
Os moradores do condomínio Solar de Brasília, onde Jair Bolsonaro (PL) mora e cumpre prisão domiciliar imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (4/8), estão preocupados com uma possível invasão e depredação. Em grupo de Whatsapp, citam o que ocorreu em 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram vandalizadas por apoiadores do ex-presidente pedindo intervenção militar.
No grupo “Assuntos Gerais solar BSB”, os moradores têm intensificado mensagens após a decretação da prisão domiciliar do vizinho, reclamando do aumento de pessoas em frente à entrada do condomínio com casas de alto padrão, o que provoca engarrafamentos diários. Eles também externam oposições políticas e ideológicas, evidenciando um racha provocado pela polarização entre esquerda e direita.
A equipe de O TEMPO em Brasília teve acesso ao conteúdo. “Se invadirem o Solar e quebrarem tudo, não adianta mandarem a conta para eu pagar”, escreveu um dos moradores. “Quando os baderneiros invadirem e quebrarem tudo, vão mandar a conta para quem?”, reforçou outro. “Não cabe a nenhum morador do condomínio ou de outra região impedir uma manifestação pacífica”, rebateu uma vizinha.
“Esse clima de caça às bruxas não levar ninguém à nada. Tudo isso vai passar, gente. Sendo ele inocentado ou condenado, ele é só um inquilino que daqui a pouco nem mora aqui mais. e nós vamos continuar aqui no grupo e com nossos vizinhos”, pregou uma moradora. Foi aventada até a questão da possível expulsão de Bolsonaro e proibição de jornalistas ficarem na frente do residencial.
“Não se pode expulsar o morador, que está em seu direito de residência, nem a mídia, que está a trabalhar. Segue o jogo”, escreveu um morador. ”Para mim, o problema de quem deve à Justiça é problema do devedor”, comentou outro, referindo ao ex-presidente.
Síndico prega paz e nega pedido de expulsão de Bolsonaro
A situação levou o síndico, Marcelo Feijó, a publicar uma carta aos condôminos, em que abordou a publicação de conteúdo do grupo após a primeira reportagem de O TEMPO sobre o incômodo dos moradores com a intensa movimentação no entorno do residencial, provocada pela decisão de Moraes contra Bolsonaro. O síndico negou qualquer pedido para expulsar o ex-presidente, como havia sido publicado em outro site.
“Quanto ao veiculado interesse de ‘expulsão’ de morador, trata-se de uma condição inexistente e atípica, pois não é de conhecimento e, tampouco, se apoia na legalidade”, reforçou Marcelo Feijó em “informativo” enviado aos moradores na quarta-feira (6/8). Ele frisou que o condomínio “respeita e defende a liberdade de expressão, assegurada constitucionalmente, desde que exercida de forma responsável e respeitosa”.
“As mensagens trocadas em grupos de moradores representam, exclusivamente, a opinião pessoal de seus participantes, e não refletem, necessariamente, o posicionamento institucional do Condomínio ou de sua Administração. O Condomínio é uma entidade apartidária e não adota qualquer posicionamento político, sendo neutro em relação a debates de cunho ideológico ou partidário”, ressaltou Feijó
Como revelou O TEMPO, entre outras coisas, os moradores estão preocupados com o possível acampamento de apoiadores do ex-presidente na frente do condomínio. “Eu só quero chegar em casa. O trânsito não anda”, reclamou uma moradora, na noite de segunda-feira, enquanto apoiadores de Bolsonaro faziam um buzinaço em frente ao condomínio. “Se esse povo vier protestar aqui, é um erro”, escreveu outra, a caminho de casa. Alguns sugeriram levar o ex-presidente para o presídio da Papuda, que fica perto do condomínio.
Também houve quem foi à porta do Solar de Brasília apoiar a decisão de Moraes. Um trompetista tocou a marcha fúnebre com seu instrumento, em uma clara provocação a Bolsonaro e apoiadores. “Buzinaço, polícia, corneta, um inferno”, escreveu um morador no grupo de Whatsapp. A Polícia Militar enviou uma equipe ao local.
O Solar de Brasília fica na região administrativa do Jardim Botânico, área nobre de Brasília tomada por dezenas de condomínios horizontais. A casa onde Bolsonaro mora é alugada, paga pelo PL, partido que tem Bolsonaro como presidente de honra. Ela fica a cerca de 10km (20 minutos de carro, dependendo do fluxo) do Congresso Nacional.
Bolsonaro e família chegaram a morar em outra casa no mesmo condomínio. Em novembro de 2024, após reclamar do pouco espaço e da falta de privacidade devido à curiosidade dos vizinhos, o ex-presidente mudou para a casa atual, onde a PF cumpriu a ordem judicial de Moraes na segunda-feira.
O Tempo

