Uma pesquisa realizada com 3.000 russos durante três anos revelou que beber em excesso tem um efeito adverso na estrutura e função cardíaca. Os resultados foram publicados no periódico Journal of the American Heart Association, no dia 18 de dezembro.
Em uma entrevista à Reuters, Olena Iakunchykova, que liderou o estudo, comentou por que essa relação entre o álcool e as estruturas do coração é a perigosa: “Mesmo que você não tenha sintomas imediatamente, isso aumenta o risco de problemas cardíacos no futuro.”
Como o estudo foi feito
- Os pesquisadores recrutaram uma amostra aleatória de 2479 adultos que moravam no noroeste da Rússia, além de 278 pessoas que tinham problemas com álcool.
- A amostra da população geral foi categorizada de acordo com o nível de consumo de álcool que eles relataram. Quem entrava na categoria de consumidor pesado, por exemplo, tomavam mais de seis drinks em uma única ocasião, precisava de uma bebida de manhã, sofria consequências adversas na vida pessoal por causa do álcool ou tinha um ente querido preocupado com a bebida.
- No início do estudo, o sangue dos participantes foi testado para níveis de três biomarcadores associados a danos cardíacos.
- Os voluntários que estavam se tratando na clínica por abuso de álcool apresentaram os níveis mais altos dos três biomarcadores. Em comparação com os consumidores não problemáticos na população em geral, a troponina T cardíaca de alta sensibilidade (um sinal de lesão muscular do coração) foi elevada em 10,3%; o NT-proBNP (um marcador de alongamento da parede do coração que está associado à insuficiência cardíaca) em 46,7%; e a proteína C reativa de alta sensibilidade (uma medida da inflamação relacionada à aterosclerose), 69,2%.
- Na população da comunidade, o NT-proBNP foi 31,5% maior entre os bebedores prejudiciais em comparação com os que não bebem. No geral, o NT-proBNP e o hsCRP aumentaram com o aumento da intensidade do consumo de álcool.
10 problemas que você pode ter se beber todos os dias
A recomendação varia, mas um bom limite é que as mulheres não tomem mais de uma dose por dia e os homens duas, além de não beber mais de cinco vezes por semana — alguns órgãos de saúde “liberam” 10 doses semanais para o sexo feminino e 15 para o masculino. Como uma dose, entenda uma lata (330 ml) de cerveja, uma taça (100 ml) de vinho ou um copo (30 ml) de destilado.
Veja os problemas mais comuns que o organismo pode sofrer quando essa quantidade é ultrapassada regularmente.
Obesidade
A bebida alcoólica é pobre nutricionalmente (não alimenta) e possui alto valor calórico: 1 grama de carboidrato ou proteína tem, mais ou menos, 4 calorias, enquanto a mesma de álcool tem 7 calorias. Uma lata de cerveja, por exemplo, fornece aproximadamente 150 calorias, praticamente o mesmo que um pão francês. Além disso, o álcool eleva o nível de cortisol —o hormônio do estresse — no organismo, isso tende a aumentar o desejo por comidas cheias de açúcar e gordura.
Depressão
Embora gere uma alegria inicial durante o uso, o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central. Seu consumo exagerado afeta diretamente o humor e contribuir para a redução de células no cérebro, o que pode levar à depressão.
Perda de memória
Um estudo francês publicado no periódico The Lancet analisou 1 milhão de pessoas e descobriu que entre os 57 mil casos de demência de início precoce, em torno de 60% tinham relação com o consumo exagerado de álcool.
Fígado gorduroso e cirrose
O fígado é o responsável por metabolizar os nutrientes de tudo o que comemos e bebemos. Beber demais sobrecarrega o órgão, o que altera o metabolismo dos triglicerídeos, gerando um acumulo de gordura no fígado, doença chamada de esteatose hepática alcoólica. Até 40% das pessoas diagnosticadas com figado gorduroso desenvolvem cirrose, inflamação crônica irreversível do órgão, que altera sua capacidade de funcionar adequadamente.
Pâncreas doente
O abuso de álcool é a principal causa de pancreatite, que é a inflamação do órgão. Em geral, ocorre com o passar de cinco a dez anos de consumo pesado e regular. A taxa de mortalidade de pacientes com pancreatite alcoólica é cerca de 36% mais elevada do que para a população geral. Por conta da doença, o pâncreas para de desenvolver alguns hormônios essenciais ao organismo, como a insulina, levando a um quadro de diabetes tipo 2.
AVC (derrame)
Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Pública, da Finlândia, mostrou que pessoas que consomem bebidas alcoólicas acima da dose recomendada pela OMS têm um risco 40% maior de derrame em comparação com aqueles que nunca bebem demais. Um dos fatores de risco mais importantes para o AVC é a elevação constante da pressão arterial, e o álcool em excesso pode contribuir com esse aumento.
Cardiopatia
O efeito tóxico da bebida atinge o coração e, com o passar do tempo, dificulta a atividade de algumas enzimas nas células cardíacas, o que deixa o músculo cardíaco fraco e flácido: a chamada cardiomiopatia alcoólica. A doença dificulta a distribuição de sangue para o organismo e pode desencadear outros problemas, como dificuldade para respirar, fadiga, inchaço nas pernas e nos pés e até uma parada cardíaca.
Câncer
Segundo a OMS, vários tipos de tumores estão relacionados ao consumo de bebidas por um período prolongado, como o câncer de mama, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, fígado e intestino. Além de ter um efeito cancerígeno, quando chega ao intestino, o álcool pode funcionar como solvente, facilitando a entrada de outras substâncias carcinogênicas para dentro das células.
Viva Bem/UOL