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‘Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC’, afirma delegado

FOTO: REPRODUÇÃO

O avanço do Comando Vermelho (CV) ultrapassou há muito as fronteiras do Rio de Janeiro. A facção hoje expande seus domínios e negócios por quase todo o país, a ponto de, segundo o delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, rivalizar diretamente com o Primeiro Comando da Capital (PCC) pela hegemonia do crime organizado no Brasil.

— Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo apenas segurança pública, mas soberania nacional e quem manda no país — alerta o delegado, em entrevista à série Conexões do Crime, do EXTRA, que aborda a origem e as consequências da expansão do CV pelo país.

De acordo com levantamentos recentes da Polícia Civil, traficantes de 13 estados já se refugiam em áreas sob domínio do Comando Vermelho no Rio. O Pará é o principal deles, com 78 criminosos identificados em grandes complexos cariocas. Esses movimentos são reflexo de uma estratégia de expansão que transformou o Rio de Janeiro em um centro de operações e abrigo para chefes de facções espalhados pelo país.

Nos bastidores dessa rede, penitenciárias federais e advogados ligados ao crime cumprem papéis decisivos. Enquanto os presídios se tornaram pontos de encontro e comunicação entre lideranças de diferentes regiões, advogados criminosos — que usam a profissão para fazer trocas de recados entre traficantes, a chamada “sintonia” — atuam na troca de mensagens e ordens entre os chefes, sustentando a coordenação nacional da facção.

A combinação desses fatores permitiu ao Comando Vermelho criar uma espécie de franquia do crime, hoje presente em 25 estados e no Distrito Federal. O modelo fortaleceu a estrutura do grupo e deu estabilidade aos negócios, com líderes controlando territórios à distância, protegidos nas comunidades cariocas.

Essa expansão forçou também uma reação das polícias estaduais, que passaram a compartilhar informações e operações em rede. Grupos de WhatsApp reúnem delegados e chefes de investigação de todo o país, trocando dados sobre foragidos, mandados e conflitos entre facções.

No fim de setembro, por exemplo, uma operação conjunta entre as polícias Civil e Militar do Rio e as forças de segurança do Pará prendeu uma mulher apontada como elo entre os dois estados, integrante do tráfico nas comunidades da Gardênia Azul e Cidade de Deus, na Zona Sudoeste carioca — um retrato concreto das novas conexões do crime.

Na Rocinha, Zona Sul do Rio, o apoio nas últimas operações veio da Polícia Civil do Ceará. Em dezembro de 2024, agentes foram à comunidade para cumprir 34 mandados de prisão e nove de busca e apreensão contra traficantes cearenses e goianos escondidos por lá. À época, as autoridades afirmaram que os criminosos, muitos foragidos, usavam a comunidade como esconderijo e mantinham poder sobre seus estados num esquema de “home office”.

Em maio deste ano, a ação foi repetida e revelou um contexto ainda mais desafiador: cerca de 400 traficantes da comunidade foram flagrados, por drones operados pela Polícia Militar, em fuga pela mata da região. Todos estavam armados com fuzis e usavam roupas camufladas.

Um dos alvos foi José Mario Pires Magalhães, o ZM, o principal nome do Comando Vermelho no Ceará, segundo a polícia. Ao lado de comparsas, ele escapou das duas investidas e continua a morar na Rocinha, com aval do chefe do tráfico na favela, John Wallace da Silva Viana, o Johny Bravo. Natural de Canindé, cidade do sertão do Ceará com menos de 80 mil habitantes, ele vive há pelo menos dois anos numa casa luxosa com banheira de hidromassagem e vista para a Praia de São Conrado, na Zona Sul do Rio.

Extra

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