A agropecuária brasileira terminou 2024 com números recordes na produção de ovos e abate de bovinos, frangos e suínos. Considerando apenas pecuária, o abate de bovinos no ano passado cresceu 15,2% em relação a 2023.
Os dados fazem parte da Estatísticas da Produção Pecuária, levantamento divulgado nesta terça-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Em 2024, foram abatidas 39,27 milhões de cabeças de gado, 5,17 milhões a mais que o registrado em 2023. A última vez que o país tinha abatido um número tão grande de bovinos foi em 2013, quando o volume chegou a 34,41 milhões de cabeças.
De acordo com o IBGE, o recorde de 2024 é explicado pelo grande número de fêmeas abatidas (um recorde de 16,9 milhões de cabeças, 19% a mais que em 2023). Esse número foi impulsionado “por uma fase de baixa do ciclo pecuário, iniciada em 2022”.
Mato Grosso lidera o ranking estadual de abate de bovinos no ano passado, com 18,1% da participação nacional, seguido por Goiás (10,2%) e São Paulo (10,2%).
Exportação
A gerente da pesquisa, Angela Lordão, aponta que a demanda doméstica por carne é explicada pelo “fortalecimento da economia interna, melhoria das condições de emprego e renda, e a queda na taxa de desemprego”, ou seja, fatores que dão maior poder de compra à população.
Ao mesmo tempo, lembra a pesquisadora, “a demanda Internacional por carne também cresceu significativamente”.
“O Brasil ocupa as primeiras posições no ranking de países produtores e exportadores de carne, devido ao nosso rigoroso padrão sanitário”, justificou.
No ano passado foram exportadas 2,55 milhões de toneladas de carne bovina, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Um estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que a demanda internacional tem pressionado para cima o preço da carne no país.
A China foi o principal destino da carne bovina brasileira ao importar 52% do volume total enviado ao exterior – aumento de 10,6%.
Os Estados Unidos ficaram na segunda posição com 7,4% das nossas exportações – o país quase dobrou (+93,8%) as compras de carne brasileira de um ano para o outro. Emirados Árabes Unidos e Chile seguem na sequência de principais compradores.
Frangos
O abate de frangos alcançou 6,46 bilhões de unidades em 2024, expansão de 2,7% em relação ao ano anterior. Isso representa incremento de 172,73 milhões de unidades de frangos de um ano para o outro.
Os três estados da Região Sul lideram o ranking de abate de frangos, sendo o Paraná à frente, com 34,2% de participação nacional, seguido por Santa Catarina (13,8%) e Rio Grande do Sul (11,4%).
De todo o volume de frango abatido no país, 65% são consumidos internamente. Os demais 35% são exportados, fazendo com que o país seja o maior produtor do mundo. China, Emirados Árabes Unidos, Japão e Arábia Saudita são os principais destinos do frango brasileiro.
Suínos
O abate de suínos também foi recorde, com 57,86 milhões de cabeças. Em comparação com 2023, a expansão de 1,2% representa 684,24 mil cabeças a mais em 2024 do que em 2023.
Assim como no abate de frangos, a Região Sul lidera a de suínos. Santa Catarina figura na liderança, com 29,1% do abate nacional, seguido por Paraná (21,5%) e Rio Grande do Sul (17,1%).
A pesquisadora Angela Lordão detalha que 2024 foi duplamente favorável aos produtores de suínos.
“Foi um bom ano para a suinocultura, com melhor margem para o produtor. O preço da carne subiu, e os custos com alimentação foram menores”.
China e Filipinas são os principais compradores de carne suína do Brasil, ambos com mais de 18% do total exportado.
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, tanto a exportação de cortes de suínos como a de frangos foram recordes em 2024.
Último trimestre
Apesar de números recordes no acumulado do ano, o abate de bovinos, frangos e suínos apresentou retração no quarto trimestre de 2024 ante o terceiro trimestre.
No caso dos bovinos, o recuo foi de 7,9%. Para os frangos, queda de 1,1%; e para suínos, 4,6% abaixo.
Ovos
Em 2024, a produção de ovos de galinha também foi recorde. O volume chegou a 4,67 bilhões de dúzias, expansão de 10% em relação ao ano anterior.
Especificamente no quarto trimestre, a produção de ovos de galinha alcançou 1,2 bilhão de dúzias, representando aumento de 0,2% ante o terceiro trimestre.
Esse dado faz do último trimestre de 2024 o período de três meses em que mais se produziu ovos de galinha no Brasil na série histórica do IBGE, iniciada em 1987.
“Ao longo de 2024, o setor avícola foi impulsionado pelos aumentos nos preços relacionados a outras proteínas, com demandas internas e externas aquecidas”, assinada o IBGE.
De todos os ovos produzidos em 2024, 82,1% foram destinados ao consumo e 17,9% à incubação.
Os setores de Comércio e Serviços do Rio Grande do Norte iniciaram 2025 com desempenho positivo, superando a média nacional e se consolidando entre os destaques da economia nordestina. Segundo os dados das Pesquisas Mensais de Comércio (PMC) e de Serviços (PMS) do IBGE, o comércio varejista do estado cresceu 4,3% em janeiro, enquanto o setor de serviços registrou uma expansão de 6,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, o melhor resultado do país. No caso do varejo potiguar, o crescimento superou a média nacional de 2,2%.
“O crescimento reflete uma combinação de fatores, incluindo a recuperação gradual do setor varejista a partir de 2024, incentivos ao consumo, como a maior oferta de crédito, e melhoria nos indicadores de emprego e renda”, explica o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz
Por sua vez, o setor de serviços do estado teve a maior alta do Brasil em janeiro, ficando também acima da média nacional que foi de 1,6%. Foi o 10º mês consecutivo de crescimento da receita de serviços no RN, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
O avanço foi puxado principalmente pelos Serviços de informação e comunicação com crescimento de 7,5%, devido à alta demanda por tecnologia e serviços digitais. As atividades de turismo, por sua vez, cresceram 2,0%.
As projeções da Fecomércio RN para 2025 apontam que o comércio e os serviços do RN devem manter um ritmo de crescimento entre 4% e 6%, sustentados pelo fortalecimento do turismo, investimentos em infraestrutura e o avanço da digitalização dos negócios.
O endividamento e a inadimplência das famílias natalenses seguiram em queda pelo segundo mês consecutivo, de acordo com os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em fevereiro de 2025, o percentual de famílias endividadas ficou em 84,9%, uma redução de quase três pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. A queda representa menos 5,9 mil famílias com dívidas.
A inadimplência apresentou uma retração ainda mais significativa. Enquanto em fevereiro de 2024, 56,9% das famílias tinham contas em atraso, neste ano, o índice caiu para 37,8%, representando uma diminuição de 19,1 pontos percentuais e um universo de mais de 50 mil famílias que conseguiram equilibrar suas finanças.
“Os dados da Peic de fevereiro mostram uma queda significativa na inadimplência, indicando que as famílias natalenses estão conseguindo gerenciar melhor suas dívidas. Esse é um sinal positivo para a economia, pois reflete um consumo mais equilibrado e um alívio para o comércio”, afirma o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz.
Conforme análise do Instituto Fecomércio RN (IFC), a queda no endividamento e na inadimplência pode estar associada a fatores como maior controle orçamentário das famílias, renegociação de dívidas e programas de educação financeira. Além disso, a recuperação do mercado de trabalho e a redução da inflação contribuíram para esse cenário mais favorável.
Capital potiguar segue tendência regional e redução pode continuar O comportamento do endividamento no Rio Grande do Norte segue uma tendência observada em estados vizinhos. No Ceará, por exemplo, os índices continuam elevados, com 89,4% das famílias endividadas em dezembro de 2024. Pernambuco e Paraíba apresentaram patamares inferiores, mas ainda altos, variando entre 81,5% e 87%.
Para os próximos meses, espera-se que o nível de endividamento e inadimplência se mantenha estável ou apresente uma leve redução, dependendo de fatores como crescimento econômico, controle da inflação e novos incentivos à renegociação de débitos.
“Driblar os preços.” É assim que Ionara de Jesus, de 43 anos, tenta explicar sua única estratégia para alimentar a casa onde vive com três filhos, de 24 (uma moça acamada), 15 e 13 anos, no Parque Santo Antônio, na periferia de São Paulo. Enquanto a DW atravessa os corredores de um supermercado do bairro da Zona Sul com ela, porém, dá para ver que, com a atual inflação, os dribles estão sendo menos possíveis.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação dos alimentos chegou a 7,69% no ano passado – um valor bem acima dos 1,11% registrados em 2023. No acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses até fevereiro, houve uma pequena desaceleração em comparação com janeiro (7,49%), mas seguiu em alta 7,12%.
Realidades como a de Ionara têm preocupado o governo federal desde o fim de 2024, mas, depois que atingiram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se transformaram num verdadeiro entrave. Na última investida, há alguns dias, o Planalto retirou impostos de importação de alguns produtos básicos, como café, açúcar, azeite de oliva e sardinha.
“Ainda que uma inflação de alimentos caia, inevitavelmente, na conta de qualquer governo, fato é que a atual administração tem pouca responsabilidade no que está acontecendo”, explica o economista André Braz, do FGV-Ibre, no Rio de Janeiro.
Segundo Braz, a alta no preço dos alimentos se deve a fatores que vão de resquícios da pandemia de covid-19 a questões climáticas, que fizeram produtos como o café e o azeite dispararem, por exemplo. “A única coisa que podemos culpar esse governo é pela valorização do dólar causada pela incerteza fiscal”, continua.
Mudança no carrinho
Vinculada há cerca um ano ao POT (Programa Operação Trabalho), da prefeitura de São Paulo, desde que ficou viúva, Ionara de Jesus recebe R$ 1,5 mil mensalmente – um salário mínimo – fazendo algumas atividades esporádicas do projeto, como fiscalizar barracas de feiras de rua ou tecer tapetes.
Como a renda não é suficiente para alimentar a família o mês inteiro, ela confia em doações de cestas básicas para completar a dispensa. No bairro, esse circuito é intermediado pelo Instituto Josefina Bakhita, ligado à ONG Ação da Cidadania, sediada no Rio de Janeiro.
“Algumas coisas que eram comuns na mesa daqui, como café ou ovos, por exemplo, viraram artigos de luxo nos últimos meses”, lamenta a diretora da entidade, Marisa Munção, lembrando do aumento de 50% do primeiro no acumulado de 12 meses registrado em janeiro e de mais de 40% no preço do segundo em fevereiro.
É por isso que ali, diante das gôndolas, os “dribles” de Ionara têm que ser certeiros. Um deles é no feijão que, ao invés do tipo tradicional (R$ 7 por quilo), agora ela substitui pelo fradinho, quase pela metade do preço. “E eu vou adicionando água toda vez que requento a panela. Vai rendendo mais”. Depois, diante das farinhas de trigo, ela corre para pegar um pacote, explicando que, com ele, dá para “inventar” um tipo de “bolinho de chuva” que sempre ajuda a matar a fome.
Outro “drible” é sobre o café que, vendido por R$ 32 em uma embalagem de 500 gramas, é trocado há alguns meses por uma caixinha de chá – dessa vez, de capim-santo, mas podia ser de camomila, diz Ionara. Mudar o sabor é um jeito de burlar o desejo. “Estamos aprendendo a depender menos de cafeína”, sorri, encabulada. Alguns minutos depois, quando ela retorna involuntariamente ao corredor do produto, revela à DW outra estratégia recente. “A gente reveza lá em casa: cada dia um de nós toma café. Daí o pacote dura mais.”
Já alguns itens que faziam parte da compra doméstica – ultraprocessados, como bolachas e salgadinhos, mas também laticínios, como iogurtes e queijos – foram sumariamente tirados da lista. “Se não sobra dinheiro nem para comprar fruta na feira, como vou comprar essas coisas?”, questiona.
Carcaça de frango e suã de porco
A advogada Léa Vidigal, que acabou de lançar o livro Direito Econômico e Soberania Alimentar, lembra como, em meio à alta no preço dos alimentos, o risco de que famílias mais pobres tenham um acesso precário às proteínas se intensifica, “o que é grave, porque a falta delas tem uma série de prejuízos à formação das crianças, por exemplo”, observa. “A desigualdade se mede muito pela qualidade dos alimentos que as pessoas das diferentes classes comem.”
Na casa de Ionara, a presença diária de carne vermelha na mesa cessou há mais ou menos seis meses, quando o preço dos bovinos disparou além do que ela podia pagar. Segundo o IBGE, essa elevação foi de mais de 20% só em 2024. Hoje, entre dois e três dias da semana, ela e os filhos comem apenas arroz e feijão, sem nada mais.
“Eles não gostam de salsicha”, lamenta, contando que, com o ovo mais caro, ela perdeu um dos substitutos comuns das classes mais baixas diante da impossibilidade de comer carne.
Mas Ionara tem outras estratégias: uma é a carcaça de frango, que não se vende no supermercado, mas é facilmente encontrada em granjas do bairro. Custa cerca de R$ 30 e pesa em torno de 4 kg. “E daí a gente inventa, né? Faz uma sopa, refoga, cozinha uma canja, e ela vai durando umas duas semanas. Às vezes até mais.”
Outra é a espinha do porco, que se encontra nos açougues pelo nome de suã. É uma mistura de osso, carne e gordura suína. Ionara o encontra por R$ 10 o quilo. “A gente faz a festa com isso! “, sorri de novo. Com as doações dando conta do suprimento de carboidratos (macarrão, arroz, farinha), uma vez ou outra ela tem conseguido comprar ovos ou até mesmo peças bovinas, como acém (R$ 32 o quilo). “Mas o dinheiro ainda é muito pouco.”
De fato, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), uma cesta básica em São Paulo estava custando cerca de R$ 851 em janeiro deste ano – ou 56% de um salário mínimo. Segundo o Dieese, diante da inflação, o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 7.156,15.
Boi por frango
Do outro lado da metrópole, mas ainda na periferia – no bairro da Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte -, a casa do motorista de aplicativo Luiz Benedito, de 40 anos, também está comendo diferente há alguns meses. Nela vivem, além dele, a esposa, Suelen Camargo, de 36 anos, e os dois filhos, uma garota de 13 anos e um menino de 3. Na pandemia, Luiz trocou um emprego estável em uma construtora civil, de ajudante de pedreiro, pelas longas jornadas diárias ao volante. Valeu a pena, ele acredita. “Meu salário mais do que dobrou”, revela, contente. Hoje, sua renda fica em torno de R$ 4 mil.
No entanto, assim como Ionara, não está dando para comer carne bovina todos os dias. “Basicamente comemos só frango agora”, conta Luiz, defronte à estufa do açougue de um pequeno mercado da região. Do outro lado do balcão, o açougueiro ouve a conversa com a reportagem e adiciona: “Não é só ele. Todo mundo está fazendo isso aqui agora.”
“É que, além de ser mais barato, o frango tem mais proteína do que qualquer carne vermelha”, prossegue Luiz. “Minha esposa está até aproveitando o momento para emagrecer.”
Os rendimentos um pouco mais altos dão a ele algumas alternativas impossíveis a quem tem uma renda semelhante a de Ionara. O café, por exemplo, não rareou, porque “como a gente é pobre desde sempre, não se importa muito com rótulo. É sempre o mais barato mesmo”, diz enquanto coloca no carrinho um pacote que, na promoção, sai por R$ 25 o quilo. A mesma coisa com o arroz: ele e Suelen tinham uma marca preferida que, no ano passado, chegou a custar R$ 40. “Não dava para comprar. A gente trocou por outra. [A qualidade] Era pior, mas a conta fechava.”
Processados, porém, entraram em uma negociação tensa com os filhos, que antes consumiam iogurtes, salgadinhos e cereais com frequência. Hoje, como a compra básica do mês ficou mais cara, sobra pouco dinheiro para esse tipo de item, e a saída têm sido regulá-los. “Tem dia que tem e tem dia que não tem. Paciência.”
Na avaliação de André Braz, do FGV-Ibre, há uma explicação econômica central para isso: o fato da comida ter pesos diferentes nos orçamentos domésticos. “As classes mais altas, além de protegidas da inflação pelos rendimentos de todos os seus investimentos, comprometem sua renda com uma cesta maior de consumos, que vão dos serviços a bens duráveis”, diz. “Mas, quanto menor a renda, menos espaço para outra despesa que não seja comer. Logo, se a pessoa só compra comida, ela só pode sentir a inflação da comida.”
Uma estratégia comum para lidar com isso é recorrer a compras por atacado. Com os alimentos mais caros, Luiz, por exemplo, mudou recentemente de hábito para produtos de limpeza ou de higiene pessoal: duas vezes por mês, ele vai a mercados atacadistas, que se tornaram populares nas periferias de São Paulo, em busca de grandes embalagens. Lá ele compra detergente, água sanitária, desinfetante e xampu. Os galões variam entre 5 e 10 litros.
“É um dilema, porque, de um lado, você precisa ter o dinheiro ali na hora para pagar. Nem sempre a gente tem, né? Mas, por outro, eles rendem por muito mais tempo em casa. Alguns até mais, porque a gente joga água para durar mais um pouco.”
“Suco está com preço de vinho”
Na casa da gestora de marketing Marcella Dragone, 40 anos, na Vila Madalena, região famosa pelos bares e restaurantes da Zona Oeste de São Paulo, a comida chega de diversos lugares. Um açougue entrega periodicamente as carnes para alimentação da família, composta por Marcella, a filha, de 7 anos, e o marido, que gerencia a área de atendimento de um banco. Um serviço por assinatura supre os orgânicos, dos quais ela não abre mão desde que a garota nasceu – e que ficou mais caro no começo de 2025. O que falta ela costuma comprar em um hortifruti perto de casa, e é ali onde sente a inflação dos alimentos na pele. “Mas eu não faço muita conta”, admite.
Quando o preço aperta, a solução tem sido comprar “sob demanda” – caso de salames e presuntos crus que, antes, estavam sempre à mão na dispensa. “Agora só compramos essas coisas quando vamos receber alguém em casa, amigos ou familiares.” Em outros momentos, ela troca as marcas de antes. “Nesse caso, não precisa deixar de consumir: é só baratear o próprio produto”, explica.
O iogurte, por exemplo, foi um dos substituídos: saiu um fabricante importado cujo pote de 200 gramas custa R$ 32 – “uma fortuna!”, exclama Marcella – por vários copinhos de uma conhecida marca nacional, cerca de R$ 2 cada. A mesma coisa com o suco de uva que, até alguns meses atrás também tinha rótulo certo, independente do custo.
“Mas o suco está com o preço do vinho agora”, comenta ela. Na geladeira do hortifruti se vê, enorme, o valor de R$ 32. “Custava R$ 20 até alguns dias atrás!”. A solução está logo ali: a bebida feita pelo próprio supermercado – e de sabor laranja, “que está saindo mais em conta”. O preço, no dia em que conversou com a DW, estava em R$ 15.
Mossoró registra os preços mais altos de combustíveis no Rio Grande do Norte, levando vereadores a questionarem um possível cartel no setor. Em comparação com cidades vizinhas, a diferença chega a R$ 1 por litro, prejudicando motoristas e impactando a economia local. Parlamentares cobram explicações e medidas para frear os aumentos, apontando a falta de concorrência como um dos fatores que mantêm os valores elevados.
Durante sessão na Câmara Municipal, vereadores relataram a insatisfação da população com a disparidade de preços. Para eles, o alinhamento nos valores cobrados pelos postos sugere que não há livre concorrência, tornando o mercado desvantajoso para os consumidores.
O vereador Raério Cabeção (União) afirmou que a situação é inaceitável e questionou a ausência de fiscalização. “Como Mossoró pode ter o combustível mais caro do estado enquanto cidades menores e mais afastadas da refinaria vendem mais barato? Isso precisa ser investigado”, declarou.
Outro ponto levantado foi o impacto do aumento do ICMS sobre os combustíveis no estado, que passou de 18% para 20%. Segundo os parlamentares, a medida pesou no bolso da população, mas não justifica a diferença tão grande entre os preços praticados em Mossoró e em outros municípios. “O imposto subiu para todo o estado, mas aqui os valores estão sempre acima da média. Não há justificativa plausível para essa diferença”, afirmou o vereador João Kennedy (Solidariedade).
Diante das denúncias, a Câmara Municipal de Mossoró deve encaminhar pedidos de explicação a órgãos de fiscalização, como o Procon e o Ministério Público, cobrando investigações sobre a possibilidade de um cartel operando na cidade. Além disso, vereadores estudam propor uma audiência pública para debater a questão com representantes do setor e especialistas em mercado de combustíveis.
Os motoristas de Mossoró seguem pagando mais caro para abastecer, enquanto aguardam medidas concretas para reduzir os preços e garantir maior transparência no setor.
As tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os Estados Unidos entraram em vigor nesta quarta-feira (12/3), o que provocou medidas de retaliação da União Europeia (UE) e a irritação da China, que promete fazer o “necessário” para defender seus interesses. O Brasil, o segundo maior fornecedor de aço do país, também será impactado.
O presidente Donald Trump, partidário de uma política econômica agressiva em prol de seu projeto “Estados Unidos em Primeiro Lugar”, prometeu em fevereiro que adotaria tarifas contra os dois metais e seus derivados sem exceções, o que inclui Canadá e México, parceiros de Washington no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC).
A UE respondeu nas primeiras horas desta quarta-feira com a renovação de tarifas sobre produtos americanos que havia adotado em 2018 e 2020, mas que posteriormente ficaram sem efeito.
Além disso, a UE complementou as medidas com um novo pacote de tarifas contra produtos dos Estados Unidos, que inclui o ‘bourbon’, motos Harley Davidson e iates.
“Acreditamos de modo veemente que, em um mundo repleto de incertezas geopolíticas e econômicas, não é do interesse comum sobrecarregar nossas economias com tarifas”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que “as ações dos Estados Unidos violam seriamente as regras da (Organização Mundial do Comércio), prejudicam gravemente o sistema comercial multilateral baseado em regras e não conduzem à solução do problema”.
Ela acrescentou que a China – maior produtor mundial de aço – “adotará todas as medidas necessárias para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos”.
Decepção e lamento
O Reino Unido afirmou que está “decepcionado” com as medidas dos Estados Unidos que entraram em vigor 1h01 de Brasília, mas anunciou que não adotaria medidas de retaliação imediatas.
“Estamos focados em uma abordagem pragmática e em negociar rapidamente um acordo econômico mais amplo com os Estados Unidos para eliminar as tarifas adicionais”, declarou o secretário de Comércio, Jonathan Reynolds.
O Japão lamentou não ter sido excluído das tarifas americanas, mas não anunciou represálias até o momento, segundo o porta-voz do governo, Yoshimasa Hayashi.
O país mais afetado pelas tarifas americanas será o Canadá, que fornece metade das importações de alumínio e 20% das importações de aço dos Estados Unidos, segundo a consultoria EY-Parthenon.
No caso do alumínio, Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Bahrein e China, que representam entre 3% e 6% das importações americanas, também sofrerão as consequências.
Brasil, Índia, Argentina e México abastecem o mercado em menor escala, mas “ainda assim podem sofrer interrupções na cadeia de suprimento à medida que os compradores ajustem suas estratégias de abastecimento”, alerta a consultoria.
No setor de aço, Brasil (17% das importações) e México (10%) serão os mais afetados depois do Canadá. Em seguida, aparecem Coreia do Sul, Alemanha e Japão.
Os Estados Unidos importam quase metade do aço e do alumínio utilizados no país por indústrias tão diversas como a automotiva, aeronáutica, petroquímica e produtos básicos de consumo, como as conservas.
Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem utilizado as tarifas como uma ferramenta de negociação com seus parceiros comerciais, como um incentivo para que as empresas se estabeleçam no país e como fonte de receita para as finanças federais.
O presidente americano também anunciou tarifas às importações de aço e alumínio durante seu primeiro mandato (2017-2021).
Mas, ao contrário do que aconteceu na época, agora as medidas incluem uma gama mais ampla de produtos metálicos e são aplicadas universalmente, sem as exceções que antes beneficiaram Canadá, México ou Austrália, e sem um sistema de cotas, reservado então a Brasil e Argentina, por exemplo.
Além disso, o sistema é acumulativo, ou seja, será adicionado às tarifas existentes.
China, Canadá e México sofrem com o frenesi tarifário, com 20% adicionais de tarifas alfandegárias para o primeiro e até 25% para os outros dois países.
Trump acusa os três de não fazer o suficiente para impedir a entrada ilegal de fentanil e, no caso de seus vizinhos, exige mais esforços para conter a imigração ilegal.
“Incerteza”
Após semanas de negociações, ele concordou em isentar México e Canadá dos 25% de tarifas aos produtos contemplados no T-MEC até 2 de abril.
Na data, em tese, entrarão em vigor o que Trump chama de tarifas “recíprocas”, projetadas para taxar os produtos de um país quando entram nos Estados Unidos no mesmo nível que esta nação impõe aos mesmos bens americanos que importa.
Os anúncios e ameaças tarifárias provocaram nervosismo nas Bolsas de Valores. Nos últimos dias, Wall Street registrou a perda de quase todos os lucros obtidos desde a eleição de Trump em novembro, em um contexto de temor de recessão nos Estados Unidos.
Também existe o risco de inflação, afirma Clarke Packard, pesquisador do Cato Institute. Packard não descarta que “as tarifas se reflitam rapidamente nos preços” e teme que a sucessão de anúncios crie “uma enorme incerteza” sobre a trajetória da economia americana.
Em fevereiro de 2025, Natal registrou o segundo maior custo da cesta básica entre as capitais nordestinas analisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor atingiu R$ 648,58, representando um aumento de 2,28% em comparação com janeiro.
No mesmo período , entre janeiro e fevereiro de 2025, as maiores elevações entre as registradas no país foram em Recife (4,44%), João Pessoa (2,55%), Natal (2,28%) e Brasília (2,15%).
Já no comparativo com o mês de fevereiro do ano passado, o preço da cesta básica subiu 11,96% na capital potiguar, acumulando uma alta de 5,06% nos dois primeiros meses deste ano.
Apesar do aumento expressivo, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, que é realizada mensalmente pelo Dieese, mostra que o custo da cesta básica em Natal foi o quinto menor entre as 17 cidades pesquisadas.
O Rio Grande do Norte vai estabelecer nesta terça-feira (11) uma nova parceria de transporte marítimo entre os portos de Natal e Setúbal, em Portugal. A parceria será formalizada por meio de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Companhia Docas do RN (Codern) e a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), com mediação do Governo do Estado.
A iniciativa busca criar uma rota comercial entre os dois terminais portuários, com perspectivas de linhas frequentes, facilitando o fluxo de mercadorias e fortalecendo as relações comerciais entre o Brasil e Portugal.
A assinatura do termo de cooperação acontece no porto de Setúbal e contará com a presença do vice-governador do RN, Walter Alves, que cumpre missão em Portugal. O documento será assinado pelo presidente da Codern, Paulo Henrique de Macedo Carlos, e pelo presidente do Conselho de Administração da APSS, Carlos Alberto do Maio Correia.
A parceria entre a Codern e a APSS propiciará melhorias na infraestrutura dos portos administrados pelas companhias signatárias do acordo, além da troca de informações, estatísticas e visitas mútuas, visando estabelecer uma rota comercial. Isso inclui inovação, informação tecnológica sobre logística, marketing, meio ambiente, operação portuária, projetos, sistemas de informação e gestão portuária.
“Essa cooperação deverá proporcionar aos gestores, técnicos e demais profissionais envolvidos no Porto de Natal novas oportunidades com um intercâmbio que contribuirá significativamente para a expansão da atividade econômica no Rio Grande do Norte, e até mesmo no Nordeste, uma vez que o acordo inclui troca de conhecimento e outras parcerias voltadas à infraestrutura, à ciência e à tecnologia portuária”, afirmou Walter Alves.
O termo de cooperação proporciona, para o Porto de Natal, a parceria com a administração de um dos principais terminais portuários portugueses.
O Porto de Setúbal movimentou, em 2024, 6,5 milhões de toneladas de mercadorias.
“É com grande entusiasmo que celebramos a assinatura deste Acordo de Cooperação Técnica entre a Companhia Docas do Rio Grande do Norte e a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra. Este momento marca o início de uma parceria estratégica que, sem dúvida, trará impactos significativos para o desenvolvimento econômico do nosso estado e do Brasil”, destacou o presidente da Codern.
“Esse acordo não trata apenas da criação de uma nova rota comercial, mas também da troca de conhecimento, de tecnologia e de boas práticas na gestão portuária. Com isso, aprimoramos nossas operações, otimizamos processos logísticos e garantimos um ambiente de negócios mais competitivo e eficiente. Quero agradecer ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte pelo apoio inestimável na mediação dessa aproximação”, acrescentou Paulo Henrique de Macedo Carlos.
O secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Hugo Fonseca, destacou que, para o estado, esse acordo é oportuno, uma vez que possibilita o aumento das transações comerciais entre os dois portos e o estabelecimento de uma rota comercial essencial para o RN. “Intensificar esse tipo de relacionamento é importante, por isso o governo do RN, por meio da SEDEC, contribuiu na mediação dessa aproximação”, comentou.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte, Guilherme Saldanha, salientou que a cooperação entre as companhias administradoras dos terminais portuários terá um resultado positivo para a economia do Rio Grande do Norte.
“Essas relações e parcerias terão repercussões proveitosas para o desenvolvimento potiguar, que é um grande exportador de frutas”, disse. Ele citou que, em 2024, o Porto de Natal teve um crescimento de 104% nas operações, e uma parte significativa desse aumento foi em decorrência das exportações de produtos da agropecuária do RN.
“Com essa nova rota, haverá um crescimento das exportações pelo Porto de Natal, com o consequente aumento do emprego, da renda e de oportunidades no Rio Grande do Norte, ao reduzir os custos para os produtores e exportadores de frutas”, apontou o secretário.
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