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Damares Alves: ‘Sou apaixonada pela Regina Duarte; ela veio para unificar’

A MINISTRA RECLAMA DE QUE AS FEMINISTAS NÃO A APOIAM QUANDO É ATACADA E REVELA QUE VAI CONVERSAR COM UM DOS PASTORES POR QUEM FOI ABUSADA NA INFÂNCIA. FOTO: CRISTIANO MARIZ

Advogada e pastora evangélica, Damares Alves, 56 anos, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, coleciona polêmicas desde que foi alçada ao primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro. Aliás, desde antes: é obra sua a popularização de um fictício kit gay citado a todo instante na campanha presidencial. Falante e bem articulada, ela é capaz de, em um mesmo raciocínio, relativizar com altas doses de benevolência as grosserias de Bolsonaro (“o meu presidente”) contra mulheres e expor críticas aos movimentos feministas por dizer não ter o apoio deles quando é posta na vidraça. Mãe de uma jovem indígena de 21 anos, divorciada mas avessa à ideia de permanecer no celibato, Damares conta que continua recebendo ameaças e, por isso, vive cercada de seguranças.

No gabinete onde falou a VEJA, enfeitado de bonecas multirraciais, repousa uma ilustração da ministra, ainda na infância, no alto da já célebre goiabeira onde teria avistado Jesus Cristo.

Como a senhora avalia os ataques de cunho sexual que o presidente Jair Bolsonaro faz a mulheres?

Não vou julgar meu presidente. Só posso dizer que, desde a Câmara dos Deputados, Bolsonaro era o homem mais amado pelas assessoras por causa de seu comportamento gentil. Ele chega a me acordar de madrugada preocupado com o feminicídio. Mas temos uma imprensa cruel que finge que não compreende, que precisa ficar batendo no presidente.

Não a incomoda em nada que Bolsonaro pronuncie grosserias, como quando repetiu a insinuação de que uma jornalista teria usado sexo em troca de informações?

Olha, a imprensa adota dois pesos e duas medidas. Por exemplo, eu esperava que vocês, mulheres jornalistas, fizessem um manifesto a meu favor quando um colega disse que eu perdi a chance de transar com Jesus aos 10 anos, no pé de uma goiabeira. Esperei por uma reação e não vi nenhuma.

Mas isso não atenua as ofensas do presidente, certo?

Não acho que o mal se paga com o mal, mas, como já disse, prefiro não julgar o presidente.

A propósito do episódio da goiabeira, a senhora guarda mágoa das pessoas que a ridicularizaram por ter dito que avistou Jesus na tal árvore?

Eu não tenho mágoa de quem me chama de tresloucada. Quando falam de Deus, aí, sim, é que me dói muito. É a mesma dor daquela velhinha lá do Nordeste que vê uma imagem de Nossa Senhora ser atacada.

A senhora aprovou a indicação de Regina Duarte para a Secretaria da Cultura?

Sou apaixonada pela Regina, e ela veio com a proposta de unificar. Tem muita briga no Brasil. Ela tem sofrido ataques que eu sofri também. Vai responder com trabalho, como eu estou fazendo. No ano passado, nesta data, eu era a louca, a sequestradora de crianças, machista e homofóbica. A imprensa continua me odiando, mas terminei janeiro como a segunda ministra mais bem avaliada. Vão dizer o que agora? Sobre a Regina, só posso acreditar que está acontecendo um tremendo mal-entendido, como houve comigo. O presidente deu carta branca a todos os ministros, mas sempre deixou claro: é para você escolher os seus, mas, se não estiverem alinhados, ele, Bolsonaro, terá o direito de veto. Não é contraditório, não. Afinal, o presidente tem o direito de não se sentir confortável e de opinar se aquela pessoa faz ou não parte da equipe.

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