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Saiu do armário: deputado do PSL revela ser gay após atrito com deputada trans na Assembleia de SP

NA QUARTA-FEIRA 3 GARCIA FEZ UM DISCURSO DIZENDO QUE UTILIZARIA AGRESSÃO FÍSICA PARA RETIRAR PESSOAS TRANS DE BANHEIROS PÚBLICOS – FOTO: ALEXANDRE PUTTI

“Negro, gay e favelado. Pronto, sou o combo do vitimismo brasileiro”, ironiza o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), 25, sobre a própria situação.

Sua homossexualidade não era pública até a colega Janaina Paschoal subir na tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo, nesta sexta (5), e fazer o anúncio, a pedido dele: Douglas estava “um pouco abalado”, mas conversou com os pais dele e agora, finalmente, tomou a decisão de sair do armário.

O parlamentar conta à Folha de S.Paulo que assim quis porque não aguentava mais ouvir gente dizendo que ele era homofóbico ou transfóbico. Rótulos que ficaram ainda mais populares após o parlamentar entrar em atrito com Erica Malunguinho (PSOL-SP), a primeira transexual eleita para a Casa.

Foi assim: na véspera, a psolista havia discursado contra um projeto de lei de outro deputado, Altair Morais (PRB-SP). O texto estabelece que o sexo biológico seja o único critério para definir se um atleta que compete em partidas oficiais do estado é homem ou mulher.

Ou seja, esportistas trans não poderiam atuar numa equipe que corresponda ao gênero com o qual se identificam (se Erica quisesse jogar futebol, por exemplo, teria que ser no time masculino).

Douglas elogiou a proposta de Altair e foi além: disse que se soubesse que no mesmo banheiro que sua mãe ou irmã estivessem entrasse “um homem que se sente mulher, ou que pode ter alegado o que quiser”, ele mandaria sair dali na hora. “Vou tirar primeiro no tapa e depois chamar a polícia para ir levar.”  O PSOL pediu a cassação do deputado do PSL depois disso.

O deputado diz à reportagem que ser gay, agora abertamente, não o move um centímetro das ideias que sempre defendeu. Uma delas é que uma pessoa trans não pode frequentar toaletes destinados ao sexo diferente daquele seu biológico.

Também fala em lutar pela “pureza da infância” e contra “esse absurdo que é o movimento LGBT indo para a rua pegar crucifixo e enfiar no ânus”. Atos assim já foram visto em protestos da comunidade, mas são minoria absoluta.

“Isso não me representa, não representa os gays. Não quero que as crianças na escola sejam incentivadas a aprender erotização infantil”, afirma.

Douglas é entusiasta fervoroso de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), mesmo antes de o capitão reformado virar presidente, ou do próprio jovem decidir entrar na vida partidária.

A reportagem o questiona: Bolsonaro já disse que preferia um filho morto num acidente a um filho homossexual. Como ele, gay, se sente com essa frase do seu ídolo?

“Jair é um militar com mais de 60 anos [ele tem 64], pra que arrumar assunto sobre homossexualidade, homossexualismo, para um militar que passou metade da vida num ambiente cercado de virilidade? Claro que a resposta dele será bem agressiva, mas não significa que ele sairá pela rua, ‘pá, pá, pá’, atirando em tudo quanto é gay”, diz.

“Tanto é que muitos gays votaram nele”, emenda. “Se acha [ser gay] uma coisa ruim, é opinião dele. Não tira o fato de eu o admirar.”

Para Douglas, contribuição real para a causa, mais do que qualquer esquerdista, Bolsonaro dá com seu discurso armamentista. “E a homofobia, como combater? Vamos seguir a agenda do presidente, que quer legalizar as armas de fogo. Já pensou que maravilha seria se a mulher, o gay, poderem se defender contra um machista, um homofóbico?” Ele faz a ressalva que a pessoa precisa ser “bem treinada” antes de se armar.

Primogênito de uma diarista e um pastor evangélico que dirige perua escolar, Douglas mora numa favela em Americanópolis (zona sul paulistana), mais precisamente numa área chamada de Iraque, por causa do tanto de escombros por ali.

Fundador do Direita São Paulo, estreou nos noticiários por causa do Carnaval. Ele e amigos criaram em 2018 o bloco Porão do Dops, que acabou proibido pela Justiça de desfilar. Uma das marchinhas parodia o clássico “Cachaça Não É Água”: “Você pensa que bandido é gente/ Bandido não é gente, não/ Bandido bom tá enterrado/ Deitado dentro de um caixão”.

Ele já teve relações com homens e mulheres. Chegou a terminar com uma namorada “que queria casar” porque sabia que essa não era a dele. Vindo de um lar conservador, diz que gostar de homens sempre foi algo “muito íntimo”, daí não via sentido em expor a preferência em casa. “Pra que vou falar com meus pais, meu avô?”

Os pais reagiram bem. “Me abraçaram, disseram que me amavam. Detalhe que eles votaram no Bolsonaro. Se meus pais continuam me amando, que se exploda o mundo.”

Douglas afirma que não quer que a homossexualidade vire uma bandeira sua. “Sabia que a partir do momento em que eu dissesse que sou gay, isso teria destaque, seria uma quebra de paradigma no meio em que estou inserido. Mas quero ser destaque pelas minhas competências.”

Conta que nunca havia brigado com Erica Malunguinho antes, com quem sempre teve uma relação cordial. “A gente almoçava normal, eu sentava ali, conversava com ela, que já me explicou essa questão de religião, a diferença entre umbanda e candomblé.”

E a colega que Douglas faz questão de chamar de senhora, de deputada, no feminino: ela deve usar o banheiro dos homens na Assembleia?

“Se não no banheiro dos homens, tem que criar uma terceira opção. Com todo respeito à deputada [pela desavença na véspera], eu já tinha pedido desculpas. Pra mim é muito natural, não sou politicamente correto.”

FONTE: Folha de São Paulo

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