extinção
Benedita equilibra-se sobre um pequeno banquinho de madeira enquanto escreve no quadro negro preso à porta do seu restaurante. Sorridente, ela antecipa que teremos tainha assada no cardápio.
Filha e neta de pescadores, Benedita madruga todos os dias para acompanhar a chegada dos primeiros barcos de pesca e conseguir melhores preços antes do tumulto formado por donos de pousadas e restaurantes refinados. Essa estação sempre foi propícia para a pesca da tainha no litoral paulista, mas a cada ano a produtividade tem caído, elevando os preços. Sentada em um banquinho improvisado, ela acompanha o desembarque de caixas e mais caixas com camarão. Nenhum peixe aproveitável.
Ao lado, um senhor de seus 70 anos manuseia uma faca com a mesma habilidade com a qual equilibra e traga um cigarro no canto da boca. Ele rapidamente disseca a cabeça de um peixe corpulento que, mesmo com quase um metro de comprimento, ainda não atingiu a idade adulta. Um tubarão martelo.
A carne de tubarão custa menos da metade do que a senhora Benedita pagaria pela tainha. Cortada em postas, pode ser preparada frita ou assada sob o nome de cação anjo.
Os Condrictes, ou peixes cartilaginosos, representados pelos Elasmobrânquios (tubarões e raias) e pelos Holocefálicos (quimeras), surgiram no Período Devoniano, há 400 milhões de anos. Estão entre os mais antigos vertebrados da Terra ainda vivos, tendo sobrevivido a quatro grandes eventos de extinção em massa no planeta.
Ao longo da sua evolução, eles adquiriram características cada vez mais sofisticadas, como as ampolas de Lorenzini, que detectam campos elétricos e alterações ínfimas nos parâmetros físicos e químicos da água. Mas centenas de milhões de anos de sobrevivência não prepararam os grandes predadores dos oceanos para o homem: o grande predador do planeta.
Fonte: O Eco
Comentários