O desembargador Ivo de Almeida, que é investigado pelo Polícia Federal (PF) por suposto esquema de venda de decisões judiciais, recebeu remuneração superior a R$ 1,2 milhão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) nos últimos 12 meses.
Segundo dados do portal da transparência do TJSP, entre junho de 2023 e maio de 2024, a remuneração do desembargador chegou a R$ 1.256.219,30, incluindo penduricalhos e créditos judicias recebidos pelo magistrado. No mês mais recente, só o salário dele era de R$ 39,7 mil.
Ivo de Almeida está afastado do cargo, por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desde a deflagração da Operação Churrascada na última quinta-feira (20/6). Ele ingressou na Corte em 1987, foi nomeado desembargador em 2013 e atualmente presidia a 1ª Câmara de Direito Criminal.
Em dezembro de 2023, o Tribunal desembolsou R$ 156.334,43 para remunerar o desembargador – o maior valor mensal pago ao magistrado no período analisado.
Do total, R$ 49 mil eram referentes a gratificações e R$ 46,5 mil a vantagens eventuais (abonos constitucionais, serviços extraordinários ou pagamentos retroativos). Também foram pagos R$ 16,8 mil por vantagens pessoais (adicionais por tempo de serviço e produtividade) e R$ 6,3 mil de auxílios.
Churrascada
Diálogos interceptados pela PF mostram suposto esquema de venda de sentenças no gabinete do desembargador. Segundo a investigação, os envolvidos usavam expressões como “churrasco”, “carne” e “picanha” como códigos para pagamentos de propina.
Entre os casos investigados, estão supostas tratativas de propina de R$ 1 milhão (fotos acima) para beneficiar o narcotraficante Romilton Queiroz Hosi, apontado como homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar, ex-líder do Comando Vermelho (CV).
Já em outro processo sob suspeita, o desembargador mudou de opinião e beneficiou réus por roubo de carga logo após uma empresa ligada ao filho do magistrado receber depósito, em dinheiro vivo, de R$ 65 mil.
Ivo de Almeida é suspeito, ainda, de esquema de “rachadinha” no gabinete envolvendo servidores do TJSP.
O advogado Alamiro Velludo Salvador Netto, que defende o desembargador, afirma que “ainda não obteve acesso aos autos que supostamente sustentaram as medidas cautelares deferidas pelo STJ”.
“Aguarda-se, assim, a autorização ao total conteúdo das investigações para que a defesa possa se manifestar e, em consequência, reestabelecer no caso a verdade e a Justiça”, pontua.
Metrópoles