O ataque americano que matou o general iraniano Qassim Suleimani levou o Irã a prometer vingança e gerou especulação sobre uma Terceira Guerra Mundial. Os usuários nas redes sociais demonstram preocupação sobre a possibilidade de um conflito entre aliados de Washington e Teerã.
Essa possibilidade, porém, não deve acontecer, conforme especialistas consultados pelo UOL. Eles ponderaram que o Irã é uma força regional e sem peso para envolver as outras potências globais no conflito. Sem a Rússia, a China ou a União Europeia medindo forças com os Estados Unidos, não há uma guerra com dimensões globais.
Professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Paulo Velasco classificou como “exagero, com um quê de paranoia”, a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Ele justificou seu argumento citando que as demais potências militares do mundo não devem se envolver na situação.
A opinião é partilhada por Manuel da Furriela, professor de Relações Internacionais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que é categórico em dizer que uma Terceira Guerra Mundial “não vai ocorrer”. O especialista explica que o Irã é uma potência regional no Oriente Médio, mas sem expressão global.
“A Primeira e a Segunda Guerra [Mundial] ocorreram na Europa, onde estavam as principais potências, com participação da União Soviética, Estados Unidos, China e Japão. Não vai ter guerra agora porque um conflito com o Irã não teria essa dimensão internacional”.
Ele lembra que há outros locais em que as potências globais exercem interesses diferentes e a situação não descamba para uma guerra. Cita a Síria, com os Estados Unidos apoiando grupos que tentam derrubar o presidente Bashar al-Assad. O político se manteve no cargo graças ao apoio da Rússia. Mesmo em campos opostos, não houve guerra entre as duas potências.
Intervenção da Rússia, China e União Europeia
Velasco acredita que a Rússia vai atuar na questão como um ator que impõe limite, uma linha vermelha para as ações americanas. O ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, condenou os ataques. Mas o especialista também não vê Moscou com uma reação que vá além do diálogo.
Em relação a China, o professor avalia que há ainda menos interesse em se envolver. Embora o desenvolvimento econômico tenha transformado o país num grande consumidor de matérias-primas de várias partes do mundo, a presença militar na região é pequena. Limita-se a uma base no Djibouti, país situado no Chifre da África.
Já a União Europeia costurou o acordo entre Barack Obama, ex-presidente dos EUA, e o Irã para frear o programa nuclear dos iranianos e deve atuar para pedir calma. Líderes de França, Inglaterra e Alemanha já se manifestaram pedindo calma e diálogo.
Alvos do Irã
A Terceira Guerra Mundial não está a caminho, mas o Irã deve reagir. O país perdeu seu segundo homem mais poderoso. O general Qassim Suleimani era considerado um herói nacional e comandava a Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária Iraniana. O professor de Relações Internacionais da UERJ considera três locais como alvos potenciais de Teerã: Iraque, Israel e Arábia Saudita.
“O primeiro e mais óbvio é dentro do próprio Iraque. Atacar posições americanas no Iraque. Há 5 mil soldados no país e mais 3 mil serão enviados [ao Oriente Médio]”, diz Velasco. “Junto aos soldados há todo poderio americano no Golfo Pérsico. Depois, o Irã pode tentar atacar aliados dos Estados Unidos numa agressão indireta, assim Israel e Arábia Saudita se tornam alvo.”
A Arábia Saudita é o grande desafeto do Irã no Oriente Médio. Os ataques com drone a instalações de petróleo no país foram atribuídas a grupos apoiados por Teerã. O professor de Relações Internacionais da FMU ressalta que Israel pode ser alvo porque representa o ocidente na região. “Israel e Arábia Saudita são alvos preferenciais, principalmente Israel porque sempre simbolizou os interesses americanos na região”, diz Furriela.
Com informações: UOL