Em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport neste sábado (2), o papa Francisco classificou o craque argentino Diego Maradona, morto no dia 25 de novembro de 2020, como um “poeta” no campo, além de falar sobre doping e confidenciar suas memórias de criança, época em que jogava futebol.
“Conheci Diego Armando Maradona durante um jogo pela paz, em 2014. Lembro com prazer tudo o que Diego fez pela Scholas Occurrentes, a Fundação que cuida dos mais necessitados em todo o mundo. Na quadra ele era um poeta, um grande campeão que dava alegria a milhões de pessoas, tanto na Argentina quanto em Nápoles. Ele também era um homem muito frágil”, recordou o Pontífice.
Algumas horas após o anúncio do falecimento do ‘Pibe de Oro’, Francisco se lembrou com “afeto” dos encontros com o argentino, fez uma oração e enviou um rosário e uma carta de condolências para a família do ex-jogador.
“Eu tenho uma memória pessoal ligada à Copa do Mundo de 1986, que a Argentina ganhou graças ao Maradona. Eu estava em Frankfurt, foi um momento difícil para mim, eu estava estudando a língua e coletando material para minha tese. Eu não tinha sido capaz de ver o jogo final e só no dia seguinte soube da vitória da Argentina sobre a Alemanha, quando uma colega japonesa escreveu ‘Viva Argentina’ no quadro, durante uma aula de alemão”, contou.
De acordo com o líder da Igreja Católica, esse momento é lembrado “como a vitória da solidão” porque “não tinha ninguém para compartilhar a alegria dessa vitória esportiva”. “A solidão faz você se sentir sozinho, enquanto o que embeleza a alegria é poder compartilhá-la”.
Durante a conversa, Jorge Bergoglio, de 84 anos, também falou sobre suas primeiras memórias futebolísticas, quando era criança e brincava com uma bola feita de trapos para se divertir e “fazer quase milagres”.
“Tenho também outra memória, a da bola de pano. O couro era caro e nós éramos pobres. Uma bola de pano foi o suficiente para nos divertirmos e quase fazermos milagres jogando na pequena praça perto de casa. Quando criança eu gostava de futebol, mas não era um dos melhores, pelo contrário, era o que na Argentina era chamado de “perna dura”. É por isso que eles sempre me fizeram jogar como goleiro”, recordou. “Ser goleiro foi uma ótima escola de vida para mim. Nessa posição, você deve estar preparado para responder aos perigos que podem surgir, que vêm de todos os lugares”, ressalta.
O Papa argentino, que é torcedor do clube San Lorenzo de Almagro, também voltou a condenar o doping e fez um alerta para seus perigos nas atividades esportivas.
“Nenhum campeão é construído no laboratório. Às vezes aconteceu, e não podemos ter certeza que não acontecerá de novo. Vamos esperar que não, embora o tempo mostre os talentos que são originais e aqueles que são construídos. Um campeão nasce e se fortalece com o treinamento”, enfatiza.
Para o Santo Padre, “o doping no esporte não é apenas um golpe, é também um atalho que anula a dignidade”. “Talento é um presente recebido, mas por si só não é suficiente. Temos que trabalhá-lo. Treinar é cuidar desse talento, tentar amadurecer essas possibilidades”.
Por fim, o religioso disse que o que deseja para 2021 é “muito simples”. Ele citou uma frase escrita em uma camiseta que recebeu de presente: ‘Melhor uma derrota limpa do que uma vitória suja’. “Desejo isso a todos, não apenas ao esporte. É a maneira mais bonita de jogar na sua vida, de cabeça erguida”, finalizou.
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