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Policial que matou turista espanhola ganha liberdade provisória

O tenente da Polícia Militar do Rio de Janeiro Davi dos Santos Ribeiro, autor do disparo que matou a turista espanhola Maria Esperanza Jimenez Ruiz, de 67 anos, na segunda-feira (23) na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, teve a liberdade provisória concedida hoje (24), em audiência de custódia, pelo juiz Juarez Costa de Andrade, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).

Ribeiro foi preso em flagrante pela Divisão de Homicídios, que também pediu a conversão da prisão para preventiva.

Na decisão, o juiz afirma que “neste contexto, se de um lado, o trágico acontecimento repercutiu nesta Capital e no Mundo, fato é que o custodiado estava trabalhando, possui imaculada ficha funcional, não havendo indícios de que solto possa reiterar o comportamento criminoso ocorrido à luz do dia”.

O magistrado destacou também que o tenente não tem “condições psicológicas de retornar às operações nas ruas” e que “deve ser afastado do exercício de policiamento ostensivo, exercendo apenas atividades administrativas”. O juiz proibiu o militar de manter contato com as testemunhas, inclusive os colegas que participavam da operação.

Investigação

Em coletiva de imprensa hoje, o titular da Divisão de Homicídios, delegado Fábio Cardoso, disse que a unidade fez a perícia no local da ocorrência, o Largo do Boiadeiro, e também no veículo, que foi usado para levar a vítima ao Hospital Miguel Couto.

“Foi um tiro de fuzil dado contra o veículo, acertou o pescoço da vítima na parte de trás, passou tangenciando o pescoço, então foi um tiro de alta energia que causou uma lesão muito grande. O tiro, além de atingir e matar a turista, atingiu a parte traseira do encosto do banco do motorista. Então, por muito pouco, o motorista também não foi morto com um tiro na cabeça”, disse o delegado.

Segundo o delegado, os três policiais envolvidos na operação foram ouvidos durante a madrugada e o trabalho de investigação está avançado. “Os policiais alegaram que teriam feito uma abordagem e que o carro não acatou a ordem de parada e por isso efetuaram disparos. Outro policial efetuou disparos para o alto e o tenente Davi efetuou um tiro contra o veículo, que atingiu o vidro traseiro do carro e outro tiro atingiu o para-choque traseiro do veículo”.

Cardoso disse que os ocupantes do carro disseram não ter visto a blitz e não receberam nenhuma ordem de parada. Ele classificou como “criminosa” a ação dos agentes de segurança. “Os policiais alegaram que estavam numa operação de cerco na Rocinha quando fizeram a abordagem desse carro, que tinha um insulfilme mais escuro. Eles não acataram a ordem de parada e por isso atiraram. Devo ressaltar que, o fato de um carro não acatar a ordem de parada, não justifica os policiais atirarem contra esse veículo sem sequer o veículo ter tido uma atitude suspeita, uma movimentação de que os ocupantes fossem atirar”.

O corpo de Maria Esperanza já foi necropsiado e a Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat), junto com o consulado espanhol, estão providenciando o traslado para a Espanha.

Agência de turismo

A agência de turismo responsável pelo passeio, Grupo Rio Carioca Tour, divulgou nota oficial em que lamenta a morte de Maria Esperanza. “A empresa é uma agência de turismo legalizada e conta com guias credenciados. O grupo de Maria Esperanza era acompanhado por uma guia credenciada acostumada a fazer tours pela Rocinha, um roteiro muito procurado por turistas do mundo todo”.

A agência informa que não recebeu qualquer notificação da polícia sobre confrontos ou problemas na comunidade na segunda-feira e que, em depoimento, o motorista disse que o roteiro programado foi alterado por causa da chuva.

“A turista espanhola terminava um tour na favela da Rocinha quando foi baleada num trecho da comunidade onde há uma ONG e escola de samba. Em depoimento à polícia, o motorista do carro onde estava a turista contou que havia deixado Maria Esperanza com o grupo e a guia, na Estrada da Gávea, de onde partiram para um passeio a pé pela favela. O combinado seria buscar o grupo na Auto-estrada Lagoa-Barra, mas, em função da chuva forte, a guia solicitou que o motorista buscasse o grupo dentro da Rocinha”.

A nota informa também que o motorista, um italiano residente no Brasil, foi parado cerca de 50 metros antes do Largo dos Boiadeiros por um grupo de policiais e teve o carro revistado. “Já no Largo, buscou o grupo de turistas e seguiu em direção à saída da favela. Neste curto trajeto, ouviu três tiros, sendo um mais forte e, achando que se tratava de um tiroteio, acelerou para sair da Rocinha. Na chegada à Auto-estrada, foi parado por um outro grupo de PMs, que mandou os passageiros descerem do carro. Foi neste momento que perceberam que Maria Esperanza havia sido baleada”.

O Grupo Rio Carioca Tour “reitera que todo trabalho da agência é conduzido com responsabilidade, visando o bem-estar de seus passageiros”, que “seus colaboradores estão à disposição da polícia para prestar quaisquer esclarecimentos” e que “a empresa também está à disposição para apoiar a família da passageira no que for necessário”.

Durante a inauguração do centro de pesquisa e inovação da L oreal, na Ilha de Bom Jesus, o governador Luiz Fernando Pezão lamentou a morte de Maria Esperanza e destacou que os policiais fluminenses “devem seguir os procedimentos estabelecidos no manual de abordagem, que determina que, em casos como o que ocorreu naquela comunidade, não devem efetuar disparos, e sim perseguir o veículo”.

“É muito triste, lamentável. Esse episódio nos entristeceu a todos. Nenhum policial é orientado, treinado para isso. Vamos continuar a investir, aprimorar, treinar policiais para que isso não aconteça mais. O Rio não é a cidade mais violenta do país, mas, infelizmente, tem um apelo maior porque é a que mais recebe turistas”, disse o governador.

Pezão também reafirmou que a Polícia Militar vai continuar na Rocinha por tempo indeterminado e que a integração com as forças federais de segurança vem apresentando resultados.

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