Lançado em outubro, o livro A Escolha, Como um Presidente Conseguiu Superar Grave Crise e Apresentar Uma Agenda Para o Brasil, reúne conversas entre o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o filósofo Denis Lerrer Rosenfield sobre os bastidores da política antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Na obra, Temer conta que manteve contato com militares, como o general Eduardo Villas Boas, e o chefe do Estado Maior da Força, general Sérgio Etchegoyen, entre 2015 e 2016. Em entrevista ao Estadão, Rosenfield revela o desgaste da relação das Forças Armadas com o PT em razão da Comissão Nacional da Verdade.
De acordo com reportagem assinada por Marcelo Godoy, os militares tinham receio de que Dilma tentasse mudar a Lei da Anistia e de outros temas que constavam do Programa Nacional de Direitos Humanos-3, de 2009. Havia também o temor de que o PT mudasse a forma de acesso de oficiais ao generalato e a formação dos militares nas academias. Assim, o objetivo era se aproximar de Temer, então vice de Dilma, para saber, segundo Rosenfield, com quais cenários deviam trabalhar.
“Não foi uma vez. Foram vários encontros”, diz o filósofo e autor do livro. O relato feito por Temer quer afastar os encontros com os militares do campo da conspiração política. Após o impeachment de Dilma, Villas Boas foi mantido no cargo e Etchegoyen foi nomeado ministro do novo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Golpe
No livro, Temer nega ter conspirado para a saída de Dilma e credita o impeachment ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB). A ofensiva, diz Rosenfield, se deu em razão de o PT ter negado apoio ao deputado.
“O que aconteceu é que o PT agrediu muito o presidente da Câmara e, em face dessa agressão, ele não teve outra alternativa”, diz. Ainda de acordo com o Estadão, o ex-presidente diz não ter cobiçado o cargo de Dilma e lamenta ter sido rotulado como golpista. “Golpista… O tempo todo. É um movimento político que mostra como tempos pouco apreço pela institucionalizado”, diz Temer.
O ex-presidente, que chegou a ter apenas 3% de aprovação, diz ter buscado a conciliação nacional. “Chamei os partidos logo que as coisas aconteceram e disse: ‘Vocês me indiquem nomes que eu vou examiná-los para verificar se eu os aprovo ou não’. Pretendo forma uma espécie de quase semi-presidencialismo”.
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