Pela primeira vez, um estudo lançou um olhar socioeconômico sobre a questão da obesidade no Brasil. E o resultado da análise não poderia ser mais surpreendente. O trabalho mostra, por exemplo, que o fator mais relevante associado à doença não é, como se imagina, o consumo de alimentos calóricos – embora ele não deixe de ser pertinente.
Outros vilões, muitos deles, em essência, econômicos, ocupam os primeiros lugares da fila entre as principais causas do problema. Eles incluem o sedentarismo, a faixa etária e o gênero. O envelhecimento da população, um fator demográfico, representa o maior risco para o avanço da cota de obesos no médio prazo no país. A pobreza não é, necessariamente, um fator determinante da doença.
Tais constatações foram feitas a partir da pesquisa Obesidade e Consumo das Famílias Brasileiras – Um Diagnóstico e Implicações para as Políticas Públicas, realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “A novidade é que, pela primeira vez, um estudo identifica os fatores multidimensionais do problema”, diz o economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP) e coordenador do trabalho. “Até então, era muito comum as pessoas associarem a doença a um item ou a um tipo de alimento e mais nada.”
Sobre os novos fatores observados, Holland considera, por exemplo, que o sedentarismo conta com uma espécie de “ecossistema” que o fortalece. “Ele começa em casa, onde mais de 20% da população adulta assiste, em média, a três horas de TV por dia, segue no trajeto para o trabalho, realizado de carro ou por meio de transporte público, e continua no escritório, ou mesmo, na escola”, afirma. “O resultado disso é um nível muito baixo de atividade física.”
Poucos exercícios
Estudos mostram que o brasileiro pratica, em média, 1,3 hora de exercícios por semana. “A recomendação médica é de, pelo menos, três dias por semana, com 50 minutos de atividade em cada um deles”, afirma o professor da FGV. “Além do mais, cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil estão associados ao setor de serviços, onde o sedentarismo tende a ser mais comum.” Holland observa ainda que há maior prevalência da obesidade em áreas urbanas do que nas rurais.
De acordo com a pesquisa, por tudo isso, o sedentarismo antecede o consumo de calorias na ordem das principais causas da obesidade no Brasil. Mesmo porque, sem a atividade física, não é possível se chegar a um equilíbrio razoável entre a ingestão e o gasto calórico. “Além do mais, na comparação entre indivíduos tanto com peso normal como com sobrepeso e obesidade, não há diferenças estatisticamente significativas em relação ao consumo de calorias”, diz o acadêmico.
Envelhecimento
O estudo constatou ainda uma maior prevalência da obesidade nas faixas etárias entre 40 a 59 anos, tanto para homens como para mulheres. “Isso preocupa porque a população brasileira já passa, e continuará passando, por um acentuado processo de envelhecimento”, diz o professor da FGV.
Metrópoles