Por Elane Nascimento
A vigilância na Ponte Newton Navarro tornou-se um tema supra explorado de abril até aqui. A temática ganhou grande repercussão nos meios de comunicação e redes sociais, após a iniciativa de um pastor evangélico que organizou um grupo de apoio com objetivo de evitar tentativas de suicídio no local.
O fato é que, invertendo o ditado que diz, “há males que vêm para o bem”, o “Bem”, diante da repercussão em massa, acaba transformando-se no “mal”.
Preocupado com esse efeito inverso, a Prefeitura do Natal, através do Prefeito Álvaro Dias, emitiu uma nota condenando a exploração das tragédias que ocorrem na Ponte Newton Navarro.
Leia o pronunciamento:
SOBRE A PONTE NEWTON NAVARRO
A Prefeitura de Natal dirige-se aos bem intencionados cidadãos acampados na Ponte Newton Navarro para esclarecer alguns fatos.
Dirigimo-nos a todos aqueles que lá se encontram fazendo um louvável trabalho no sentido de atender e amparar pessoas que, no extremo desespero, pensam em atentar contra a própria vida. Esses merecem um esclarecimento da Prefeitura.
Preocupa o poder público, no entanto, ter o conhecimento e informações de que, diante da divulgação dessas tragédias, surgem, ao lado dos bem intencionados, outros em busca de holofote para inflar seus egos e alcançar interesses inconfessáveis, buscando atingir seus objetivos escusos nesses tempos de redes sociais.
Para tanto, procuram usar esses lamentáveis episódios, distorcendo ou fantasiando, acima de tudo, publicizando essas tragédias, elaborando versões e buscando tirar dividendos para alcançar objetivos pessoais.
Em primeiro lugar é preciso que se diga que a ponte Newton Navarro é um instrumento viário construído pelo governo do Estado com verbas do governo federal e inaugurado em 2007. Portanto, não cabe a intromissão indevida do município em um equipamento que não tem a atribuição de gerir, sob pena de responsabilização do gestor.
Depois é importante informar que a Prefeitura Municipal do Natal está ajudando de forma concreta aos que abraçaram essa causa, disponibilizando tendas, banheiros químicos e guardas municipais para ajudar na segurança da área. Contribui assim com aqueles preocupados com a vida do próximo, diferentemente de alguns que possam estar querendo usar o movimento com outros objetivos que não sejam o interesse público e humanitário.
No mais, é dizer que esse tipo de exploração de tema tão sensível pode ter exatamente o resultado contrário conforme atestam especialistas que detectaram o efeito Werther, segundo o qual o suicídio publicizado serve como um gatilho para uma pessoa sugestionável, o que os especialistas chamam de suicídio por contágio, quando eles eventualmente se espalham por uma determinada comunidade, levando a suicídios em série.
Os que efetivamente querem ajudar deveriam deixar de lado as redes sociais e as câmeras para buscar soluções que vão muito além de uma ação pontual em um local da cidade, mas implicam na elaboração de uma política de saúde pública e também em um trabalho humanitário louvável como fazem diariamente, no anonimato, muitas instituições sociais ou religiosas de diferentes denominações.
Álvaro Dias
Prefeito de Natal
Preocupação Fundamentada
À luz da psicologia e psiquiatria, a preocupação do prefeito é “mais que admirável”. A abordagem, até então, tanto da população através do grupo acampado no local, meios de comunicação e até mesmo o poder público, apenas delimitou-se ao envio de recursos humanos e materiais ao local. Em momento algum foi pensado os fatores: “15 minutos de fama” – para os que almejam tirar vantagem dos holofotes da mídia e querer aparecer na televisão ou através repostes em redes sociais – ; quanto o essencial fator psicológico.
Em nota, reproduzida acima, Álvaro Dias cita o efeito Werther e explica: segundo o qual o suicídio publicizado serve como um gatilho para uma pessoa sugestionável, o que os especialistas chamam de suicídio por contágio, quando eles eventualmente se espalham por uma determinada comunidade, levando a suicídios em série.
Sobre o efeito Werther
O efeito Werther foi o termo designado pelo sociólogo David Phillips em 1974 para definir o efeito imitativo do comportamento suicida. O nome vem da obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, do escritor alemão Wolfgang von Goethe. Nela, o protagonista se suicida por amor.
Rapidamente, logo após a sua publicação em 1774, o livro “caiu nas graças do público”. Infelizmente, a abordagem romantizada pelo autor gerou um efeito negativo, uma vez que cerca de 40 jovens perderam a vida de maneira muito semelhante ao protagonista. Este fenômeno estranho e macabro levou à proibição do livro em países como a Itália e a Dinamarca.
Baseando-se em casos semelhantes, Phillips realizou um estudo entre 1947 e 1968 no qual encontrou dados reveladores. Após o The New York Times publicar uma história relacionada ao suicídio de alguém conhecido, no mês seguinte a taxa de pessoas que se suicidavam aumentava em quase 12%.
Marilyn Monroe: Na manhã de 7 de agosto de 1962, o mundo acordou em choque ao receber a notícia da morte da “Estrela maior de hollywood”. Na noite anterior, a governanta da famosa atriz Marilyn Monroe encontrou o seu corpo no banheiro. A mídia logo confirmou que era um suicídio. Durante os meses seguintes, 303 jovens se suicidaram. O efeito Werther ilustrava mais uma vez as primeiras páginas dos jornais.
Um olhar clínico
Quando o prefeito cita o termo “gatilho”, refere-se às pessoas biologicamente fragilizadas, ou seja, que possuem um diagnóstico clínico e que devido a sensibilidade da de quadros depressivos, associados aos fatores ambientais, traumas e até mesmo efeitos medicamentosos; essa exploração pode gerar “receita” para novos casos – conforme explicado quando nos referimos ao efeito Werther .
Segundo Neury J. Botega (2015), no estudo Crise Suicida: avaliação e manejo (em livro editado pela Artmed), “a suscetibilidade ao suicídio inclui a participação da propensão biológica, movida pela genética, combinada com fatores ambientais, como adversidades ocorridas na infância, desamparo, pessimismo, carência de apoio social, rigidez cognitiva, prejuízo na capacidade de solução de problemas, presença de transtornos psiquiátricos como depressão são fatores suscetíveis ao suicídio”.
Para a psicóloga Ariane Bittencourt, especialista Terapia Cognitivo Comportamental, pessoas com pensamentos suicidas são mais sensíveis ao fracasso e a rejeição, ” Por isso, de um modo geral possuem distorções cognitivas, com pensamentos rígidos que trazem dificuldades para resolução de problemas pessoais e interpessoais”, explica.
Veja a análise a seguir:
De acordo com a psicóloga, são exemplos de distorções cognitivas:
- Pensamento catastrófico: acreditar que o que aconteceu, ou vai acontecer, é algo tão terrível que a pessoa não tem condições de suportar;
- Rotulação: Atribuir traços negativos a si mesmo, e ao próximo;
- Atribuições de culpa: Recusar-se a assumir responsabilidades e culpar terceiros pelos seus atos.
Orientação:
Para tanto, Dra. Ariane deixa a seguinte orientação:
É importante estarmos atentos aos sintomas de humor deprimido, que sinalizam tristeza recorrente, por exemplo: com diminuição do interesse por atividades que antes eram prazerosas. A variação da perda ou ganho significativo de peso, falta de energia, alteração do sono, dificuldade de concentração, isolamento social, pensamentos recorrentes de morte, são indicativos que podem levar ao suicídio.
Algumas atitudes podem modificar esse quadro, como por exemplo: buscar empatia pela pessoa que passa por dificuldades, não julgar, acolher e apoiar os outros, pois é importante estar atento as nossas emoções e de quem está em nosso entorno.
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