A Polícia Federal investiga o histórico dos quatro comparsas que foram presos com os fugitivos do presídio federal de Mossoró nesta quinta-feira. Naturais de Ananindeua e Redenção, no interior do Pará, Eliezer Pacheco Santos, Italo Santos Sena, Juarez Pereira Feitosa e Jefferson Augusto Magno Favacho estavam no comboio de três carros que levavam os dois foragidos de Belém a Marabá, quando as autoridades os interceptaram em cima de uma ponte de 2 quilômetros que passava pelo Rio Tocantins.
A PF apura se eles foram arregimentados pelo Comando Vermelho para auxiliar Deibson Nascimento e Rogério Mendonça a escaparem do radar da polícia e fugirem do país. A caçada à dupla durou 51 dias e terminou nesta quinta-feira. Na audiência de custódia, o quarteto afirmou ao juiz que eles era egressos de Belém e, por isso, “possuíam rivalidade com os presos” de Marabá – o que é um indício de que eles sejam ligados a uma facção criminosa. Diante do risco de agressões, a Justiça determinou que eles ficassem em uma cela separada da massa carcerária do município.
Os investigadores já descobriram que pelo menos um dos quatro presos tinha experiência no mundo do crime e conhecia bem as rotas de fuga da região amazônica. Eliezer Santos, 42 anos, tem passagens na polícia por tráfico de drogas, formação de quadrilha e furto.
Em 2016, ele foi condenado a nove anos de prisão por transportar uma carga de cocaína em uma embarcação pelos rios da Amazônia. Na ocasião, a Justiça do Pará reforçou a necessidade de mantê-lo em regime fechado, pois ele havia fugido da cadeia de Óbidos, no Pará.
A sentença judicial, obtida pelo GLOBO, afirmava que ele “não se tratava de mero avião ou mula, mas sujeito inserido em grande feito criminoso com elevado efeito devastador” e que “vinha transportando a droga passando por diversos municípios e por pelo menos dois estados da federação (Pará e Amazonas).”
A condenação se refere a um flagrante ocorrido em maio de 2010. Santos foi pego durante uma revista de rotina em uma embarcação chamada Cisne Branco que ia de Manaus a Belém. Os policiais encontraram dois pacotes com 3,1 quilos de cocaína dentro de uma caixa de som. O objeto estava embalado com o nome dele.
Em depoimento às autoridades, Sanos “declarou desconhecer que o conteúdo ali trazido eram drogas e que acreditava, na realidade, se tratar de armas”, diz a denúncia.
Celulares e fuzil
Segundo a PF, os quatro comparsas estavam atuando como “seguranças” dos fugitivos. Eles dirigiam os três carros do comboio – um jeep, um Polo e um corsa -, que traziam garrafas de água e sacos de comida no porta-mala, e se comunicavam frequentemente para saber se havia bloqueios na estrada.
Os dois fugitivos estavam em veículos separados. Mendonça portava um fuzil com um adesivo dos quadrinhos “O Justiceiro”. Ao ser surpreendido por agentes descaracterizados da PF, ele chegou a apontar a arma em direção aos policiais, que cercaram o carro e o renderam. A emboscada foi armada na ponte de 2 quilômetros, pois havia o temor de que eles corressem para o meio do mato.
A PF encontrou oito celulares com os presos – os aparelhos eram desligados constantemente para evitar o rastreio da polícia – sem sucesso. Segundo fontes a par da investigação, eles já vinham sendo monitorados desde que saíram do Ceará em direção ao Pará. O comboio ainda chamou a atenção da polícia, quando passou em alta velocidade na frente de um posto da Polícia Militar Rodoviária do Pará.
Os investigadores tentam agora descobrir quem eram os donos dos carros, que não constavam como roubados. Uma perícia nos celulares também está sendo feita para identificar os criminosos que estavam articulando a fuga da dupla.
Conforme fontes do Ministério da Justiça, a dupla integrava o núcleo operacional do Comando Vermelho no Acre e ganhou status no mundo do crime ao fugir do presídio federal de Mossoró – a primeira evasão registrada na história do sistema administrado pelo governo federal. Na época do ocorrido, estava encarcerado no mesmo presídio uma das principais lideranças da facção criminosa, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, que foi removido para a unidade de Catanduvas, no Paraná.
Enquanto os fugitivos foram transferidos de volta à penitenciária federal de Mossoró, os quatro comparsas presos foram mandados para o sistema prisional do Pará.
O Globo