Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata a vice na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT) a presidente da República, foi pega na mentira depois que a Polícia Federal vasculhou seu telefone no âmbito da operação Spoofing, cujo escopo investiga a invasão a celulares de autoridades do País. A ex-deputada foi citada pelo hacker Walter Delgatti Neto como a interlocutora entre ele e o jornalista do “The Intercept” Glenn Greenwald.
Em resposta à acusação, Manuela confirmou a versão do criminoso, mas disse que conversou com Delgatti Neto apenas uma vez. Ledo engano: a conversa entre os dois se estendeu por nove dias e teve direito até a compartilhamento de visão de mundo. O inquérito sigiloso da PF mostrou que a troca de mensagens ocorreu entre os dias 12 e 20 de maio deste ano. Ela havia dito antes que só falara uma vez, no dia 12 de maio, Dia das Mães.
“Greenwald ficou louco”
Em um dos diálogos, o hacker disse ansiar por justiça e não por dinheiro. Há controvérsias. D’Ávila, por sua vez, indicou o nome do jornalista Greenwald como a melhor pessoa para lidar com as informações vazadas. Até então, Delgatti não havia pensado em seu nome, mas depois da indicação chegou à conclusão que o jornalista americano era realmente a sugestão mais prudente. “Era tudo o que eu precisava. Mas acredito que não caiu a ficha de Greenwald ainda”. E a ex-deputada rebateu: “Caiu, sim. Por isso pensei no jornalista mais capaz e com credibilidade mundial”.
Mesmo após o avanço das conversas entre o hacker e o jornalista, o diálogo com Manuela continuou. Delgatti vibrou com o sucesso da interlocução. “Ele ficou louco lá. Foi comprar computadores novos para os arquivos. Já fizeram não sei quem ir de Brasília até eles”, disse o hacker à ex-deputada. Também afirmou que se não tivesse tido a iniciativa de procurá-la, o Brasil teria “quebrado”: “Dei sorte de chamar você. Eles iam privatizar tudo. O País ia falir. Todos os acordos prontos. Um golpe gigantesco ia ser concretizado”, escreveu.
O inquérito da Operação Spoofing reuniu 38 reproduções de tela de celular de conversas, cuja organização foi feita pela defesa de Manuela D’Ávila. Delgatti foi o primeiro alvo da operação e está detido atualmente no Complexo da Papuda, em Brasília. Junto dele, a PF prendeu mais três pessoas. Na segunda etapa, mais duas. A investigação é sobre o vazamento de mensagens entre procuradores como Deltan Dallagnol e o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que tiveram suas conversas obtidas ilegalmente pelos hackers.
iG