A líder democrata da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, anunciou no início da noite desta terça-feira, 24, a abertura formal de um processo de impeachment contra o Presidente Donald Trump, suspeito de ter feito depender o desbloqueio de ajuda norte-americana à Ucrânia da abertura de uma investigação de Kiev ao filho de Joe Biden, um dos possíveis adversários do republicano nas presidenciais de 2020 — pressionando assim um líder estrangeiro para seu benefício político.
A queixa dos serviços secretos não chegou a dar entrada no Congresso devido à oposição da Casa Branca e do Departamento de Justiça. Agora, aproxima-se o anúncio de uma investigação formal do Congresso que, no limite, poderia resultar na condenação de Trump e no seu afastamento da Casa Branca.
Em causa está um telefonema entre Trump e o Presidente ucraniano Volodimir Zelenski, denunciado por uma fonte anônima ao inspetor-geral da comunidade de serviços secretos norte-americana, cuja transcrição Trump prometeu entretanto revelar. Em sucessivas intervenções e tweets nos últimos dias, o Presidente dos EUA tem negado qualquer ato ilícito, mas confirmou largamente os contornos da conversa tal como tem sido noticiada pela imprensa norte-americana.
Nunca um Presidente norte-americano foi afastado num processo de impeachment. Richard Nixon demitiu-se em 1974 perante a iminência de um inquérito motivado pelo caso Watergate em que a sua condenação era quase certa. Bill Clinton, o 42º presidente dos Estados Unidos, sofreu um processo de impeachment pela Câmara dos Representantes sob duas acusações, uma de perjúrio e uma de obstrução da justiça, em 19 de dezembro de 1998. As acusações surgiram após o escândalo Lewinsky e a ação judicial movida por Paula Jones.
Clinton foi absolvido pelo Senado em 12 de fevereiro de 1999. Exigindo uma maioria de dois terços para a condenação, apenas 50 senadores (de 100) votaram pela acusação de obstrução e 45 pela acusação de perjúrio.
A decisão de avançar para o impeachment contra Trump, anunciada por Pelosi em declarações à revista The Atlantic, e noticiada pelos jornais New York Times e Washington Post, representa um volte-face perante a anterior relutância da liderança democrata em iniciar procedimentos contra Trump – um processo moroso e sem garantia de sucesso, com um Senado dominado pelo Partido Republicano e com consequências eleitorais imprevisíveis a um ano das presidenciais.
Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à presidência, defendeu a abertura do processo. “Ninguém está acima da lei – nem mesmo o presidente dos Estados Unidos. O Congresso tem autoridade constitucional e responsabilidade de responsabilizar o presidente. Isso não é sobre política, é sobre princípio. Temos de iniciar um processo de impeachment”, tuitou
Com informações: Folha de S. Paulo