No Brasil, uma pessoa se mata a cada 45 minutos. Segundo especialistas, a depressão e o abuso de drogas estão entre os principais fatores de risco.
Em audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), ocorrida na manhã desta quinta-feira (25), os especialistas participantes concordaram com a iniciativa do senador Garibaldi Filho de propor a criação de uma Semana de Valorização da Vida, a ser realizada anualmente, na semana que compreender o dia 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O autor do projeto argumentou que é importante falar sobre o problema, que é cercado de tabus e preconceitos. “A sociedade não tem a dimensão do problema. Nós temos o imenso desafio de fazer com que ela possa se mobilizar em função disso”, observou o senador.
O psiquiatra Quirino Cordeiro, coordenador-geral de saúde mental, álcool e outras drogas, da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, disse que os números são preocupantes e revelam uma tendência de crescimento dessas mortes entre os jovens. “O que a gente percebe é que nos últimos dez anos vêm ocorrendo um aumento significativo, um aumento importante nas taxas de suicídio no Brasil”, afirmou o especialista.
A presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), Maria Dilma Alves Teodoro, enumerou que o aumento no stress no estilo de vida moderno, os tempos de crise política e econômica (desemprego) e a redução no acesso ao tratamento profissional podem contribuir para levar uma pessoa à tentativa de suicídio. Porém, ela destacou que quase 100% dos suicídios tem como base uma doença mental, sendo que na metade dos casos há uma associação entre depressão e o abuso de substâncias psicoativas. Outro dado é que pelo menos 10% das vítimas são esquizofrênicas.
Por sua vez, o diretor de educação da SaferNet Brasil e pesquisador do programa de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rodrigo Nejm, ressaltou a importância da educação na promoção do conhecimento para que os jovens possam melhorar a qualidade de suas escolhas online e navegar na Internet com segurança. Entre outros assuntos, ele abordou o jogo conhecido como “desafio da baleia azul”, que teria levado jovens a se matarem. Segundo ele, desde as primeiras notícias sobre a chegada do jogo ao Brasil, a SaferNet tem coletado evidências e trocado informações dentro do próprio país e no exterior.
Rodrigo disse que não foram encontradas evidências que comprovem a existência de uma ação coordenada, ou de uma estrutura centralizada de comando e controle, que teria sido responsável por criar grupos em aplicativos de troca de mensagens e fóruns em redes sociais com o objetivo de recrutar adolescentes e jovens a cometer suicídio. Existiria, sim, grupos descentralizados criados em sua maioria por adolescentes e jovens, com o objetivo de “trolagem”, praticar “cyberbulling” e, em casos isolados, incitar ou induzir outros adolescentes e jovens vulneráveis a cometer suicídio.
CVV – Os médicos e especialistas explicaram que nove em cada dez casos podem ser evitados com o diagnóstico e tratamento adequados. Eles defenderam que o suicídio deve ser tratado como um problema de saúde pública, por meio de campanhas educativas, programas específicos e a ampliação do atendimento de saúde mental. Também destacaram a recente parceria entre o Ministério da Saúde e o Centro de Valorização da Vida, que tornará gratuita as ligações feitas ao serviço de prevenção ao suicídio até 2020.
A porta-voz do CVV, Leila Herédia, lembrou que o trabalho feito por voluntários busca aliviar o sofrimento e ouvir as pessoas em tempos de crise. “A gente funciona como um pronto-socorro emocional. A pessoa precisa conversar, dialogar, falar das angústias que a estão incomodando naquele momento. Seja de manhã, de tarde, de noite ou de madrugada, ela pode ligar para o CVV que vai ter nos sete dias da semana, nos 365 dias do ano, um voluntário para ouvi-la”, garantiu. O CVV existe há 55 anos e atende no telefone 141, por e-mail ou bate papo na internet no endereço www.cvv.org.br
(Com informações da Rádio Senado)