A expressão “farinha do mesmo saco” é usada para designar o descontentamento popular com o sistema partidário no Brasil desde o II Reinado (1840-1889). De lá para cá, o sentimento de que a corrupção perpassa a maioria dos partidos permanece viva no imaginário do país, mas tem potencial para ganhar uma completa nova escala com os mais recentes desdobramentos relacionados à Lava Jato. Se a operação até agora se concentrava na base aliada do Governo petista, coração, segundo os investigadores, do megaesquema de corrupção da Petrobras, a promessa dos executivos da Odebrecht de colaborar com a Justiça, que ainda precisa ser aceita pelo Ministério Público, amplia o arco e pode abalar toda a cúpula política do país, sem distinção de legenda.
Neste fim de semana, novas informações agregaram ainda mais ingredientes. Conceição Andrade, ex-funcionária da Odebrecht, afirma ter coordenado na empresa um esquema de pagamento de propinas desde o Governo Sarney (1985-1990). O texto reproduz parte dos documentos, a maioria de 1988, que Andrade diz comprovarem os repasses ilegais. Os políticos citados, que incluem nomes do PSDB, do PMDB, e do atual DEM, negam.
O primeiro tremor sentido pelo establishment político esta semana foi na terça, com o comunicado do Grupo Odebrecht. O texto dizia que seus executivos – o presidente afastado da empreiteira, Marcelo Odebrecht, não citado é citado, mas é tido como certo que ele estará entre os colaboradores – estariam dispostos a firmar acordos de delação premiada. Potencialmente, essas revelações podem jogar por terra não apenas o Governo de Dilma Rousseff: a nota da empresa é taxativa, e se refere ao que (agora) considera ser “um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país”. A divulgação dos segredos que guarda uma das maiores empresas das Américas, que teve relação próxima com ao menos quatro presidentes democraticamente eleitos e um punhado de generais da ditadura, pode ser a abertura definitiva da caixa preta da política brasileira.
Prova do ecumenismo da empreiteira é o fato de que a empresa doou quantias vultuosas tanto para o Instituto Fernando Henrique Cardoso quanto para o Instituto Lula. Soma-se a isso o fato de que, apenas nas últimas eleições, em 2014, a Odebrecht repassou 46 milhões de reais para campanhas de 15 partidos, sem fazer distinção de matizes ideológicos. A amplitude segue lógica de negócios, segundo pesquisas acadêmicas que afirmam que “empresas não doam, investem” em campanhas, já que há correlação entre valor doado e contratos obtidos nos anos posteriores.
Informações: El País