
O promotor Adriano Saraiva, do Ministério Público do Ceará, afirmou em entrevista publicada na segunda-feira que a capilaridade do Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro, é tamanha que já existem 200 membros do grupo atuando na cidade sede que têm origem no estado nordestino. Entre esses estariam mais de 50 políticos.
O número estimado dos envolvidos cearenses é cinco vezes maior que a fornecida pela Secretaria da Segurança Pública.
Há suspeitas de que um prefeito do Ceará foi eleito com a ajuda da facção. “Teve um colaborador que passou não só a relação desse prefeito, mas de diversos outros políticos com o crime organizado. Segundo as informações, são mais de 50 políticos no estado”, afirmou Saraiva, que chefia as estratégias de combate às facções e coordena o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) no Ceará.
As informações são do jornal O Povo, ao qual o promotor concedeu entrevista no dia 30 de julho.
Saraiva relatou sua participação em uma grande operação executada no dia 31 de maio na comunidade da Rocinha, quando o chefe do Comando Vermelho no Ceará, conhecido pelas iniciais ZM (José Mário Pires Magalhães), conseguiu fugir na companhia de outros criminosos do grupo. De 29 alvos, somente dois foram detidos.
Os alvos da polícia tinham 80 jagunços armados, as autoridades estimaram antes da operação. “Encontramos dez vezes mais”, disse Saraiva.
“Poderia haver um derramamento de sangue. Nós tínhamos 300 agentes. Tinha que ter o dobro ali, e ainda assim seria arriscado”, detalhou a autoridade.
O promotor afirmou que este resultado não foi por causa de vazamentos de informações. Um obstáculo ao trabalho do MP e da polícia, ele disse, é que as facções se movimento com muita rapidez. Os líderes criminosos emitem ordens para seus subordinados do Rio para o Ceará.
Como as facções se expandem? “Imposição e medo”, explicou Saraiva. “Encontram muitos jovens, que não estão na escola e que querem aparecer”. Esses jovens são atraídos para o crime por “se sentirem importantes”.
Mas é preciso sangue frio para ficar no CV. “A gente tem vários relatos de crimes bárbaros, como se a gente estivesse na época do Império Romano”, detalhou Saraiva. “São promessas de um mundo que não existe. É um mundo muito curto de você ter o dinheiro, o melhor carro, o melhor tênis, a melhor camisa de marca. Esse cenário é atrativo para eles”.
Só no Ceará, a Polícia Civil estima que o CV já matou mil pessoas em três anos. A facção já é responsável pela maioria das execuções no estado. “De 70% a 80%”, estimou Saraiva. A principal atividade econômica do CV ainda é o tráfico de drogas, para a qual os criminosos fazem conexões com fornecedores do Paraguai e da Colômbia, utilizando frequentemente helicópteros clandestinos.

