Sucesso em ‘A Dona do Pedaço’, o ator José de Abreu, de 73 anos (40 na TV Globo), é uma tsumami de polêmicas no Twitter, local onde gosta de opinar sobre política. Hoje, os alvos principais são o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. Petista, Zé arranjou treta até com a novelista Glória Perez ao escrever que Guilherme de Pádua (assassino de Daniella Perez) e Glória estariam “apoiando o mesmo espectro político”. Ela rebateu: “Você é muito canalha”. O ator se desculpou, sem comentar. “Deixa quieto”, pediu à Coluna. Em fevereiro, se autoproclamou presidente do Brasil em protesto contra a decisão de países de reconhecer Juan Guaidó presidente da Venezuela.
O DIA: Você é bem atuante no Twitter. Seus últimos ataques têm como alvo Moro e Dallagnol. Por quê?
JOSÉ DE ABREU: Eles interferiram na eleição. Impediram o povo brasileiro de cumprir o seu direito e dever de votar. O primeiro colocado nas pesquisas (Lula) foi preso. Hoje se vê, injustamente. Interferir nas eleições você não acha motivo suficiente para eu fazer isso?
Mas o senhor escreveu que Sergio Moro é um “juiz ladrão” e um “canalha”. Não exagerou?
É questão de semântica. Um juiz que se comporta como acusador, como ele fez… O (site) “The Intercept” provou que Moro estava atuando junto com a acusação. Não teve a isenção exigida pelo Estado de direito. Me parece que impedir o povo de eleger o seu presidente é papel de muito mais que canalha. Não existe adjetivo para se usar em uma pessoa como o Moro, como o Dallagnol. Eu tenho usado as palavras do Ulysses Guimarães sobre a ditadura: nojo, ódio.
A Lava Jato pôs na cadeia políticos como Sergio Cabral e Eduardo Cunha. Não valeu a pena a operação?
Você me deu dois exemplos. Mas eu posso te dar 20 exemplos. Cadê o (José) Serra? Cadê o Aécio (Neves)? Cadê o Fernando Henrique Cardoso, que tinha os mesmos problemas do Lula no instituto. Cadê Paulo Preto? Quem do PSDB foi preso? Estou discutindo a falta de ordenamento jurídico no processo que condenou o Lula. Está provado que foi uma condenação para que a esquerda não o elegesse e, depois, o (Fernando) Haddad na proibição da entrevista do Lula (à “Folha de S.Paulo”).
Onde a Lava Jato errou?
Errou nos momentos que deixou de cumprir a lei e se transformou em um partido político cujo objetivo principal era tirar a esquerda do poder, de tirar a esquerda da possibilidade de eleger. Ficou comprovado no momento em que o Bolsonaro eleito tem a sua paga, né? A paga do Dallagnol era aqueles milhões que ele recebeu dos Estados Unidos para fazer uma fundação que vinha interferir na eleição. E o Sergio Moro teve a sua paga de ministro da Justiça e possivelmente do Supremo pelo seu serviço de eleger a direita.
Por que o senhor acredita na inocência de Lula?
Porque não existem provas contra ele. Não existe um cheque. Não existe um depósito. Não existe uma conta no exterior ou no interior do Brasil. Não existe nada que prove que o Lula se corrompeu. O Lula continuou morando, antes de ir para a cadeia, no seu apartamento de São Bernardo do Campo. Cadê os sinais exteriores de riqueza? Os pedalinhos do sítio? O botezinho de alumínio? Um triplex que nunca foi dele? Um lixo de apartamento como a gente viu quando o Movimento dos Sem Teto entrou lá! Cadê as reformas que foram feitas do apartamento? Elevador privativo? Ora, faça-me o favor!
Já o visitou na cadeia?
Não. Recebi um bilhete dele na época da minha autoproclamação (como presidente da República). Mas eu vim para o Brasil para fazer a novela. Cheguei em cima da hora. Logo em seguida, comecei a gravar. Então, não tive tempo de ir lá para Curitiba. Ele sabe que, a hora que quiser falar comigo, eu vou. Mas não teve nenhuma manifestação nem minha de pedir para ir e nem dele de pedir que eu fosse.
O que acha do movimento político da classe artística?
Depois da prisão do Lula, houve um movimento grande. Outra mudança foi com o “#EleNão”. Artistas mulheres começaram a participar contra a eleição do Bolsonaro. Aquele movimento do (ex-presidente Michel) Temer de fechar o Ministério da Cultura também.
A Globo nunca reclamou do seu ativismo político?
Não, jamais. Nunca fui chamado pela direção da TV Globo para discutir sobre isso, não. Na primeira e única vez que vi o João Roberto Marinho, ele foi visitar o estúdio de uma novela onde eu estava gravando. Interrompi a gravação. Perguntei se podíamos conversar. Eu tinha acabado de conversar com o Lula e disse a ele (Marinho) que o presidente me disse de sua preocupação pela minha atividade política. E o João Roberto Marinho me disse que eu poderia continuar fazendo o que eu sempre fiz, que eu era um dos melhores atores da casa, em primeiro lugar. Em segundo lugar, porque eu era um dos atores da Globo que tinha a cara da Globo. E, em terceiro lugar, que, como o pai (Roberto Marinho), ele também respeitava as posições políticas dos contratados da casa.
O Dia