O sobrenome complicado sempre fez Tulius Tsangaropulos se destacar em todo ambiente que chegava. E foi justamente essa a primeira coisa que ele precisou abrir mão quando conseguiu alçar o que até aqui é o maior voo de sua carreira como jornalista: atuar como correspondente internacional durante uma edição dos Jogos Olímpicos.
Agora assinando matérias como Tulius Marcius, o potiguar de sobrenome grego está completando um mês da missão de reportar para o Brasil tudo o que acontece na China, uma das maiores potências olímpicas do mundo. Tulius contou com experiências locais na InterTV Cabugi, Novo Jornal e TV Ponta Negra, desembarcou na Ásia depois de participar de uma seleção do canal por assinatura SporTV, que procurava jovens jornalistas para a cobertura dos Jogos Olímpicos do Rio.
Ele concorreu com quase 4 mil jornalistas de todo o país, e foi selecionado junto com outros sete profissionais. Era só o começo da maior viagem de sua vida. “Estou muito feliz com essa experiência de trabalhar numa grande emissora, conhecer antigos ídolos e um lugar totalmente diferente, que não estava nos meus planos”, comemora Tulius, que falou com o NOVO via WhatsApp direto da China.
“Nunca tinha pensado em viajar para a Ásia e conhecer uma cultura totalmente diferente. O legal também tem sido trabalhar em várias vertentes do jornalismo: produção, edição, sendo produtor, cinegrafista”, diz. A tarefa é teoricamente simples: traduzir para a gente o que pensam, planejam e dizem os chineses sobre os Jogos no Brasil. O problema é como descobrir tudo isso.
Na China não é tão comum achar quem fale inglês pelo meio da rua. Até para comer, pagar contas e fazer coisas básicas Tulius tem se virado de uma maneira inusitada. “No restaurante eu tenho que ficar olhando as fotos das comidas, mas às vezes vêm umas coisas estranhas e acaba que você não sabe o que está comendo. Por isso eu meio que decorei alguns caracteres, como o de frango, o de carne e o de porco, aí fico apontando e dizendo o que eu quero”, conta.
“Meu maior problema é a barreira da língua e a burocracia. Tudo aqui tem alguma dependência do governo. Tudo precisa de carimbo, é tudo escrito em chinês – porque ninguém fala inglês -, e tudo está relacionado com política”, diz. A China vive sob uma ditadura comunista, sendo um dos seis únicos países do mundo que hoje se declaram socialistas. Por isso o acesso às informações no país é restrito e o trabalho dos jornalistas é feito sob censura do governo.
Sites como Google, Facebook e Wikipedia, por exemplo, são bloqueados pelo governo chinês, o que dificulta a comunicação daquele povo com outras culturas – e, principalmente, outros sistemas políticos.
Sonho e aprendizado
Antes de viajar, Tulius, que havia deixado Natal para ir morar em São Paulo, passou quatro meses no Rio de Janeiro participando de um treinamento na Globo e nos canais SporTV. Lá, conheceu ídolos da profissão, que o ajudaram na missão de partir rumo ao Oriente.
Por causa do bloqueio do governo, o acesso à China não é tão fácil para profissionais de imprensa. A Globo, por exemplo, tem apenas um correspondente por lá. A função, que hoje é de Tulius, já foi desempenhada por Sônia Bridi, Pedro Bassan e Edgar Alencar, jornalistas com dos quais ele absorveu experiências e dicas de como sobreviver no país de Mao Tsé-Tung.
As restrições, todavia, têm lhe trazido coisas boas. Na China, Tulius é, além de repórter, cinegrafista, editor e produtor de suas reportagens. O apartamento pago pela emissora é seu estúdio e todo o material humano que ele conta na Ásia é ele mesmo. “Tenho certeza que voltarei um profissional diferente pro Brasil”.
Reportagem: Novo Jornal