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A cada hora sete pessoas somem no Brasil

Mesmo com depressão, falta de apetite, um emagrecimento repentino e de luto pelo marido que morreu há um ano de Covid-19 após três décadas de casamento, Maria de Fátima ainda encontra forças para lutar por ter notícias do filho, Robson Gomes, que desapareceu no dia 27 de março de 2008, aos 24 anos. Empunhando um cartaz com nome, foto, uma projeção de como o rapaz estaria hoje com 37 anos e alguns contatos, a mulher faz buscas por Robson pelas ruas e pela internet, após 14 anos do desaparecimento. A cada dois domingos do mês, ela se reúne na praça da Sé, no centro de São Paulo, com um grupo de mais de 6.000 mães de diversos estados brasileiros que compartilham a saga junto às autoridades policiais na busca por informações sobre o paradeiro de parentes, mas, sobretudo, a esperança de encontrá-los com vida. 

Para ela, a procura incansável é uma “tortura”. Sem notícias, os pensamentos e as especulações sobre as condições que o filho pode estar enfrentando a consomem. “Se alguém morre, você sabe como acontece, onde [a pessoa] está enterrada, e tenta seguir a vida apesar disso, mas, quando a pessoa está desaparecida há tanto tempo, como o meu filho, a gente vive um luto em vida”, diz Maria de Fátima. “Fico pensando se ele está na rua, passando fome, se foi raptado, torturado… Eu não sei. É um milhão de pensamentos, e a gente imagina o pior”, relatou.

A angústia e a incerteza são sentimentos compartilhados por famílias de pelo menos 65 mil pessoas desaparecidas em todo o território nacional. Os dados são do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e correspondem ao ano de 2021. O número mostra um aumento de 3,2% em relação a 2020. Naquele ano, o país contabilizava 62.913 brasileiros desaparecidos. O Conselho Nacional do Ministério Público, que trabalha com a mesma base de dados, informa que pelo menos 35% são pessoas de até 17 anos.

De óculos de sol e uma blusa com a foto de Robson, Maria de Fátima se encontra quinzenalmente com as outras integrantes do Mães da Sé, um grupo de mulheres que buscam pelos filhos desaparecidos, não importa o tempo, e levantam cartazes na região do centro de São Paulo. Lá, elas aproveitam para desabafar e encontrar afeto e acolhimento em meio à dor.

Ivanise Esperidião é a fundadora do grupo. A filha dela, Fabiana, desapareceu aos 14 anos, no dia 23 de dezembro de 1995, enquanto voltava da casa de uma amiga, na zona norte da capital. Após quase 30 anos, a mulher ainda resiste e batalha, agora não somente pela filha, mas por centenas de outras mães, pais, irmãos e amigos que chegam a ela para buscar apoio para enfrentar o mesmo drama.

PORTAL R7

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