Em um vídeo de quase oito minutos publicado no Twitter nesse domingo (10), o ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger condenou a invasão do Congresso americano por apoiadores de Donald Trump, comparando o ataque a um dos momentos mais sombrios do nazismo: a Noite dos Cristais.
Schwarzenegger, austríaco naturalizado americano em 1983, lembrou do episódio, ocorrido em 1938, quando cerca de 100 judeus foram mortos, mais de mil sinagogas, destruídas, e milhares de cemitérios, casas e escolas judaicos, vandalizados na Alemanha, na Áustria e nos Sudetos da Tchecoslováquia.
“Quarta-feira foi a Noite dos Cristais bem aqui nos Estados Unidos. Os vidros quebrados foram os das janelas do Capitólio americano”, disse o ator, para quem os Proud Boys, grupo de extrema direita que apoia Trump, são os nazistas de agora. “Mas a turba não quebrou apenas as janelas do Capitólio. Ela quebrou as ideias que considerávamos como garantidas.”
As comparações com o passado também passaram por um relato pessoal de Schwarzenegger. Nascido em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra, ele recorda ter crescido cercado por homens que, para lidar com a culpa de terem participado do “mais odioso regime da história”, bebiam sem parar.
“Nem todos eles eram extremistas antissemitas ou nazistas, muito apenas se juntaram, passo a passo, pelo caminho. Eram pessoas que viviam nas casas ao lado da minha”, disse ele, antes de recordar uma memória “nunca compartilhada tão publicamente antes”, indicando que o pai era um desses homens.
De acordo com o ator, o pai voltava bêbado para casa uma ou duas vezes por semana, gritava e batia nos filhos e apavorava a esposa. “Eu não o culpo totalmente, porque o nosso vizinho estava fazendo a mesma coisa com a família dele, assim como o próximo vizinho. Eles sofriam dores físicas devido aos fragmentos em seus corpos e sofriam dores psicológicas devido ao que viram e fizeram.”
O relato pessoal é um preâmbulo para indicar como histórias assim começam.
Para Schwarzenegger, tudo tem início com “mentiras, mentiras, mentiras e intolerância”. “Vindo da Europa, eu vi em primeira mão como as coisas podem sair do controle. Sei que há um temor neste país e em todo o mundo que algo assim possa acontecer outra vez aqui. Não acredito que vá acontecer, mas precisamos estar conscientes das terríveis consequências do egoísmo e do cinismo.”
Folha de S.Paulo