Nesta terça-feira (22) e quarta-feira (23) a população do município de Lagoa Nova, localizado na região do Seridó, a 169Km de Natal, será convocada para uma mudança de hábito: começar a fazer a separação do lixo em casa e nos pontos comerciais. Para chamar a atenção dos moradores sobre a importância deste gesto, está sendo organizada, na terça-feira, uma caminhada pelas ruas da cidade com a participação de estudantes, catadores, autoridades e moradores.
A iniciativa faz parte da campanha “Lagoa Nova Lixo Zero”, apoiada pelo Instituto Brasil Lixo Zero, entidade nacional que incentiva ações voltadas para a conscientização da população e suas responsabilidades na produção de resíduos sólidos e a destinação correta desses resíduos.
Lagoa Nova está entre as 140 cidades brasileiras que participam da Semana do Lixo Zero, que ocorre de 18 a 27 deste mês. As atividades de mobilização estão concentradas na zona urbana, distrito de Manoel Domingos, onde moram três mil pessoas, além de assentamentos rurais.
O município, com pouco mais de 15 mil habitantes, produz atualmente uma média de 66 toneladas de resíduos por mês. O descarte vem sendo feito há décadas em um lixão a céu aberto localizado próximo a um riacho do sangradouro da lagoa. Por causa disso, o Ministério Público Estadual entrou com uma ação contra o município por má gestão de resíduos e o Idema aplicou uma multa de R$ 300 mil caso não sejam adotadas medidas para gerir os resíduos de forma sustentável.
Assim, quando assumiu a Secretaria do Meio Ambiente de Lagoa Nova em 2017, o veterinário João da Mata Bezerra explica, se deparou com esse problema crônico, comum a muitos municípios brasileiros. “Nosso primeiro passo foi cadastrar todos os catadores do município e fundar a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis, a ACMR. Desde então, assumimos o desafio de mudar a cultura da população para o descarte correto do lixo”.
A partir daí a coleta seletiva começou ainda de forma precária. A Prefeitura alugou um galpão para onde era levado o lixo bruto para que os catadores fizessem a triagem. Os materiais recicláveis eram separados e colocadas à venda em benefício dos catadores. Assim foi durante quase um ano. Em 2018, diante da impossibilidade da renovação do aluguel do galpão, os catadores voltaram a trabalhar no lixão. Foi quando a empresa Eólica Echoenergia, que atua na região, foi convidada a conhecer o projeto da unidade de triagem e os equipamentos necessários para que os catadores desenvolvessem o trabalho com condições adequadas.
Com a parceria firmada entre a Prefeitura, Associação dos Catadores e a Eólica Echoenergia, o projeto foi aprovado e, com recursos do BNDS, o galpão foi construído. A coleta seletiva está funcionando há 15 dias com 15 catadores trabalhando diretamente na triagem dos materiais. Mas é preciso mais, como aponta João da Mata: “Nossa meta é chegar ao ano que vem com pelo menos 40% dos moradores fazendo a separação em casa e contribuindo de forma consciente com a coleta seletiva. Estamos também envolvendo as crianças no Projeto de Educação Ambiental Lagoa Nova Limpa. Precisamos ainda encerrar o lixão de Lagoa Nova”.
No entanto, o Idema não aprovou nenhuma das nove áreas apresentadas pelo município que seriam destinadas ao aterro sanitário controlado. O prefeito de Lagoa Nova, Luciano Santos é o presidente Consórcio de Resíduos Sólidos do Seridó. O Consórcio integra 25 municípios que trabalham junto aos Ministérios Públicos Estadual e Federal e Procuradoria Geral da República na tentativa de instalar um aterro sanitário e encerrar os lixões. “Enquanto a situação não se resolve, o Idema nos autorizou a continuar colocando o rejeito não aproveitado pela coleta seletiva no aterro de Lagoa Nova”, explica Luciano Santos.
Até lá, o desafio imediato é conscientizar a população para a mudança de hábito. “Estamos chamando a atenção para a importância da separação do lixo nas fontes produtoras, que são as residências e os pontos de comércios. Para incentivar, estamos instalando ecopontos de coleta em locais estratégicos próximos a comércios e, futuramente, serão instalados em cada quarteirão, para que os moradores voluntariamente levem os materiais até o local”, planeja João da Mata.