Beco da Lama sofre com insegurança; furtos são comuns
De acordo com o 2º Distrito de Polícia Civil, não há um levantamento do número exato de ocorrências no local, mas os registros são frequentes. “Aqui todo dia tem de cinco a seis BOs que a gente faz, não só sobre furto, mas de ocorrências em geral. Ali tem se tornado um ponto crítico, é preciso reforçar o policiamento ali porque é um canto onde se tem evento toda semana, não é uma coisa isolada”, ressalta um agente, que preferiu não se identificar. Ainda segundo o policial, um inquérito foi aberto para investigar a agressão ao repórter e imagens de câmeras de segurança estão sendo coletadas para identificar o suspeito.
Furtada duas vezes em um período de menos de dois meses no Beco da Lama, a estudante Eloize Cabral, de 25 anos, se diz receosa em voltar ao local que costumava ir. Ela teve o celular furtado pela primeira vez na quinta-feira de Carnaval, fato que se repetiu no último dia 14 de abril. “Nos dois episódios acredito que o furto ocorreu enquanto eu estava transitando de um lugar para outro porque realmente é o momento em que estive mais no meio da multidão. Da primeira vez eu fiquei mais tranquila, tomei aquele choque de início, percebi que fui furtada, mas pensei ‘está tudo bem, pelo menos não foi algo violento, depois eu resolvo’”, relembra.
Após o primeiro furto, Eloize conta que passou a ficar mais atenta nos lugares. “Passei a andar só de pochete, principalmente para o beco, e eu estava com a pochete bem presa ao meu corpo e não estava esperando que isso fosse acontecer de novo porque achava que estava tomando os cuidados para evitar”, conta a estudante. Eloize diz ainda que o segundo furto provocou um efeito emocional diferente. “Quando percebi o furto precisei sair de perto das pessoas, uma amiga me acompanhou. Tive início de uma crise de pânico, taquicardia, respiração ofegante, precisei sentar, me senti desesperada, vontade chorar”, desabafa.
A situação também atinge quem promove eventos. O produtor cultural Anderson Foca, um dos responsáveis pelo Festival DoSol, diz que as reclamações da população denunciam a necessidade de se reforçar a segurança nos locais de festas no Centro da cidade. “Nos eventos do DoSol a gente não teve nenhuma violência física, agressão, não precisamos acionar a segurança para isso, mas nos eventos abertos isso acontece e não é só no Beco. O samba é um evento espontâneo, a cidade abraçou aquela região. As pessoas vão para a rua e sempre que há aglomeração, isso pode ocorrer, então é papel do poder público garantir que os eventos ocorram de forma mais tranquila”, comenta.
Na quarta-feira (20), a reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve no Beco da Lama para acompanhar a movimentação no local, que recebeu bom público na véspera do feriado de Tiradentes. O número de visitantes, no entanto, foi menor do que o registrado na véspera do feriado da semana anterior. Mesmo assim, muitas pessoas circularam pelo Bar da Meladinha, Borogodó, Bar de Nazaré e Bardallos, alguns dos principais pontos da região.
Como de costume, a noite do Beco teve início por volta das 19h com o projeto Quinta Que Te Quero Samba e se estendeu pela madrugada. O secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Civil (Sesed), Coronel Francisco Araújo, disse que o policiamento na área será reforçado às quintas-feiras. “A gente lamenta que essas práticas venham acontecendo ali no Centro, mas já mandamos reforçar o policiamento ali na região. Dácio [Galvão, secretário de Cultura de Natal], inclusive, ligou para mim pedindo essa força ali no patrulhamento e assim será feito para garantir uma noite segura para todos”, disse o chefe da segurança do Estado.
Conforme constatado pela TN, o policiamento contou com três viaturas da Polícia Militar, que se revezavam no patrulhamento por todo o quarteirão. Segundo os próprios militares, a noite foi tranquila “sem maiores alterações”. Os policiais ficaram estacionados em uma “base” na Ulisses Caldas e contaram com o apoio de viaturas que já faziam o patrulhamento regular na região.
A Guarda Municipal de Natal (GMN) também informou que pretende reforçar as rondas na Cidade Alta em dias de eventos. “A gente vai intensificar o patrulhamento nessas áreas e vamos ver com o setor de inteligência os locais onde os furtos estão acontecendo mais. Por isso que é importante o registro, o boletim de ocorrência, porque nos ajuda a mapear as áreas mais sensíveis e assim prestar esse apoio. É uma soma de forças, da Guarda, da PM, da Civil e também da população”, destaca Rozivam Valle da Costa, comandante da GMN.
Insegurança gera protestos de frequentadores
O comerciante Bruno Sabino, que organiza uma roda de samba na frente do Bar Borogodó, diz que fará uma pausa nos eventos em protesto contra a insegurança no local. “A gente vai dar uma parada agora em maio, depois vamos pensar no que fazer porque do jeito que está não tem como. Vários e vários clientes chegam para mim e dizem que vão parar de vir porque estão com medo. É triste, é vergonhoso, porque vendem um local revitalizado, reformado, mas não oferecem segurança para o povo frequentar. Isso não pode, por isso que a gente tem que fazer essa crítica. Fica ruim para todo mundo”, pontua o empresário.
Antônia da Silva, que também é dona de um bar nas imediações, endossa o coro contra a insegurança e também diz ter perdido clientes. “Acontece muito do pessoal deixar de vir por medo. A gente não quer isso, a gente quer que tenha segurança para os clientes se sentirem à vontade, mais tranquilos. A gente sente muita falta de ter um policiamento ativo aqui, principalmente nos dias mais movimentados, falta o poder público chegar junto para apoiar. Se o cliente deixa de vir, o local deixa de existir, os comerciantes param de vender. Vamos torcer para que a partir de agora nossos governantes façam algo”, comenta a empresária.
O estudante André Nóbrega, 22 anos, relaciona o cenário de insegurança à pandemia de covid-19. Segundo ele, após longo período de isolamento e reabertura dos eventos culturais, as pessoas passaram a sair de casa ao mesmo tempo para um mesmo local. “Isso também provocou o aumento da desigualdade social e consequentemente o aumento da marginalidade. Muitas pessoas passaram a frequentar o beco, acho que até mais do que antes da pandemia, e também muitos viram nisso a oportunidade de praticar roubos e furtos. Uma coisa meio que esbarrou na outra”, conta.
Quem também frequenta o beco e reclama da falta de segurança é a estudante Mariana Nunes. “A gente sempre vem aqui e realmente todo mundo reclama. Além dos furtos, outra coisa que acontece com frequência é a questão do assédio, principalmente quando tem muita gente. O pior é que a gente não encontra policiamento”, ressalta.
Tribuna do Norte
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