
Mão apertando o períneo até dar choque, língua esparramada sobre o queixo e ponta dos dedos fazendo cócegas no cocuruto. Isso tudo com pés paralelos, joelhos dobrados, esfíncter contraído, pélvis para frente, peito estufado e respiração ofegante. A postura é complicada, mas tento me concentrar para poder desvendar as emoções varonis que me habitam. Em pé, entre outros sete participantes. Pele com pele, pelo com pelo.
O curso de vulnerabilidade masculina anunciava o lema “encontre a conexão com você mesmo e com o outro”. Para chegar até lá era preciso ir ao Sumarezinho, bairro de classe média-alta da zona oeste de São Paulo, virar em uma rua arborizada, abrir o portão de uma mansão, atravessar um jardim e adentrar uma edícula — formada por um quarto fechado para dar privacidade às práticas com nudez, e outro envidraçado para as com roupa. Dentro da guarita na calçada em frente, o vigia da rua mal desconfiava do entra e sai: “Me falaram que o pessoal aí faz ioga”, diz à reportagem.
O terapeuta Daniel Bittar, 31, é quem guia o grupo. “Para atingir o estado vulnerável, você tem que se entregar às sensações e às emoções. Permitir ser observado e ser tocado”, instrui, logo no início.
No meio dos exercícios, há choros, gritos e até náuseas. Mas nada que chame a atenção dos vizinhos. “Uma vez experimentamos fazer uma catarse no pátio e baixou até polícia, porque foi algo tão intenso que o pessoal achou que estava acontecendo um crime aqui”, lembra Bittar.
Vários tipos de aula sobre masculinidade surgiram nos últimos tempos. Em um extremo estão os coaches de virilidade, que prometem trazer de volta o macho perdido, após algumas sessões de murros no peito e urros primais. Do outro, há retiros que desconstroem esse ideário, abrindo possibilidades em uma época de patriarcas cambaleantes. Entre eles, a ênfase pode ser mais psicológica, sociológica, filosófica ou espiritual — a vivência de Bittar vai mais por essa última linha.
Couraça de culpas
Sento no chão diante de um rapaz búlgaro. Entrelaço braços e pernas com ele. Fecho os olhos, regulo a respiração e seguro as mãos dele. Começa uma meditação ativa ao som de uma trilha musical fofinha e das orientações de Bittar. Ele fala para sentir o calor do sol e do magma percorrendo o corpo de cima a baixo, com rosas brotando no peito, o cérebro virando um cristal, entre outras imagens inspiradas no budismo tibetano.
Ao final da atividade, cada um dá seu depoimento. Conto que senti uma doçura e uma delicadeza, inimaginável para mim até ali para um encontro de cavalheiros. O terapeuta traduz a sensação: “É porque o afeto, o toque, o carinho e a respiração no exercício movimentam uma energia que ajuda no processo de ‘desencouraçamento’.”
Passar bloqueios emocionais para atingir o ser sensível e sentimental, aliás, é a ação inicial e principal do curso. Deixar mochilas e roupas no hall de entrada é simples diante de tirar o peso das costas de históricos de abusos, dores e medos relatados ali.
“Eu mesmo tenho essas barreiras. Você se livra de uma e percebe outra. O egoísmo e narcisismo faz você se fechar”, confessa Bittar. “Me acho superespiritualizado e, de repente, me vejo sentindo inveja de outro homem na praia porque ele é mais alto ou mais musculoso que eu. Esse sentimento tem de ser trabalhado, não adianta jogar num canto para seguir com minha autoimagem de namastê.”
G1


1 Comentário
PURA QUARILAGEM. mas, tem público garantido. É só direcionar as moçoilas frequentadoras do Carnatal.