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Pesquisa mostra que sete em cada 10 alunos do RN apresentam níveis baixos de leitura

DADOS ESTÃO DISPONÍVEIS NO RELATÓRIO DE 10 ANOS DA HARVARD-BRAZIL. FOTO: CÍCERO OLIVEIRA

Com o aumento do uso e a popularização de aparelhos móveis com conexão à internet no Brasil, é possível imaginar que crianças e jovens estão cada vez mais informados e lendo mais a partir dos meios digitais. Entretanto, segundo o Relatório do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2018, a cada dez alunos do estado do Rio Grande do Norte, aproximadamente sete deles estão no nível básico de leitura, ou seja, o grau mais baixo de proficiência em leitura, caracterizado pela habilidade de reconhecer apenas palavras simples.

A ausência do desenvolvimento de habilidades de leitura pode resultar em grandes desafios para a continuidade e a manutenção dos estudos dos jovens, dificultando sua inserção no mercado de trabalho e também o acesso a espaços culturais e de lazer que envolvam a interpretação textual. Com o intuito de entender mais sobre essa questão, não só no estado do RN, a professora Cíntia Alves Salgado Azoni, do Departamento de Fonoaudiologia da UFRN, colaborou com a pesquisa Examining the effects of Covid-19 restrictions on literacy practices in a child’s home: a global survey study, realizada em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, que caracteriza e quantifica os impactos causados pela leitura em crianças de zero a onze anos, pertencentes a diferentes classes sociais, no período entre 2020 e 2021.

A professora destaca que as regiões Norte e Nordeste foram as que menos responderam ao formulário on-line, disponibilizado pela pesquisadora durante o período de coleta de dados. Majoritariamente, as respostas vieram de uma parcela da população brasileira mais privilegiada, ou seja, que têm acesso a ferramentas para responder ao questionário virtual, como smartphones e conexão à internet, o que torna o quadro ainda mais preocupante. “Veja que contradição, embora sejam famílias de maior nível socioeconômico, que responderam ao questionário, mesmo assim, a quantidade de livros e acesso nesses lares ainda é muito pior do que em outros países”, explica Cíntia.

Quando a equipe se deparou com os resultados parciais, visto que o estudo ainda está em andamento, os pesquisadores chegaram à conclusão de que, nesse segundo momento, seria necessário focar nas famílias de baixa renda que não conseguiram participar no primeiro momento, respondendo ao questionário on-line. “Agora, em 2022 e 2023, estamos procurando essas famílias nas escolas públicas, para investigarmos quais são essas práticas de literacia familiar, ou seja, o quanto os responsáveis estimulam essas crianças em ambiente familiar [para a leitura]”, diz Cíntia.

De acordo com o Relatório Nacional de Alfabetização Baseado em Evidências (RENABE/ME), publicado no ano de 2021, a fluência em ler pode ser estimulada muito antes do contato formal da criança com a escola. Quando os pais ou cuidadores lêem para uma criança, desde a mais tenra idade, já estão preparando-a para o desenvolvimento dessas práticas.

Falta de acesso

A pesquisa aponta que famílias que residem em áreas rurais e cidades menores têm menos acesso a livros, comparado com famílias que moram em capitais e grandes centros urbanos. Outro indicativo é que, nesse mesmo período, os lares brasileiros adquiriram mais livros digitais e jogos eletrônicos. Com a prática do isolamento social, mais adultos optaram por esse tipo de lazer. Entretanto, práticas de leitura voltadas às crianças diminuíram consistentemente. “Um dado bem pontual é que a família brasileira compra muito menos livros do que nas outras regiões onde a pesquisa foi implementada. Nós fazemos parte de uma cultura que não valoriza a leitura”, pontua a professora.

A Examining the effects of Covid-19 restrictions on literacy practices in a child’s home: a global survey study ainda afirma que uma escola de qualidade precisa oferecer oportunidades para que todas as crianças possam se tornar leitoras competentes e proficientes. É ressaltada ainda a necessidade de inserir novas estratégias, com o intuito de estimular a prática desde a educação infantil. Na 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil, realizada em todo território nacional no ano de 2019, alguns dados acerca dos hábitos de leitura no Brasil também corroboraram com o estudo desenvolvido pela professora da UFRN. Neste estudo nacional, 65% das crianças, de idades entre cinco e dez anos, relataram não ler mais por não saberem.

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