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Desligamento de trabalhadores por morte sobe 73% na pandemia

DESLIGAMENTOS DO TRABALHO POR MORTES. FOTO: ALEX RÉGIS

O número de trabalhadores que se desligaram dos seus empregos porque morreram aumentou 73,2% entre 2019 e 2021 no Rio Grande do Norte. Segundo informações do Ministério do Trabalho e Previdência, em  2019, ano pré-pandemia, foram registrados 471 encerramentos de contratos formais (CLT) por razão de morte, sendo que, em 2021, o número pulou para 816. Em 2020, morreram 560 trabalhadores potiguares que estavam com a carteira assinada. A partida repentina desses trabalhadores afeta o mercado de trabalho e a economia, além da estrutura emocional e financeira de suas famílias.

No último ano pré-pandemia, em 2019, 471 pessoas foram desligadas de empregos formais por morte. No ano passado, o número saltou para 816 desligamentos.

“A grande maioria era de chefes de família que estavam empregados ou informais. Quando esses trabalhadores deixam de produzir, gera o desconforto na família porque a renda deixa de entrar, mas também há essa variável no contexto da produção e da renda”, avalia o economista  Janduir Nóbrega, ex-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN).

A mão-de-obra especializada que se perdeu com essas mortes é outro impacto que ele aponta para a economia. “As partidas repentinas e com frequência, como se viu na pandemia,  além de desestruturar as famílias e a sobrevivência dos dependentes, afetam ainda as empresas que precisam refazer a mão-de-obra. Isso porque tem ainda os que ficaram encostados com sequelas, que se afastaram ou se aposentaram nesse período”, avaliou o economista.

Apesar de serem substituídos por outros, em muitos casos é difícil conseguir preencher a lacuna deixada com a mesma qualificação de uma hora para a outra. São profissionais de diferentes áreas, capacitados, experientes ou que executam a função há muito tempo. O primeiro a morrer no Rio Grande do Norte vítima da covid-19, por exemplo, foi um professor da Universidade Estadual (UERN). Luiz di Souza, de 61 anos, trabalhou durante mais de 20 anos na universidade, em setores como a graduação, iniciação científica, extensão e pós-graduação, mas faleceu no dia 28 de março de 2020, depois de dar entrada uma semana antes no hospital de uma rede privada de Mossoró.


Entre seus projetos, destaca-se o grupo Fanáticos da Química, que utiliza a linguagem lúdica na popularização da Ciência. “Luiz foi um gigante. Sua vaidade era publicar, trabalhar, ensinar, ajudar e orientar seus alunos. Já fazia experimentos e publicava suas pesquisas em uma época em que não tínhamos um só reagente. Seu trabalho extrapolou a Universidade, que rende suas homenagens a este grande educador”, afirmou o então reitor Pedro Fernandes, ao indicar  o nome de Luiz di Souza para receber o Título Honorífico “Doutor Honoris Causa“ na Assembleia Universitária dos 52 anos da UERN em setembro de 2020. 
Na área das artes o luto pelo falecimento do escritor, dramaturgo e poeta falecido em outubro de 2020, aos 60 anos, em decorrência da covid-19, Júnior Dalberto, também representou uma lacuna que não se preenche no campo dos saberes. Dalberto teve projetos interrompidos também mas que não ficaram para trás.


O primeiro exemplar de seu legado artístico que ele deixou foi o livro “O último Nephilim”, publicação póstuma e inédita pela editora CJA, com recursos da Lei Aldir Blanc. O livro celebrou no ano passado a memória de Dalberto no momento em que se completou 10 anos de lançamento de sua primeira obra literária.


“No dia que Júnior se internou, ele me enviou dois livros prontos, sendo um de contos e um de poesia. Ao todo, ele deixou cinco livros prontos para serem publicados. E tem outros escritos ainda por serem finalizados. Pretendemos ir publicando essas obras. Júnior era um dos maiores escritores da editora e um amigo querido, que sempre estava planejando algo novo. Vamos dar andamento ao legado dele”, disse Cleudivan Jânio, editor da CJA, na ocasião.


Não é possível afirmar com garantias que aumento dos óbitos que retiraram profissionais do mercado de trabalho foi causado pela covid-19 já que o levantamento não traz as causas das mortes e reflete apenas o mercado formal. Porém, os dados, baseados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência, coincidem com o período no qual morreram por 7.571 pessoas no Rio Grande do Norte, entre adultos e crianças – até 31 de dezembro de 2021 – vítimas do novo coronavírus.
Além disso, se for comparar o número de desligamentos de trabalhadores falecidos nos anos anteriores, verifica-se que esse número ficou estável entre 2018 e 2019, com 475 e 471, respectivamente, registrando um acréscimo exorbitante nos anos da crise sanitária. Dessa forma, o aumento nos dois anos subsequentes indica a dimensão do impacto da pandemia do novo coronavírus no país no mercado de trabalho formal.


Óbitos de médicos aceleraram transição etária


Um dos setores que mais sofreu perdas de trabalhadores capacitados foi o que mais trabalhou para conter a pandemia: o setor da saúde, que perdeu profissionais das mais diferentes especialidades e serviços. No Rio Grande do Norte, somente de médicos foram 35 óbitos, segundo o Sindicatos dos Médicos do Estado (Sinmed). No Brasil, cerca de mil foram vitimados. Esse dado não inclui outros profissionais da saúde. A maioria trabalhava na linha de frente nos serviços de urgência e emergência, clínica médica, terapia intensiva, pediatria, UPAs, cirurgia, anestesiologia e faleceram, a maior parte, na primeira onda da doença, ainda em 2020, pela variante Delta.


“A doença realmente vitimou esse número de médicos entre 50 e 60 anos que tinham doenças crônicas leves. Claro que estevam no auge da vida profissional com cerca de 30 anos de carreira e tinham muito a contribuir por mais 15 ou 20 anos”, explica o presidente do Sinmed/RN, Geraldo Ferreira.


Dessa forma, avalia, essas mortes impactaram o setor ajudando a acelerar um processo de transição demográfica. Isso porque, aumentou o número de médicos mais jovens assumindo postos, especialmente nas especialidades mais afetadas com mortes de profissionais durante a pandemia.


“Temos dois fatores provocados pela pandemia: os óbitos e afastamento. O número de médicos que anteciparam suas aposentadorias para preservar suas vidas aumentou. Temos uma transição demográfica acentuada no setor. A maioria foi substituída por profissionais jovens que, claro, têm capacitação para a função, mas que levarão ainda algum tempo para atingir atingir o auge da potencialidade, o mesmo grau de experiência dos que se foram ou se aposentaram”, comenta o Ferreira. Atualmente o Rio Grande do Norte conta com 7 mil médicos em atuação, dentre os 10 mil inscritos no Conselho Regional de Medicina. Somente em Natal estão cerca de 4.5 mil.


Mercado perde qualificação, diz especialista


O administrador e especialista na área de finanças, Henrique Clementino de Souza, destacou que é preciso se considerar que as mortes causam impactos na economia por meio da qualificação dos trabalhadores formais, em razão de que isso afeta de forma macro no aspecto da produtividade, bem como de forma micro como é o caso das famílias.


“Esses trabalhadores quem vêm a óbito acumularam ao longo de suas vidas conhecimentos que não são repassados para outras pessoas de uma forma simples, como se possa imaginar, neste caso, por exemplo, em setores como saúde e indústria. Pessoas que venham a substituir aqueles trabalhadores formais que faleceram precisam ter acumulado conhecimentos, informações e pesquisas que os darão a experiência necessária para inserção e manutenção no mercado de trabalho”, pontua Henrique Clementino.


Ele acrescenta que, além do impacto de uma vida que se perdeu, a economia sente o efeito de os trabalhadores formais precisarem ser substituídos num processo que demanda tempo para o preenchimento dentro de um perfil com as competências requeridas pelo mercado de trabalho. “Também se representará como um custo não planejado pelas empresas para contratação e treinamento de novos funcionários que resultem nas substituições necessárias. Este trabalhador formal que falece resulta num impacto econômico com a perda de uma renda que passa a não mais existir no cenário econômico em vigor e, por sua vez, não há mais o processo de compra”, avalia.


Desligamentos


RN2019

Total: 166.965

Morte: 471

2020

Total: 144.479

Morte: 560

2021

Total: 158.436

Morte: 816

Tribuna do Norte

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