Brasília parou nos últimos dias para receber a 11ª Cúpula dos Brics. O evento, que desde 2014 não acontecia no Brasil, trouxe para o Distrito Federal os chefes de estado da Rússia, Índia, China e África do Sul e também um Jair Bolsonaro mais pragmático. O presidente brasileiro mostrou-se contido no trato com as potências emergentes, deixando de lado as divergências ideológicas para focar nos acordos comerciais – estratégia que foi bem avaliada pelos analistas ouvidos pelo Congresso em Foco e pode render frutos positivos para a economia e a política externa brasileira.
Professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Juliano Cortinhas admite que a expectativa era grande para a 11ª Cúpula dos Brics. Afinal, o governo Bolsonaro adota um posicionamento ideológico distinto do dos demais integrantes do Brics. Ao contrário da China e da Rússia, por exemplo, busca alinhamento com os Estados Unidos, reconhece o presidente autointitulado da Venezuela, Juan Guaidó, e também a presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez. “O Brasil fez uma guinada ideológica à direita e se afastou dos principais países dos Brics. Os próprios ministros do governo Bolsonaro já criticaram a China por conta do alinhamento com os Estados Unidos, o que dificultou o diálogo com os Brics”, explicou.
Essas diferenças políticas, contudo, foram deixadas de lado por Jair Bolsonaro, por Vladimir Putin e por Xi Jinping nos últimos dias. Ao lado dos chefes de estado da Índia, Narendra Modi, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa; os presidentes do Brasil, da Rússia e da China preferiram focar na agenda econômica na visita a Brasília. A Cúpula dos Brics acabou, então, com anúncios de investimentos do Banco dos Brics, negociações comerciais bilaterais e declarações políticas mais amenas.
“Nos últimos meses, o governo brasileiro tem colocado o pé no freio na ideologia. Começou a ser mais pragmático. Tanto que houve um processo de aproximação com os chineses que se concretizou na visita de Bolsonaro a Beijing e agora com a visita de Xi Jinping ao Brasil. O Brics serviu, então, para amenizar essas diferenças e colocar a política externa no lugar dela. Deixaram de lado assuntos nos quais não ia haver convergência para se concentrar em temas de posicionamento comum. E, assim, foram dados passos na direção de uma maior convergência econômica”, avaliou Cortinhas.
“O governo brasileiro reconheceu a necessidade de negociar com parceiros além dos Estados Unidos. As poucas palavras que o presidente proferiu foram de acolhimento. Isso trouxe razoabilidade para o processo de negociação e deixou um canal aberto entre os parceiros do Brics”, acrescentou o internacionalista Bianor Teodósio.
Explicando que “é importante fazer a dissociação entre a relação política e a relação econômica, porque não dá para escolher parceiros comerciais pela vontade pessoal”, Teodósio acredita, então, que esse posicionamento pragmático adotado por Jair Bolsonaro e também pelos outros líderes dos Brics nos últimos dias pode trazer bons frutos para as potências emergentes, ajudando o grupo a retomar influência política e a fazer negócios mundo afora.
Já houve avanços, por exemplo, nas negociações de acordos bilaterais entre Brasil, China e Rússia – negociação que deixou mais tranquilos os economistas e empresários que, no início do ano durante a guerra comercial entre Estados Unidos e China, temiam que o alinhamento do governo brasileiro com o governo americano atrapalhasse os negócios com os chineses.
No discurso de encerramento dos Brics, Bolsonaro deixou clara essa mudança de discurso, apesar de destacar a soberania brasileira. “A política externa do meu governo tem os olhos próximos do mundo. Mas, em primeiro lugar, do Brasil, para estar em sintonia com as necessidades de nossa sociedade. Reconhecemos como parte de suas obrigações ajudar a ampliar o bem-estar de nossos cidadãos”, disse Bolsonaro, garantindo também que “não entra em guerra comercial”.
O presidente brasileiro, que tem a missão de indicar o próximo presidente do Banco dos Brics no próximo ano, ainda se comprometeu a contribuir com o crescimento do banco criado em 2014 para financiar o crescimento das potências emergentes. Veja o que ele disse sobre o banco que, só nesta cúpula, destinou R$ 1,1 bilhão para o financiamento de projetos brasileiros:
Bolsonaro comemorou, então, o resultado da 11º Cúpula dos Brics e também se disse disposto a continuar colaborando com as potências emergentes. Ao entregar a presidência do grupo para o presidente russo, Vladimir Putin, o brasileiro disse, por exemplo, que a “Rússia poderá contar com todo o empenho e colaboração do Brasil na condução desse importante mecanismo de cooperação”.
Congresso em Foco