Necrópole, sepulcrário, campo-santo, a última morada. São muitos os sinônimos para a palavra cemitério, originária do grego e do latim. Nenhum termo, porém, é capaz de dimensionar a dor dos brasileiros que têm vivenciado nesses espaços o luto coletivo pelas quase 300 mil mortes decorrentes da Covid-19.
As consequências a médio e longo prazo dos enterros em massa, em cemitérios construídos sem planejamento adequado, podem vir ainda em forma de impactos ambientais e transmissão de doenças para quem vive perto dessas áreas ou trabalha ali. Há anos, estudiosos – como geólogos, engenheiros ambientais e especialistas em saúde pública – alertam para a necessidade de avaliar os impactos ambientais dos cemitérios brasileiros.
No artigo Cemitérios: fontes potenciais de impactos ambientais, a geógrafa Rosiane Bacigalupo destaca que, após o óbito, cada corpo decomposto libera em torno de 30 a 40 litros de necrochorume. “É um neologismo (criação de palavra) conhecido técnica e cientificamente por produto da coliquação, criado por analogia ao chorume dos resíduos orgânicos dos aterros”, explica.
É possível definir o necrochorume como uma solução viscosa, composta em sua maior parte por água, rico em sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis. Sua formação se dá em virtude do processo de decomposição. De acordo com o professor Alberto Pacheco, da Universidade de São Paulo (USP), um dos principais estudiosos do tema e fonte para a maior parte das pesquisas na área, “os cemitérios são um risco potencial para o ambiente”.
“Logo, esse problema vem se agravar em virtude de que a maioria dos cemitérios foi construída em lugares que apresentam valor imobiliário baixo, sem quaisquer uso de estudos geotécnicos prévios”, destaca.
Metrópoles