Um novo episódio envolvendo um ataque de tubarão no arquipélago pernambucano de Fernando de Noronha fez a beleza das praias ficarem em segundo plano temporariamente, ligando novamente o alerta por lá. Dessa vez, a vítima foi um homem, de 34 anos, que veio de Rondônia e estava curtindo o destino turístico no feriado de Tiradentes, quando foi mordido por um tubarão na tarde dessa quarta-feira (21). Um biólogo conversou com a reportagem do Diario de Pernambuco para analisar e explicar o cenário e seus desdobramentos.
O episódio aconteceu na praia da Cacimba do Padre, e instantes depois o turista estava sob os cuidados dos médicos do Hospital São Lucas, na própria Ilha. Na unidade de saúde, ele fez exames de imagem, recebeu medicações e também levou alguns pontos no local do ferimento. O homem, que não teve a sua identidade revelada, recebeu alta no mesmo dia.
Num recorte dos últimos sete anos, essa é a décima vez em que uma pessoa é atingida por um tubarão em Fernando de Noronha. A praia da Cacimba do Padre completou a sua terceira ocorrência com mais esse incidente. Pernas e braços lideram os locais mais atingidos entre as vítimas.
Relatórios oficiais
De acordo com dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões, onde o relatório de casos envolvendo pessoas e tubarões começa em 2015, outras nove pessoas, além do turista de Rondônia, reforçam as estatísticas, sendo seis homens e três mulheres. Entre as vítimas do gênero feminino, está uma criança de oito anos, ferida no fim do mês de janeiro deste ano, na Baía do Sudeste.
A garota, conhecida por Nicole, teve que amputar a perna (direita) mordida pelo tubarão. Na época, ela ficou sendo monitorada numa Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) e depois foi transferida para um hospital em outro estado.
Após a episódio, o Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) interditou o local e também a praia do Leão.
Mar de sangue
O histórico de casos como o desta semana vem se intensificando com o passar dos tempos em Fernando de Noronha.
O primeiro que se tem registro, através do Comitê, aconteceu em dezembro de 2015. Essa primeira vítima foi registrada como um homem de 32 anos. Ele estava na Baía do Sudeste quando teve seu braço direito atingido.
Um ano e nove dias depois, um outro homem, com 49 anos na época, teve sua panturrilha esquerda mordida. Ele estava na praia do Leão.
No ano de 2017, nenhum caso foi registrado. No entanto, no dia 12 de janeiro de 2018, o alerta voltou a ser ligado na Ilha, com um jovem de 20 anos. Ele estava na praia da Conceição quando seu antebraço esquerdo foi pego por um tubarão.
Em fevereiro de 2019, um homem estava surfando na praia da Cacimba do Padre, quando foi surpreendido pelo animal. Ele teve rosto e pescoços atingidos.
Um ano depois, em fevereiro de 2020, a primeira mulher na condição de vítima foi registrada. Ela tinha 33 anos e também estava surfando na Cacimba quando sua mão esquerda foi atacada.
Um mês depois, uma outra surfista, de 28 anos, foi atingida na praia do Bode, tendo um membro inferior direito mordido.
Em dezembro deste mesmo ano, fechando o “trio” de incidentes na Ilha naquele período, um homem de 37 anos tomava banho na praia da Conceição quando teve uma mordida de tubarão em um membro inferior direito.
No primeiro mês do ano passado, um banhista teve um membro superior direito atingido enquanto se divertia na praia da Cacimba. Na época, ele tinha 53 anos e desde então é a vítima mais velha.
Agora, já em 2022, outros dois incidentes foram presenciados. O da menina de oito anos, e o mais recente, do turista de Rondônia.
Em nenhuma dessas situações registradas houve óbito.
Promessas de mudança na Ilha
Muitas promessas acontecem por parte do governo e de órgãos responsáveis pela segurança em Fernando de Noronha. E sempre “voltam para cena” quando um novo episódio acontece. Porém, na prática, pouco ainda é feito.
Algumas medidas como a implementação de telas de proteção, monitoramento por drone, fechamento de praias para estudos, reforço de placas de sinalização, distribuição de cartilhas e “aulas” sobre a fauna e flora do local para os turistas estão sempre “engatilhadas” no arquipélago. Porém, na prática, pouco ainda é feito.
Uma outra estratégia – que também ainda não foi colocada em prática -, é a de orientar banhistas e surfistas a não entrarem no mar durante o período de acasalamento da espécie, uma vez que um grande número de fêmeas se aproximam.
Diário de Pernambuco