
A morte do médico Araken Brito de Sousa, atropelado enquanto pedalava na Avenida Hermes da Fonseca nesta segunda-feira 24, trouxe à tona a precariedade da infraestrutura cicloviária de Natal e provocou reações na Câmara Municipal. Durante a sessão desta terça-feira 25, os vereadores discutiram o acidente e cobraram ações para garantir segurança aos ciclistas. A cidade já registra 121 mortes de ciclistas nos últimos cinco anos, conforme dados apresentados pelos parlamentares.
O vereador Léo Souza (Republicanos) relembrou que a tragédia poderia ter sido evitada se a obra da trincheira planejada para o cruzamento onde ocorreu o acidente tivesse sido realizada. “A Prefeitura do Natal apresentou o estudo que, naquele cruzamento, seria feita uma trincheira. Essa trincheira iria alargar as vias. A via tem que ter 2,60 metros para comportar um veículo de grande porte, mas a que o caminhão estava trafegando tem apenas 2,30 metros”, afirmou.
Léo Souza explicou que o projeto foi judicializado, o que afastou a empresa responsável pela obra por falta de segurança jurídica. “A obra estava prevista para ser concluída em outubro do ano passado. Se tivesse sido concluída, talvez hoje não estivéssemos discutindo essa tragédia”.
A vereadora Samanda Alves (PT) criticou a ausência de sinalização adequada e a falta de segurança para ciclistas em Natal. “Nos últimos cinco anos, foram 121 mortes de ciclistas no RN. Não podemos fechar os olhos para esse problema”, declarou. Ela destacou ainda a necessidade de campanhas educativas e fiscalização. “Existem ciclofaixas, mas não há fiscalização. Sem fiscalização, não há punição para motoristas que invadem o espaço dos ciclistas”.
O vereador Kleber Fernandes (Republicanos) ressaltou que o acidente com o médico trouxe visibilidade ao problema, mas que há dezenas de ciclistas anônimos que também perderam a vida nas ruas da cidade. “Essas mortes precisam ser tratadas com seriedade”, afirmou.
Ele reforçou a necessidade de investimentos em infraestrutura adequada para ciclistas e educação no trânsito. “O poder público precisa buscar alternativas de engenharia de trânsito que viabilizem a mobilidade urbana pensando em todos: pedestres, ciclistas, motoristas e motociclistas”.
O vereador Subtenente Eliabe (PL) enfatizou que a legislação prevê responsabilidades claras para proteger os ciclistas. “O Código de Trânsito Brasileiro, no seu artigo 201, estabelece que o motorista deve manter uma distância lateral de 1,5 metro ao ultrapassar o ciclista. No acidente de ontem, essa regra não foi respeitada”, afirmou.
Ele também apresentou dados que revelam a percepção de insegurança entre ciclistas em Natal. “63% dos ciclistas apontam a falta de estrutura adequada como motivo para não pedalar com mais frequência. Além disso, 21,1% citam a insegurança aliada à falta de educação no trânsito como um fator impeditivo”.
Fúlvio Saulo (SDD) relembrou sua experiência como ciclista e mencionou os riscos de pedalar em Natal. “Durante a pandemia, o ciclismo foi a atividade esportiva que mais cresceu. Mas quando a pandemia acabou, eu deixei de pedalar com medo dos riscos que é pedalar em nossa cidade”, disse.
Ele destacou o desrespeito generalizado no trânsito. “A legislação diz que o maior tem que proteger o menor: o caminhão deve proteger o carro, o carro deve proteger o motociclista e o motociclista deve proteger o ciclista e o pedestre. Mas isso não acontece”.
Samanda Alves informou que solicitou uma reunião com a STTU para discutir o problema junto à Associação de Ciclistas do Rio Grande do Norte (CIRN) e a Federação de Ciclismo. “Essa reunião vai acontecer na próxima sexta-feira. Vamos cobrar medidas urgentes para garantir segurança aos ciclistas”, afirmou.
A discussão sobre o ciclismo também trouxe à tona críticas à falta de políticas públicas voltadas à mobilidade urbana em Natal. Léo Souza comparou a capital potiguar com outras cidades. “Fortaleza tem uma malha viária para o ciclismo que se compara ao que é feito para o transporte público. E Natal está muito aquém de qualquer outra capital nordestina”.
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