
Em comunicado oficial, os copresidentes Daniel Ortega e Rosario Murillo reiteraram solidariedade ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e denunciaram o que classificam como uma política contínua de agressão e tentativas de desestabilização promovidas pelos Estados Unidos.
A manifestação reforça um eixo político já conhecido na América Latina, formado por governos que compartilham discurso antiamericano e defesa explícita da soberania nacional frente a sanções, pressões diplomáticas e ações militares indiretas. No texto, o governo nicaraguense afirma ter recebido com “profunda gratidão” uma carta que descreve as ameaças enfrentadas pela Venezuela e por outros países da região.
Ao elogiar o que chamou de “compromisso com a paz” do governo venezuelano, a Nicarágua reafirma uma narrativa central do chavismo: a de que a crise do país não é resultado apenas de fatores internos, mas de uma ofensiva externa liderada por Washington. O comunicado também recupera símbolos históricos e ideológicos, evocando figuras como Simón Bolívar, Hugo Chávez e Augusto César Sandino, numa tentativa de enquadrar o atual conflito como parte de uma luta histórica contra o imperialismo.
O texto vai além da retórica diplomática e adota tom de denúncia. O governo nicaraguense condena o que descreve como atos de agressão, ameaça ou uso da força contra a integridade territorial da Venezuela, além de ações classificadas como pirataria, saques e roubo de recursos naturais. Também menciona supostas execuções extrajudiciais, que, segundo o comunicado, seriam ilegais inclusive sob a legislação dos Estados Unidos.
Ao exigir o fim imediato de toda agressão que viole a Carta das Nações Unidas e o direito internacional, Manágua reforça sua posição de alinhamento automático a Caracas em fóruns regionais e multilaterais. Trata-se de um apoio que não se limita à retórica, mas se traduz em votos, discursos e articulação política conjunta em organismos internacionais.
O tom religioso e épico do comunicado também chama atenção. Ao afirmar que a Venezuela “está vencendo e vencerá” por amar a paz e caminhar “de mãos dadas com Deus”, o texto mistura política externa, ideologia e linguagem messiânica, característica frequente das comunicações oficiais tanto da Nicarágua quanto da Venezuela.
A mensagem finaliza reafirmando o compromisso do governo nicaraguense com o direito dos povos à soberania, independência e dignidade, estendendo essa defesa a toda a América Latina e ao Caribe. Na prática, o comunicado funciona como mais um capítulo de uma aliança política consolidada, que se fortalece sempre que a pressão dos Estados Unidos sobre Caracas aumenta.
Para além do conteúdo simbólico, a declaração evidencia como o conflito entre Venezuela e Estados Unidos continua a reorganizar alianças regionais, reacendendo discursos da Guerra Fria em um contexto geopolítico marcado por sanções, disputas energéticas e crescente polarização internacional.
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