Um fenômeno de redução das ocorrências de assalto que vem sendo registrada no litoral da zona Leste de Natal é ordem do Sindicato do Crime do RN (SDC), facção organizada que atua no estado. A informação é de uma fonte ligada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), que prefere não ser identificada na matéria.
O motivo da determinação, segundo a fonte, é que esses pequenos casos de assalto levam a polícia para dentro das comunidades da região à procura dos responsáveis, porque é para onde correm os criminosos após após cometerem os delitos, por conta da proximidade. O fluxo de policiais estaria atrapalhando o comércio do tráfico de drogas, que é a principal fonte de renda da organização criminosa.
Segundo os agentes da 2ª Delegacia de Polícia em Brasília Teimosa, a redução vem sendo observada há, pelo menos, três meses e a média anterior era de 12 assaltos por mês na faixa litorânea. No ano passado, houve um pico no mês de junho, quando 25 casos naquela área chegaram à Polícia Civil.
A PC, inclusive, vinha realizando operações na região para desarticular o tráfico de drogas e, consequentemente, desmontar o negócio do Sindicato RN. No final de abril, dia 28, a Operação Caduceu invadiu as comunidades do Paço da Pátria e de Brasília Teimosa em busca dos criminosos ligados à facção. Durante a ação policial, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão e realizada três prisões em flagrante.
Sindicato
O bairro de Mãe Luiza, na Zona Leste, é berço do SDC, segundo consta nas cartas e estatutos apreendidos pelos agentes nos presídios. O que se comenta entre os moradores de lá é que a ordem é real. Não se pode roubar dentro do bairro, sob pena de represália por parte da facção criminosa.
O Sindicato do Crime, assim como o PCC, se sustenta através das mensalidades de seus associados. “Os valores variam”, afirma Vilma Batista. As informações dos documentos apreendidos nas prisões dizem que os o valor varia entre R$ 100 e R$ 200 para quem está em reclusão. Os valores são pagos pela Caixa Econômica Federal, com a ajuda de familiares e conhecidos.
Quando soltos, os presidiários pagam até R$ 400, a depender de suas condições, e também precisam dar parte do dinheiro que conseguem na atividade criminosa do lado de fora. Segundo as apreensões e depoimentos de presos, quem não pode arcar com os custos mensais dentro da prisão nem com apoio dos familiares, precisa realizar tarefas determinadas pelos líderes de seu pavilhão: lavar as roupas deles e até assumir o porte de drogas encontradas em revistas.
Do lado de fora, as “missões”, como eles denominam, podem ser determinadas tanto aos que têm o dinheiro da mensalidade quanto aos que não têm. Comumente dizem respeito à prática de crimes, como participação em roubos e assassinatos.
Mas os chefões da facção também fazem agrados. Periodicamente, um domingo por mês, eles promovem sorteios de rifas. O custo, pago em casas lotéricas por pessoas de fora da prisão, varia entre R$ 10 e R$ 25, e os prêmios entre quilos de maconha e carros.
Até o início do ano passado, o Governo evitava falar na existência das facções organizadas no RN, sob justificativa de que a “publicidade” fortaleceria os grupos. No entanto agora o Executivo Estadual reconhece a presença dessas organizações e realiza ações para combatê-las.
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