
Após assassinar o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, trocou diversas mensagens e fez ligações para a esposa, a delegada da Polícia Civil Ana Paula Lamêgo Balbino, chegando, inclusive, a pedir que a companheira entregasse a arma “errada” para os investigadores.
O TEMPO teve acesso, nesta quarta-feira (3 de setembro), a uma série de conversas em um aplicativo de mensagens que acabaram sendo recuperadas pelos investigadores do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP). Três dias antes do homicídio, o suspeito chegou a falar para a delegada que eles precisavam “andar armados”.
No momento de sua prisão, em uma academia de luxo, Renê chegou a enviar um áudio para a esposa informando que estava no estacionamento e que tinha sido abordado pela polícia, pedindo que ela comparecesse ao local. Cerca de uma hora depois, quando já estava na delegacia, ele enviou nova mensagem para a delegada, desta vez, pedindo que ela não entregasse a arma que ele usou no crime, uma pistola calibre .380.
“Entrega a nove milímetro”, disse Renê se referindo à outra arma da esposa. “Não pega a outra. A nove milímetros não tem nada”, completou o autor que, dias depois, confessou ter cometido o assassinato após uma confusão de trânsito. “Ana Paula, por sua vez, não o respondeu, tampouco anuiu com o seu ‘plano'”, completa o inquérito da polícia.
Sem resposta, o empresário enviou sua última mensagem para a esposa ainda negando o crime. “Estava no lugar errado na hora errada. Amor, eu não fiz nada”, diz a última mensagem dele.
Procurado pela reportagem nesta quarta, o advogado que representa a família de Laudemir no caso, Tiago Lenoir, informou por nota que as provas colhidas pela Polícia Civil, como mensagens, vídeos e laudos, apenas reforçam o “crime hediondo praticado pelo principal acusado”.
“Elas revelam tentativas de interferência nas investigações. Ressalte-se que sua esposa, delegada de polícia, tinha o dever legal de agir, e sua omissão pode configurar prevaricação, favorecimento pessoal ou condescendência criminosa. Isso tem que ser minuciosamente averiguado”, completou. “Como advogado da família do gari Laudemir, reafirmo que não descansarei até que todos os responsáveis, por ação ou omissão, sejam punidos com o rigor da lei”, concluiu Lenoir.
Procurada, a Polícia Civil não se manifestou sobre as novas informações.
O defensor de Rêne, Bruno Silva Rodrigues, informou nesta quarta-feira (3) que só vai se manifestar após o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) oferecer a denúncia ou apreciar o pedido de reconstituição do crime.
Além disso, afirmou que “as mensagens de WhatsApp e vídeos extraídos do aparelho celular devem preservar o sigilo garantido pelo art. 5º, inciso XII da Constituição da República e que sua divulgação deve se restringir aos atores do processo”.
O Tempo

