Segundo a investigação, a carga do sobrenome levou a jovem a se suicidar no domingo passado. Antes de celebrar sua festa de formatura por ter concluído a carreira de Economia na Università degli Studi Mediterranea de Reggio Calabria, Maria Rita confessou ao namorado e aos amigos quem era seu pai. Ninguém foi à festa, e ela se jogou da varanda de sua casa, sem deixar mensagem de despedida.
A notícia comove a Itália porque fala de uma jovem que quis encontrar nos estudos uma forma de se distanciar dos crimes da família e de fugir da ‘Ndrangheta. Ela teve sempre boas notas e participou de viagens de estudos a Frankfurt e Bruxelas para visitar o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, com a intenção de sair de sua região. Mas a rejeição social foi mais forte que tudo isso.
O promotor-chefe de Reggio Calabria, Federico Cafiero de Raho, disse que “o isolamento, a marginalização e a exclusão a levaram a tirar a própria vida”. E acrescentou: “Isso deve tocar a consciência de todos. Se há uma menina que abriu um caminho na vida acadêmica com sua própria honestidade, que conseguiu se formar como uma maneira de se distanciar da família mafiosa da qual fez parte, e não somos capazes de integrá-la, todos perdemos.”
Para Raho, a morte da estudante “é um fato gravíssimo pelo qual todos somos responsáveis. Perdemos uma jovem que tentava tomar um caminho diferente. Não tivemos a sensibilidade de compreender que há mudanças nas quais todos devemos participar.”
A família da jovem pediu a realização de uma autópsia, e o funeral foi adiado até que seja conhecido o resultado. O advogado dos Logiudice, Renato Russo, afirmou que a família quer descobrir qual é a causa da morte e chegar a qualquer pista que possa explicá-la. “A mãe disse que a viu muito estranha e alterada na noite anterior ao suicídio, e isso é algo que ficou gravado em sua mente, porque a menina não bebia, não fumava e nunca consumia drogas.”
Angela Corica, jornalista de Il Fatto Quotidianoespecializada em máfia, procedente da mesma região que Maria Rita e também vítima dos grupos criminosos – que a ameaçaram e agrediram por revelar seus delitos –, acredita que a mudança à qual o promotor se refere “ainda não é possível”. Diz que “o papel das vítimas aparece sempre muito distante” e lembra que, neste caso, as pessoas não souberam interpretar as mensagens da vítima, a vontade que ela tinha de fugir de um mundo ao qual não pertencia. Corica se pergunta quanto um sobrenome como Logiudice pode atormentar uma garota que sonha com um futuro longe da dor e da morte, da prisão e da lei do silêncio.
Fonte: El Pais