Muito além de um galã de novelas, Domingos Montagner teve diversas outras atribuições, como professor de Educação Física, palhaço (papel de que mais se orgulhava ao longo de sua carreira consolidada no circo), pai e marido dedicado. A trajetória, bem como momentos pessoais marcantes do ator — que morreu tragicamente em 2016, aos 54 anos, ao desaparecer nas águas do Rio São Francisco, ao fim das gravações da novela “Velho Chico” —, agora estão eternizados na biografia “Domingos Montagner — O espetáculo não para”, escrita por Oswaldo Carvalho.
— Foi um enorme desafio. Todos que eram próximos ao Domingos foram muito generosos comigo, e, a partir do “ok” para fazer esse projeto, eu só pensava: “Meu Deus, que responsabilidade!” — reconhece o jornalista e autor.
Para contar essa história, Carvalho ouviu mais de 80 depoimentos de amigos, parentes e artistas que trabalharam e conviveram com Domingos. Recolheu fotos do acervo pessoal, ilustrações feitas pelo ator, visitou a casa onde ele morou na infância. O autor contou ainda com a supervisão e ajuda de três grandes parceiros do artista: Fernando Sampaio, com quem Domingos fundou a companhia circense La Mínima; Francisco, irmão do biografado; e Luciana Lima, viúva do ator. Enquanto o livro nascia, ela pôde revisitar memórias entrelaçadas a sua própria história, o que abriu o caminho para a emoção.
— Confesso que quando entrou no capítulo sobre como a gente se conheceu e o nascimento dos nossos filhos, fiquei mexida. O livro também traz coisas da infância dele que eu só conhecia de roda de churrasco. A gente vai encaixando peças do quebra-cabeça e vendo uma imagem mais nítida da pessoa. É muito gostoso e bonito isso — diz ela.
Acessar essas memórias não é uma novidade para a família do ator. Luciana conta que é um processo constante não só em casa, mas no picadeiro — além da La Mínima, Domingos foi um dos fundadores do Circo Zanni, onde Luciana é artista até hoje).
— Esse visitar (o passado) vem num âmbito de agregar, ficar mais próximo. Nunca em tom de pesar e lamentação — garante Luciana, acrescentando que, para fazer o livro, o mergulho em suas memórias foi um pouco mais profundo e funcionou como um processo terapêutico: — Meses depois da passagem do Domingos, produzimos os 20 anos da companhia. Na sequência, já veio o livro. Isso tudo é um processo de cura. Transfere a dor física para um lugar de saudade, da memória, uma parte mais sensorial. Sentir a presença, ser mais intuitiva para que a gente possa continuar essa comunicação e seja sempre presente.
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