Nos últimos dias, em meio ao julgamento final no Senado, as equipes de Anna Muylaert, Maria Augusta Ramos e Petra Costa circularam entre os parlamentares com câmeras e microfones em mãos para registrar o desfecho do embate que pode terminar com a saída definitiva de Dilma da Presidência.
A movimentação das documentaristas durante o julgamento gerou críticas de senadores da base aliada do presidente interino Michel Temer. Os governistas reclamaram mais de uma vez nos microfones do plenário do Senado que reações mais enérgicas dos aliados de Dilma não passavam de atuações para as câmeras das cineastas.
“Enquanto aquelas câmeras dos documentários do PT estiverem aqui, essas cenas nós vamos assistir, porque tudo é só encenação”, queixou-se o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), no meio de uma discussão no plenário na qual pedia o direito à palavra e era interrompido por integrantes da oposição.
Além de filmar os desdobramentos finais no plenário do Senado, a cineasta Anna Muylaert, diretora do filme Que horas ela volta? – indicado para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de 2016 – tem filmado a rotina de Dilma no isolamento do Palácio da Alvorada e entrevistado aliados da petista.
Mineira de Belo Horizonte, Petra Costa está desde março acompanhando todos os passos do processo de impeachment. A diretora do premiado curta-metragem Olhos de Ressaca, entretanto, lamenta a reação dos senadores governistas ao trabalho das cineastas que querem contar a história do afastamento de Dilma.
Petra ressaltou ao G1 que não tem ligação com nenhum partido e que quer fazer do documentário um documento histórico. Ela afirmou que sua produção é financiada pela sua produtora, a Busca Vida Filmes, com recursos obtidos com um prêmio que ganhou no Festival de Veneza.
“Estamos aqui registrando todos os aspectos desse processo, e tem gente que não entende a importância disso. Não temos nenhum documentário sobre o impeachment do [ex-presidente Fernando] Collor. Um documentário é uma memória importante”, disse a diretora.
Segundo Petra, as citações negativas de governistas à produção dos documentários dificultou o trabalho dos cineastas. Desde então, conta ela, parlamentares que defendem o impeachment têm se recusado a falar com sua equipe.
“As pessoas acham que estamos aqui para fazer campanha, mas não sabem que temos uma história no cinema”, observou.
Gabinete parlamentar
Diretora dos longa-metragens Justiça, de 2004 (ganhador de 9 prêmios internacionais), e Juízo, de 2008 (que trata do sistema judiciário brasileiro), a cineasta Maria Augusta Ramos lidera uma das equipes de documentaristas que circulam pelo Senado nos últimos dias.
Maria Augusta está usando uma sala do gabinete da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) como ponto de apoio para sua equipe. Ela, entretanto, afirma que também não tem nenhuma ligação política, nem com o PT nem com outro partido.
A cineasta argumentou que está usando a sala do gabinete da ex-ministra de Dilma porque precisa guardar os equipamentos e, segundo ela, alguns senadores foram mais receptivos do que outros quando ela apresentou o projeto. “O filme não tem nenhum centavo do PT”, enfatizou.
Ela está filmando todo os passos do processo de impeachment desde abril. A cineasta relatou aoG1 que a ideia e a inicitiva de produzir o documentário foi dela mesmo, porque sempre se interessou por temas jurídicos.
“Em abril, eu tive um estalo e decidi que precisava documentar o processo de impeachment”, destacou Maria Augusta.
Autorização
Para entrar no Senado e acompanhar a sessão de julgamento do impeachment, Petra Costa e a sua equipe contaram com ajuda de alguns senadores dilmistas. Em razão do julgamento, o acesso ao Senado está restrito.
Maria Augusta explicou que obteve com a presidência do Senado uma autorização especial para filmar o documentário.
A assessoria de imprensa do Senado informou ao G1 que concedeu autorização para três equipes de cineastas gravarem documentários sobre o impeachment nas dependências da Casa.
G1 Brasília