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PF investiga se Gim Argello teria proposto sociedade para vender fosfoetanolamina sintética

O químico Gilberto Chierice no laboratório de sua empresa. Ele diz ter recebido proposta para de Gim Argello para comercializar a fosfoetanolamina sintética (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)

O químico Gilberto Chierice no laboratório de sua empresa. Ele diz ter recebido proposta para de Gim Argello para comercializar a fosfoetanolamina sintética (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)

Quando o Congresso aprovou em março a lei autorizando a produção e distribuição da fosfoetanolamina sintética, a suposta “pílula do câncer” – que nunca passou por testes em humanos e não tem sua eficácia comprovada -, a comunidade médica e científica pensou estar diante de uma medida populista. Num momento em que os políticos gozam de baixa popularidade e credibilidade entre a população, faria sentido aprovar uma medida que contava com forte pressão popular. Agora, uma investigação da Polícia Federal a que o jornal O Estado de S.Paulo teve acesso sugere que ex-integrantes do Congresso, que continuam a rondar Brasília, poderiam ter outros interesses na aprovação da substância.

Gilberto Chierice, o professor aposentado da Universidade de São Paulo que diz ter encontrado a cura para todo tipo de câncer, deu um depoimento à Polícia Federal, em 27 de abril, em que afirma que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) teria proposto a ele um contrato para comercializar a fosfoetanolamina sintética. Segundo a proposta, Argello, Chierice e a empresa HTS Gestão de Investimentos e Estudos Mercadológicos LTDA venderiam comercialmente a substância. Argello está sem mandato desde 1º de fevereiro do ano passado porque não foi reeleito. Desde 12 de abril, está preso, acusado de pedir propina às empreiteiras UTC Engenharia e OAS, investigadas na Operação Lava Jato.

Segundo Chierice, Argello teria mandado uma pessoa buscá-lo no aeroporto em Brasília, quando ele foi à capital federal para participar de uma audiência pública sobre a fosfoetanolamina, organizada pelo senador Ivo Cassol (PP-RO). A audiência aconteceu no dia 29 de outubro do ano passado. “Quando eu chego em Brasília tem uma caminhonete, uma condução me esperando. ‘O senador mandou lhe buscar’. Saiu dali, foi pra um escritório, onde tinha um escritório de um ex-senador”, disse Chierice na gravação do depoimento, ao qual O Estado de S.Paulo teve acesso. “Nos levou para conversar com esse senhor, eu não sabia do que se tratava. Esse Gim não sei o quê”, afirmou Chierice.

O delegado Nelson Edilberto Cerqueira, responsável pelo depoimento, perguntou sobre um e-mail que teria um contrato anexo, que contava com o nome de Chierice e outros pesquisadores envolvidos na defesa da fosfoetanolamina. Nele, os contratantes “se comprometem a formar uma sociedade para explorar economicamente a fosfoetanolamina, que ficaria na seguinte proporção: 30% para o senhor [Chierice] e para o Salvador, 30% para o Leonardo, 30% para a HTS, e o quarto, que seria Taynara, 4%, o Miguel com 3% e o Adilson com 3%”, disse o delegado Cerqueira. Chierice afirmou que o contrato nunca chegou até ele e que deixara claro no encontro que não tinha interesse de explorar comercialmente a substância. Argello teria o chamado de “bobo”. “O senhor é bobo, isso, aquilo, tem que fazer se não explorar, não vai pro coisa”, teria dito Argello a Chierice.

O encontro teria acontecido no fim de outubro do ano passado. O projeto fora aprovado na Câmara dos Deputados em 8 de março e no Senado em 22 de março. Em 13 de abril, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que autorizou a produção e distribuição da fosfoetanolamina.

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