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ARTIGO: ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – A falta de recursos não é o maior problema. Será?

MARINHO: “O MUNICÍPIO NÃO É APENAS A CÉLULA FUNDAMENTAL DA NAÇÃO, É ONDE O CIDADÃO ENFRENTA OS DESAFIOS DIÁRIOS DA VIDA”
  • Por José Bezerra Marinho

A realidade é o município. Isto todos sabem, embora esqueçam muitas vezes. Os estados e o próprio país são, na verdade, convenções.

O município não é apenas a célula fundamental da nação, é onde o cidadão enfrenta os desafios diários da vida, esperando sempre contar com a coragem e lucidez daqueles que decidem.

Por todos estes motivos, os Prefeitos municipais, qualquer que seja a dimensão ou a importância estratégica da sua cidade, são as mulheres e os homens responsáveis pelas ações primeiras e imprescindíveis na construção de um mundo melhor.

Estes desafios que, como se sabe, sempre existiram, tornam-se hoje decisivos e críticos. Cada vez fica mais difícil saber qual a melhor decisão a tomar.

As questões que têm uma clara resposta do tipo certo ou errado jamais chegam ao prefeito ou aos seus auxiliares diretos. São respondidas nos níveis operacionais das administrações. O que chega à mesa do prefeito nunca requer uma decisão simples. Qualquer que seja a decisão que se tome, sempre terão consequências positivas e negativas. Agrada a uns desagrada a outros, é a mais adequada hoje, mas pode causar prejuízos no futuro.

Isto é o tal do paradoxo. Duas verdades que, embora se contradigam, são igualmente válidas, ao mesmo tempo.

Conviver com elas, tomar a melhor decisão naquele momento, ter competência para levá-las à prática e administrar as suas consequências, é o desafio diário de qualquer administrador no mundo de hoje, mas, em especial, daqueles a quem cabe atender as primeiras urgências dos cidadãos, como é o caso dos governantes municipais.

Diante destas constatações, parece que, diferentemente do que quase todos pensam, o principal problema que eles enfrentam não é a falta de recursos financeiros. Estes dificilmente algum dia existirão em quantidade suficiente e jamais serão abundantes.

Qual o maior desafio então?

Certamente decidir cada vez melhor diante da escassez e dos paradoxos.

Alguns instrumentos são indispensáveis, como, por exemplo, um sistema de informações criteriosamente processado, confiável, e no tempo certo de uso.

Normalmente não se tem em conta que a tomada de decisão é, ao mesmo tempo, o fim de um processo e início de outro. Convive-se muito mais tempo com as consequências das decisões do que com o tempo que se levou para tomá-las.

Decidir é somente o início da conversa. Em seguida há um longo e difícil caminho:

  • Implantar corretamente a decisão;
  • Administrar suas consequências; e,
  • Monitorar e corrigir distorções e eventuais danos.

O que todos sabem, mas parece que não é devidamente considerado, é que as Pessoas estão no princípio, no fim e no meio de tudo isto. Homens e mulheres com competência interpessoal, técnica e política.

Se montar e administrar uma verdadeira Equipe de trabalho é uma tarefa dificílima em qualquer organização, ela se torna verdadeiramente dramática nas organizações públicas onde há de se atender às acomodações de forças políticas e onde a luta pelo poder é prato de todo dia.

É um desafio e tanto, é verdade, mas é possível, como muitos exemplos atestam, ter-se uma verdadeira Equipe, integrada e harmônica, lutando por uma causa comum.

O que não tem mais lugar é o improviso. É acreditar na sorte, apenas. É apostar no voluntarismo. Confiar somente na intuição.

As senhoras e os senhores prefeitos, claro que são líderes. A questão é que, exercitar eficazmente essa liderança, no meio da turbulência e instabilidade dos dias de hoje, exige mais do que qualidades natas ou apenas intuição.

Liderança é uma arte e é uma técnica ao mesmo tempo. Aliás, os gregos usavam uma só palavra – tekye para dizer as duas coisas.

Tratar as questões de relacionamento dos seus auxiliares, desenvolver seus atributos pessoais, buscar identificar causas comuns com as quais suas equipes se identifiquem e pelas quais estejam dispostas a lutar, são providências necessárias e decisivas para o êxito de qualquer administração.

Agora, reflita comigo sobre o seguinte: Hoje, a Tecnologia da Informação está presente em quase todos os âmbitos da vida humana. É inquestionável a permanente atualização de ferramentas e sistemas digitais para auxiliar a administração das organizações. Porém, não se percebe, ainda, que a Administração (Gestão, se preferir) é a Tecnologia das realizações humanas. Por mais sofisticados e inovadores que sejam os sistemas digitais, no fim das contas, eles são dirigidos por Pessoas. Elas é que terão de aplicá-los para obterem os Resultados que se deseja e espera.

E aí voltamos ao ponto que consideramos acima: as Pessoas estão no princípio, no fim e no meio de tudo isso.

Assim como a TI, a Tecnologia da Administração, vem sendo aplicada às Organizações. O que é inacreditável é que enquanto na TI se procura sempre a última versão dos aplicativos, na Administração, na maioria dos casos, ainda estamos usando princípios e pressupostos que foram criados por pessoas que nasceram na metade do século XIX, “os inventores da lâmpada elétrica, do telefone, do automóvel, os inventores da moderna administração nasceram no século XIX”, como lembra Gary Hamel, um dos principais consultores da atualidade.

Aceitar o novo as vezes é difícil, mas é ainda muito mais fácil do que abandonar o antigo. Nas administrações, o partido do passado é sempre mais forte que o partido do futuro. Mas, atenção: o presente é o futuro em preparação.

(*) Prof. José Bezerra Marinho, é Consultor de Organizações e Diretor da Escola da Assembleia Legislativa do RN

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