Há quatro meses, Luiz Sávio Lopes de Castro, de 60 anos, só consegue dormir à base de remédios. A rotina dele se limita a consultórios médicos e audiências na Justiça do Trabalho. O armador de ferragem é uma das pessoas que estavam na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no momento do rompimento da barragem da Vale.
O desastre aconteceu no dia 25 de janeiro. De acordo com o último boletim da Defesa Civil, 241 mortes foram confirmadas. Outras 29 pessoas continuam desaparecidas.
“Como faz para deixar de ter pesadelo toda a noite? Eu estou tentando viver com isso. Mas quem é que consegue?”, disse Luiz Sávio.
Ele trabalhava para a terceirizada Reframax que prestava serviço para a Vale. Luiz Sávio disse que só conseguiu escapar daquela avalanche de rejeito porque estava no segundo andar de um galpão onde funcionava o britador – conhecido como ITM.
O armador havia sido deslocado para o local dois dias antes da tragédia. “Foi Deus que me colocou lá para eu sair, para eu sair ileso. Eu creio nisso”, contou. Ele testemunhou a chegada da onda de lama que “engoliu” muitos de seus companheiros.
“Não dá para esquecer. Está tudo gravado aqui na minha cabeça”, disse ele.
Quatro meses depois, Luiz Sávio se diz doente. “Tomo remédio para tudo agora. Minha vida é ir ao médico. É tudo tristeza”. Ele também luta por reparação na Justiça do Trabalho. “Ainda não teve acordo. Vamos ver, né?”, contou.
Poeira da Vale
Luiz Sávio disse ainda que ele e outros 200 moradores da comunidade do Pires, a um quilômetro do centro de Brumadinho, estão apreensivos com uma obra da Vale no local.
“Eles estão fazendo uma terraplanagem em um terreno acima da minha casa. É dia e noite. Pessoal está com medo do local ser usado para receber rejeito do Paraopeba”, falou o armador.
O Rio Paraopeba, afluente do São Francisco, foi contaminado pela lama da barragem. Ambientalistas o consideram “morto” até o trecho de Felixlândia.
O assunto foi discutido em uma audiência realizada pela CPI de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que investiga a tragédia.
Cerca de 70 famílias vivem no local. A comunidade alega que a obra já vem causando problemas de saúde, principalmente nas crianças.
A Vale disse em nota que está executando obras para a “instalação de um sistema de tratamento da água resultante da remoção do rejeito acumulado na confluência do Ribeirão Ferro-Carvão com o rio Paraopeba”. A mineradora falou também que “vem mantendo diálogo constante com as comunidades impactadas pelo rompimento da barragem”.
Informações: G1