A postura do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Geral da ONU foi alvo de duras críticas por parte do jornal Estadão por ter escancarado o alinhamento do Brasil atual com “países autocráticos” e o “rancor antiocidental” do presidente. Em editorial intitulado Papelão do Brasil na ONU e divulgado nesta terça-feira (1°), o periódico aponta o abandono por parte do Brasil de sua “independência diplomática” e de seus “valores democráticos”.
– Sob o governo Lula, o Brasil abandonou quaisquer vestígios de independência na polarização geopolítica entre o eixo autocrático sino-russo-iraniano e as democracias ocidentais. A Assembleia Geral da ONU explicitou esse alinhamento. Sua imagem mais reveladora foi o boicote da delegação brasileira ao discurso do premiê israelense, Benjamin Netanyahu. Enquanto isso, diplomatas brasileiros persuadiam países do “Sul Global” a apoiarem a proposta da China para a guerra na Ucrânia, que na prática equivale à rendição de Kiev aos agressores russos – apontou o Estadão.
O jornal frisa que, embora Israel possa ter cometido “excessos”, a guerra travada pelo país é uma guerra de defesa. O texto pontua que o Irã e seus aliados terroristas não ameaçam apenas Israel, mas também as democracias mundiais e as nações sunitas, como Egito, Arábia Saudita, Argélia e Turquia.
– Israel vem sendo reprovado por “escalar” os conflitos no Oriente Médio, mas a escalada começou há um ano, com o ataque do Hamas a Israel. Ato contínuo, outros grupos patrocinados pelo Irã iniciaram agressões, listadas por Netanyahu: mais de 8 mil foguetes lançados pelo Hezbollah, centenas de ataques com drones dos houthis do Iêmen, dezenas de ataques das milícias xiitas da Síria e Iraque, além das centenas de drones e mísseis lançados pelo próprio Irã. Ainda há mais de 100 reféns israelenses cativos do Hamas e mais de 60 mil israelenses evacuados em razão das agressões do Hezbollah – enumerou o Estadão.
O editorial observa que o Brasil não protestou contra o discurso do chanceler russo, tampouco do presidente iraniano, Masoud Pezeshkian. Muito pelo contrário, o governo brasileiro compareceu na figura do vice-presidente Geraldo Alckmin à posse de Pezeshkian, em assento de honra ao lado de chefes terroristas do Hamas, do Hezbollah, da Jihad Islâmica e dos houthis.
– A falsa equivalência salta aos olhos ante o tratamento seletivo de Lula. Desde que Lula foi reprovado pelo governo israelense por comparar as operações em Gaza ao Holocausto, o Brasil deslocou seu embaixador em Israel e adia sine die (sem fixar data futura) a indicação de outro, o que equivale a um rompimento diplomático de fato. Já com Moscou mantém intensas conversações e trabalha para ampliar a importação de insumos russos. Lula chegou a dizer que ignoraria o TPI e que Putin poderia visitar o Brasil impunemente – lembra o texto.
O Estadão não deixou de mencionar que o posicionamento de Lula ante à América do Sul segue a mesma linha e cita os pesos e medidas contraditórios para com a Argentina e Venezuela.
– Pretextando ofensas pessoais, Lula se recusa a conversar com o presidente da Argentina, principal parceira comercial e geopolítica do Brasil na região. Mas quando se trata do peão sino-russo, a Venezuela, mesmo com os calotes, descumprimentos de pactos patrocinados pelo Brasil, ameaças de invasão a um vizinho, o roubo das eleições, a criminalização da oposição e até as chacotas de Nicolás Maduro com o próprio Lula, o presidente continua a sustentar a perspectiva farsesca de mediar negociações entre governo e oposição. A Venezuela não foi citada uma só vez por Lula na ONU – frisou.
O editorial finaliza defendendo que essa sequência de acontecimentos, além de desmoralizar a diplomacia brasileira, também prejudica a importação de tecnologias críticas que sustentam o arsenal militar do Brasil. Para o jornal, não trata-se de “pragmatismo”, mas sim de uma ideologia de péssima qualidade.
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