Xuxa Meneghel, de 56 anos de idade, usou sua coluna na Vogue para abrir o coração sobre os abusos que sofreu em sua infância. No texto, Xuxa descreve o caso como o mais difícil que já viveu e que tomou a iniciativa de falar abertamente sobre o tema para tentar ajudar outras pessoas. Para começar o relato, ela começa falando da época que tinha quatro anos de idade e morava no Sul com sua família quando o caso ocorreu.
Minha mãe costumava colocar um edredom no chão depois do almoço e deitar com nós cinco para tirar um soninho na parte da tarde. Eles costumavam nos dar um elixir que abria o apetite. Como sou intolerante ao álcool e sei que este elixir tinha – mesmo que em dose pequena – dormia mais profundo do que meus irmãos. No Sul também era comum misturar vinho com água e açúcar e dar para as crianças, o que também me deixava com mais sono do que o normal, falou.
Também explicou que sua mãe não teve auxílio de nenhuma babá para cuidar dela e de seus irmãos.
Minha mãe ficou grávida muito cedo e nunca teve babá, tentava dar de tudo para nós cinco. Hoje em dia, as pessoas podem ver isso como falta de cuidado, mas não foi o caso da minha mãe, que nunca deixaria nada de mal acontecer com um dos cinco filhos dela. Mas aconteceu. Depois de anos, perguntei às minhas irmãs se algo parecido tinha acontecido com elas também, mas para minha surpresa, não, revelou.
Logo em seguida, a apresentadora deu detalhes sobre o abuso.
Por que fui a escolhida? Não sei, mas me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e os meus irmãos disseram que eu tinha sonhado. Essa foi minha primeira experiência com abuso sexual, que, diga-se de passagem, eu não me lembro direito, mas existiram outros casos…, falou.
Xuxa, então, relembra outro caso que teria ocorrido quando ela tinha cinco ou seis anos de idade.
Me lembro que andávamos de Kombi. Nós crianças íamos atrás. Eu tinha cinco ou seis anos e os mais velhos eram pré-adolescentes, primeiros de segundo grau e amigos muito próximos da família. Sentia tocarem em mim, colocavam o dedo, doía, não sabia distinguir o que sentia, por isso não chorava e nem reclamava com ninguém sobre o acontecido. Essa mesma pessoa vinha ao Rio quando eu já tinha entre nove e dez anos, e, quando a família dormia, colocava seus dedos por debaixo dos lençóis e me tocava. Nesse tempo, esse parente distante já era um adolescente e sempre que podia me tocava. Por que eu não gritava, não chorava? Não sei!, desabafa.
Quando tinha 11 anos de idade, a apresentadora também conta de outro caso que sofreu com um professor.
Meu professor de matemática do colégio Itu, que atendia pelo nome de Maurício, me chamou depois da aula e, mesmo na frente da minha amiga Yara, ele disse que queria me deixar só de calcinha e colocar nas minhas coxas. Me perguntava: o que seria isso? Foi então que eu vi pela primeira vez alguém se masturbar. No outro dia, ele mandou que eu fosse ao quadro para escrever alguma coisa antes que os outros alunos da sala entrassem. Era hora do recreio, ele disse que isso iria me ajudar nas notas finais. Escrevi o que ele queria no quadro e vi que ele se tocava embaixo da mesa, usava uma calça quadriculada e se mexia muito, não entendia muito bem o que ele tava fazendo… foi aí que o ouvi gemer e depois se limpar. Eu perguntei o que tinha acontecido, se aquilo era colocar nas coxas. Ele riu e disse que não, mas que faria isso em mim, que não iria me machucar e que se eu falasse pra alguém sobre o que eu tinha visto ou o que ele havia falado, ninguém iria acreditar, pois entre a palavra de um aluno e de um professor, o professor sempre ganha, contou.
A apresentadora contou que, depois do ocorrido, ela e seus irmãos foram transferidos para outra escola. No entanto, Xuxa voltou a sofrer com assédios, desta vez dentro de casa. O agressor seria um namorado de sua avó identificado como Ubirajara.
Eu ia ao apartamento dela, ficava vendo TV e o futuro vovô ficava perto e me fazia carinho até que minha vó fosse costurar e ele pedia para eu sentar no colo dele. Às vezes ele tomava banho e deixava a porta aberta. O barulho que minha vó fazia enquanto cozinhava ou costurava o deixava livre para vir até a porta se tocar me olhando. Eu não entendia por que ele fazia isso e nunca perguntei nada. Então, ele começou a tocar meus futuros peitos – sim, ainda não tinha nada a não ser um mamilo um pouco maior. Uma vez vendo TV, ele acariciou meu cabelo, o cheirou e logo depois desceu a mão para os meus (quase) seios e os apertou. Doeu e eu o fiz parar, e ele disse que era só um carinho e que só o vovô podia fazer porque me amava como neta, detalhou.
Por fim, Xuxa conta por que decidiu quebrar o silêncio sobre o abuso anos após o ocorrido.
Me calei até os quase 50 anos, quando resolvi falar no Fantástico, pois queria divulgar o disque denúncia, o Disque 100. Queria alertar as pessoas. Nós geralmente não queremos falar, porque é feio, porque não é certo, porque aprendemos que sempre tem que ter um culpado numa situação como essa. E é claro que nos sentimos culpados – eu me sentia culpada apenas por existir. Dos 4 até os meus 13 anos, eu passei por várias situações que me fizeram ter mania de limpeza. Tomo de 3 a 4 banhos por dia, tenho vontade de estar com crianças pois elas não me fariam nenhum mal – isso é coisa de adulto. Hoje, quero emprestar minha voz em campanhas para crianças que não falam, não gritam e choram sozinhas. Eu preciso fazer isso por elas, já que não fiz por mim, concluiu.
Relembre relato de Xuxa no Fantástico