O Palácio do Planalto e os aliados intensificaram ontem a ofensiva de rolo compressor para encerrar a tramitação e votação da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) até 12 julho, e conforme o cenário, no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar, previsto para 17 de julho. Segundo aliados do presidente Michel Temer disseram ao GLOBO, ele deverá apresentar sua defesa na próxima terça-feira (4), mas o martelo será batido juntamente com o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que tem dito nas reuniões que a denúncia é “muito fraca”.
O discurso para a base é de que se baseia numa gravação cheia de problemas. No mesmo dia, o presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), deve anunciar a escolha do relator do caso na CCJ. O relator tem até cinco sessões para apresentar seu parecer, o que faria dia 11. Na próxima semana o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deverá se encontrar com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, para discutir qual deverá ser o rito da denúncia na Casa.
A CCJ tem 66 membros. Os governistas fizeram um mapeamento em reunião no Planalto e contabilizaram 34 votos a favor; 13 contrários com certeza e 19 indecisos. Nos indecisos, há três dos sete tucanos que estão na comissão. O Planalto está fazendo a verificação dos votos diariamente, em reuniões do próprio presidente Temer com deputados de confiança. Em enquete feita pelo GLOBO nesta semana, apenas quatro dos 66 integrantes da comissão declararam abertamente que votarão a favor do presidente.
Na sexta-feira, dentro desta ofensiva, o PMDB — partido de Temer — recolocou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) na CCJ, inicialmente como suplente. Marun é vice-líder do governo e da tropa de choque de Temer e um dos mais ferrenhos defensores do presidente dentro da Câmara. O clima no Palácio do Planalto e entre os aliados ontem era de alívio com as decisões do STF em relação a Rocha Loures, ex-assessor do presidente flagarado com R$ 500 mil numa mala, e ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), que reassume suas funções parlamentares. A avaliação é que as últimas decisões do Supremo fragilizam a denúncia contra Temer, resultante da delação de Joesley Batista.
Para a entrada de Marun como suplente, saiu o deputado Valtenir Pereira (MT), que trocou o PMDB pelo PSB. O PSB deixou a base, e o parlamentar estava na lista dos contrários. Na semana passada, já houve mudanças, com a substituição como titular do deputado Major Olímpio (SD-SP).
O grupo de indecisos foi dividido para que os integrantes do QG da tropa de choque entre em contato com cada um. A avaliação é que, nesta hora, todos querem seus momentos de holofotes.
Mas Temer e a cúpula do PMDB tentam conter traições. O líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), foi lembrado por integrantes do Palácio do Planalto de que o partido é o do presidente e que, nele, não poderá haver surpresas. O presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), é considerado “difícil”, como toda a bancada mineira, inconformada com a falta de um ministro mineiro.
CARGOS EM TROCA DE VOTOS
Na sexta-feira, o Palácio do Planalto passou a agilizar a troca do comando de Furnas, atendendo a um pedido de meses da bancada de Minas Gerais. Apesar das negativas oficiais, os peemedebistas mineiros admitem que essa era uma reivindicação da bancada. Segundo interlocutores, a bancada mineira e o senador Romário (PSB-RJ) defendem o nome do atual diretor de administração, Júlio César Jorge Andrade, para assumir o posto.
Temer tem até dez sessões do plenário da Câmara para apresentar sua defesa, mas ele tem pressa. Ele pode apresentar até com nenhuma sessão realizada, mas a expectativa é que na terça tenham contado duas sessões. Em seguida, na quarta-feira (5), deve começar o prazo de cinco sessões para o relator. Se a base conseguir realizar sessões constantes, o prazo se encerra dia 11. Dentro desta previsão, a votação na CCJ seria dia 12. Mas o calendário pode atrasar para a semana do dia 20.
Aliados e ministros apostam que, apesar do discurso, Pacheco escolherá um relator que fará um parecer pela rejeição da denúncia. De toda forma, o parecer é levado ao plenário da Câmara. São necessários 342 dos 513 votos para autorização de abertura de processo contra o presidente da República.
A semana do dia 12 de julho será “a semana” para o governo: querem liquidar a questão da denúncia; aprovar a indicação de Raquel Dodge e votar a reforma trabalhista no plenário do Senado. Se tudo der certo, o Congresso aprova a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e entra em recesso oficial. Caso o calendário atrase, a LDO não é aprovada, para que a CCJ possa continuar funcionamento. Neste caso, o recesso deverá ser extraoficial, o que é conhecido como recesso branco.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou interpretações de que estaria dificultando a situação de Temer. Ao contrário: Maia esteve no Planalto na quinta-feira.
Fonte: O Globo