Por Elane Nascimento
Quer conhecer a que, talvez, seja a orla marítima urbana mais feia do Brasil?
Simples: venha à Natal, e veja o filme de terror que há anos assusta nativos e turistas. Tamanha é a sua “feiura”!
Um vídeo que circula em grupos de WhatsApp, depõe contra o status de Natal como cidade turística, ao mostrar uma panorâmica da orla principal da capital potiguar, que pode ser traduzida como um “favelão” no lugar em que deveria existir feição urbanística de destaque, pelo menos nos moldes que se verifica na orla da vizinha João Pessoa.
Assista:
Sem atratividade e evolução, a orla de Natal segue na decadência, sem atrativos para turistas, sem agradar até mesmo a população. Caminhadas no calçadão, encontro com amigos à beira-mar, isso já foi realidade do lado de cá, mas o tempo passa e pede mais e o MAIS não aconteceu.
Entrou governo, saiu, assumiu outro e, para “mostrar serviço, vamos pintar um canteiro aqui e outro acolá”…
A atual gestão municipal está erguendo a bandeira da modernização e deixando claro que seu principal objetivo, será trabalhar no Novo Plano Diretor de Natal. Para isso, ciclos de oficinas foram ministradas à população para apresentar e debater propostas. O próprio Álvaro Dias, prefeito do Município, apresentou suas ideias em discussões na Câmara dos vereadores e no Tribunal de Justiça do RN.
“A última revisão foi em 2007 e, pela lei, as revisões têm de ser feitas de quatro em quatro anos. Ao longo dos últimos 15 anos, as dificuldades e restrições impostas pelo Plano, fizeram com que a capital perdesse mais de 300 mil habitantes, arrecadação de ISS, IPTU, entre outros. Municípios vizinhos, como Parnamirim, São Gonçalo, Extremoz e Macaíba têm crescido diariamente e nós só perdendo”, disse o prefeito durante apresentação no TJ.
Todavia, enquanto uns clamam por mudanças, há quem queira e procure “liderar o extremo atraso”.
Um clássico exemplo da decadência e apego à “feiura”, é a tentativa de manter o monte de entulho do que foi o Hotel Reis Magos de pé. Sem serventia, o local abriga marginais, focos para o Aedes Aegypti se proliferar e disseminar Dengue, Chicungunya e Zika à vontade.
À favor do atraso, a petista Natália Bonavides, classifica as ruínas como “símbolo do turismo potiguar”. Em sua conta na rede social Twitter, Bonavides defendeu o tombamento do Hotel no último dia 16 de setembro. “Atualmente o prédio encontra-se em estado de abandono, por isso a necessidade de tombamento para sua preservação histórica”, disse.
A questão já foi amplamente debatida e várias entidades culturais e turísticas já “bateram o martelo” e explicaram que o tombamento não é viável. O procurador geral do Município, Carlos Castim, detalhou os motivos que levaram a Prefeitura a defender a demolição do prédio, uma vez que não foi constatado valor histórico, cultural, arquitetônico e urbanístico. “Os diversos estudos, laudos e perícias feitos pelos órgãos competentes atestaram essa realidade. Além disso, o Conselho Municipal de Cultura também apoia a derrubada. Também temos um parecer do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que não se opõe à demolição, bem como uma decisão judicial do Tribunal Federal da 5ª Região nesse sentido. A última etapa a ser vencida é a de um processo no âmbito do Governo do Estado, que precisa referendar a decisão do Conselho Estadual de Cultura. Esperamos a sensibilidade da governadora Fátima Bezerra. Até hoje, nenhum chefe do executivo estadual se manifestou de forma contrária a um parecer do conselho”, disse o procurador.
Verticalização
O prefeito, Álvaro Dias, durante apresentação do Plano Diretor, na Câmara Municipal, defendeu a Verticalização da Orla de Natal considerada “assustadora”, se comparada às orlas de Fortaleza, Recife e a vizinha João Pessoa. O objetivo do prefeito, é entregar o documento final para análise dos vereadores até o mês de novembro.
“Sou a favor da verticalização da orla. Verticalizando e construindo edifícios, vamos trazer a população para morar na orla marítima da cidade e, com isso, vamos trazer investimentos, bares, restaurantes, pousadas, que vão modernizar a orla marítima”, defendeu Álvaro Dias. “É uma orla feia, decadente e prejudica a nossa cidade. Em Recife, as pessoas caminham a noite na orla porque é habitada. Em Natal, a orla assusta as pessoas e poucas pessoas frequentam. Isso é por causa da verticalização que é proibida. Temos que modernizar e avançar. E vai avançar”, garantiu.
Enquanto isso…
A vereadora do PT Divaneide Basílio, que se posicionou contra o projeto de modernização e crescimento da cidade, convocou a arquiteta e coordenadora adjunta do Fórum Direito à Cidade/Natal, Amíria Brasil, também de bandeira vermelha, para defender seu ponto de vista sustentando que: “podemos imaginar quem estaria dentro desses prédios: seriam as pessoas das comunidades tradicionais? Tem-se falado muito em adensar a orla para garantir que as pessoas morem perto do trabalho, mas as pessoas que moram na orla, hoje, elas já moram perto do trabalho”, afirma.
Porém, a proposta do plano não é “substituir a população”, mas trazer revitalização, modernidade, melhorias na circulação tanto para moradores quanto à população em geral e turistas, além de fomentar a economia e o crescimento na região.
Vamos modernizar e avançar ou continuar “pintando meio-fios”?