Lucas Grudzien, de 22 anos, denunciou um caso de abuso que sofria, enquanto participava de um curso de coroinha na Igreja Comunidade São João Batista, no Guarujá, na Baixada Santista (SP). Segundo Grudzien, que tinha 14 anos na época, o sacerdote Edson Felipe Monteiro Gonzalez, fazia o jovem ficar na Igreja após o expediente, obrigando-o a faltar à escola, e se aproveitava da igreja vazia para abusar do garoto.
Em entrevista à Veja, o jovem conta que o padre fazia perguntas indiscretas sobre sexualidade enquanto estavam a sós. “Desde que entrou na igreja, o padre Felipe me perguntava se eu já tinha beijado menina ou menino. Eu era novo, sem nenhuma experiência, e ele me falava para experimentar as duas coisas para poder escolher”, conta.
Segundo a reportagem, na sala paroquial, em anexo da igreja, foi onde aconteceu o primeiro ato sexual. Após o abuso, o padre teria tentado normalizar a ação e disse: “Lucas, nós só assistimos filme, viu? Deus sabe disso tudo”. Confuso, o garoto chegou a pedir conselhos para o próprio padre sobre como lidar com marcas deixadas pelo abusador, como manchas de sangue na cueca.
A família começou a desconfiar do comportamento do jovem, que faltava à escola e apresentava notas muito mais baixas, e buscou também Edson Felipe para pedir ajuda, que pressionava o garoto a não contar nada. Dois anos depois, os pais flagraram uma conversa entre os dois e o padre fez o menino fugir de casa.
O jovem retornou e, a partir daí, a família passou a buscar justiça e foi logo surpreendida com a reação do vigário-geral de Santos, que disse para a mãe do jovem, Claudete Aparecida Grudzie, para tomar cuidado para o filho não “ficar conhecido como comida de padre”. Uma carta, então, foi enviada pelo Vaticano e o bispo da cidade intercedeu. “Logo que tomei conhecimento da denúncia, iniciei imediatamente a investigação prévia, em 2 de outubro de 2016, de acordo com as normas canônicas, e decretei o afastamento cautelar do padre do exercício do ministério sacerdotal”, conta o o bispo de Santos, Dom Tarcísio Sacaramussa, chefe do padre Felipe.
Apesar do afastamento das missas, Edson Felipe hoje atua no departamento de patrimônio imobiliário da Igreja Católica, ao lado do Bispo. “Ele segue recebendo salário e tem contato com o público”, diz a reportagem, que aponta que a proteção ao abusador pode ter a ver com os ganhos em termos de arrecadação de dízimo que o padre promoveu em Santos.
Atualmente, o rapaz estuda engenharia civil em uma faculdade de Santos e faz terapia com psicólogos desde os 16 anos. Seus traumas são muitos. Ele fica com a boca seca e mãos trêmulas quando lembra dos abusos do padre Felipe. Suas advogadas Dilene de Jesus Miranda e Andressa Fraga lutam para que o padre Felipe seja condenado por abuso sexual e expulso da Igreja Católica: “para nós, que atuamos na área do direito de famílias, o discurso da doutrina social da igreja, de que a família é a “célula vital da sociedade”, que deve ser protegida e receber tratamento prioritário, não é observado por alguns representantes da própria Igreja Católica, que se omitem diante de fatos graves praticados pelos párocos. Com isso, a instituição passa a ser vista como verdadeira cúmplice e corresponsável pelos danos perpetrados, por corroborar com a perpetuação destes abusos.
Com informações: Veja