A moda acordou mais triste hoje. O estilista francês Pierre Cardin morreu esta manhã, aos 98 anos. A morte foi confirmada pela família à Agência France Presse. A causa ainda não foi divulgada.
“É um dia de grande tristeza para toda a nossa família, Pierre Cardin já não está entre nós. O grande costureiro que foi, atravessou o século, deixando para a França e para o mundo um patrimônio artístico único na moda, mas não só isso. Nos orgulhamos da sua ambição tenaz e da ousadia que demonstrou ao longo da vida. Foi um homem moderno de muitos talentos e energia inesgotável”, diz a nota da família.
Filho de agricultores italianos, Cardin nasceu em 2 de julho de 1922 em Veneza e foi batizado Pietro. Sua história na França começa quando seus pais migraram para o país fugindo do fascismo.
O estilista, que ficou mundialmente famoso ao revolucionar a moda nas décadas de 1960 e 1970 com sua estética futurista, começou a trabalhar com moda bem jovem, aos 14 anos, como aprendiz de alfaiate na cidade de Saint-Etienne, na França. Em 1945, já em Paris, empregou-se na maison Paquin e, posteriormente, trabalhou com Elsa Schiaparelli. Conheceu, então, Jean Cocteau e assinou o figurino do filme “A bela e a fera”. Depois de uma passagem pela Dior, em que criou mantôs e tailleurs impecáveis, inaugurou em 1950, seu próprio empreendimento e, em 1954, as butiques Adão e Eva.
Pioneiro, foi o primeiro designer de alta costura a desenvolver uma coleção “prêt-a-porter”. Em 1959, período em que predominavam a alta-costura e o conceito de exclusividade, ele criou uma coleção feminina para a loja de departamentos Printemps. Na época, aliás, foi criticado por isso, declaravam que ele estava popularizando seu nome. Anos depois, todas as grandes marcas seguiram os passos do visionário. Na década de 1960 e adiante, conciliou o olhar sempre à frente com uma apurada visão comercial. Apresentou ternos masculinos com a gola Mao e apostou no estilo futurista nos revolucionários anos do século XX, em que o homem pisou na Lua, e na linha unissex. Entre as peças icônicas de Cardin estão os vestidos-tubo e os catsuits de malha, que vestiam a nova mulher para tempos modernos. Sua intenção, já naquela época, era deixar a moda mais acessível, democratizá-la. E assim ele fez. No início da década de 1980, estabeleceu cerca de 540 contratos de licenciamento. O nome Pierre Cardin espalhou-se em acessórios e perfumes pelo mundo afora.
Cardin também abriu o mercado de alta costura para a Ásia. Foi o faro dele que destacou que mercados de países como China e Japão seriam interessantes para a moda de luxo.
Pierre Cardin veio ao Brasil algumas vezes; já nos anos 1960, apresentou-se na Fenit e licenciou produtos no país. Na década de 1980, seus ternos, confeccionados pela empresa dos irmãos Brett, fizeram imenso sucesso. Roupas, perfumes, gravatas, óculos e acessórios com seu nome conquistaram o Brasil e o mundo. O designer também adquiriu o lendário Maxim’s; O Rio de Janeiro, inclusive, abrigou, na torre do shopping RioSul, uma réplica do restaurante francês.
Cardin foi homenageado ao longo da carreira inúmeras vezes, com diversas exposições. Em 1990, uma no Victoria and Albert Museum, em Londres, celebrou os 40 anos de moda feminina e 30 de moda masculina. Em 2005, seus 50 anos de trabalho ganharam uma mostra em Viena. François Baudot, no livro “Moda do século”, de 1999, definiu Pierre Cardin como “o único sem dúvida em sua profissão que ainda sabe desenhar, cortar e costurar uma roupa com as próprias mãos”.
Em janeiro deste ano, ele teve sua vida apresentada no documentário “House of Cardin”, que mostrava o estilista de quase cem anos ativo. “Não sou do tipo que se contenta com o que já foi feito e aceito. Eu estou feliz com o presente, mas nunca dou meu trabalho como terminado”, diz Cardin em uma das passagens do documentário.
O Globo