Uma empresa vinculada ao Parque Tecnológico Metrópole Digital (Metrópole Parque) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) colaborou, no final de abril, com um procedimento médico inédito em hospitais públicos do Brasil: uma cirurgia com conexão de quinta geração (5G), utilizada para envio de sinais vitais do paciente em tempo real.
A ação tecnológica possibilitou que o acompanhamento da cirurgia pudesse ser feito a distância por qualquer pessoa com acesso à internet, mesmo por celular ou tablet. O procedimento médico aconteceu na última semana de abril, no centro de cirurgia robótica do Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP), da Universidade de São Paulo (USP).
O processo é fruto de uma parceria entre a NUT, startup natalense especializada em tecnologias para Saúde, e a Claro, empresa de telefonia que ofereceu a conectividade 5G durante a cirurgia.
A proposta principal da iniciativa foi efetuar uma Prova do Conceito (PoC) – teste prático utilizado para validação de uma determinada tecnologia – da Plataforma de Assistência Remota (PAR), da NUT, que registrou e processou todos os sinais vitais do paciente (como frequência respiratória, batimento cardíaco, etc).
“Um médico, um plano de saúde ou qualquer pessoa que tenha acesso ao nosso sistema pode ver os dados vitais do paciente de forma remota e em tempo real. Isso nos abre uma série de possibilidades, como ensino prático a alunos de medicina ou processos de auditoria. Todo esse acompanhamento agora é possível sem que a pessoa precise estar presente no centro cirúrgico”, comenta Thiago Paulmier, CEO da NUT.
5G
A POC que ocorreu no ICESP foi a primeira cirurgia com conexão 5G a acontecer em um hospital público do Brasil. Segundo Thiago Paulmier, a ideia de contatar a NUT para o registro remoto e processamento em nuvem dos dados cirúrgicos ocorreu após a MOSO Venture Builder – empresa especializada em inovação de negócios na área da Saúde – descobrir o trabalho da empresa potiguar e convidá-la para participar da iniciativa.
“Temos implantada a PAR no hospital da Liga Contra o Câncer aqui de Natal e a MOSO percebeu que a nossa solução era justamente o que eles precisavam para o projeto. Junto à Claro, que está trazendo essa conexão 5G para o Brasil, fomos amadurecendo a ideia até que pudemos concretizar a parceria”, conta Paulmier.
Assim, a equipe foi até São Paulo, na sede do ICESP, para implementar a Plataforma de Assistência Remota. O sistema conta com um dashboard por meio do qual é possível ter acesso a todos os dados vitais dos pacientes monitorados e um gateway, dispositivo de hardware que, quando acoplado ao monitor multiparamétrico de um determinado leito, envia todas as informações ali registradas para a PAR.
Além da plataforma, a sala de cirurgia do ICESP também foi equipada com uma antena de internet 5G disponibilizada pela Claro, que possibilitou, segundo o professor Itamir Barroca, o aumento de dez vezes na taxa de transferência e de largura de banda, tornando possível o acompanhamento de toda a cirurgia sem complicações.
“Primeiramente, conhecemos e analisamos toda estrutura do Instituto. Foi instalada uma antena de 5G, cabeada com internet de fibra óptica e munida de um equipamento que roteou o sinal para toda a sala. Esse aparato nos permitiu ter uma maior capacidade de transmissão de dados e velocidade. O resultado foi muito satisfatório”, comenta o Chief Technology Officer (CTO) da NUT, Ramon Malaquias.
Para esse procedimento, os dados levantados foram armazenados em nuvem e enviados para o servidor do Instituto Metrópole Digital (IMD), podendo, assim, ser acessados a qualquer momento pela PAR, via aplicativo ou sistema web. Após a instalação junto ao ICESP, a solução segue viabilizando o acompanhamento de todas as informações vitais de pacientes do centro cirúrgico e, no início deste mês, mais duas cirurgias foram operadas no setor.
Cirurgias robóticas
O processo tecnológico representou um avanço na concretização de um audacioso plano: a realização de cirurgias robóticas a distância – quando o procedimento é feito por robôs monitorados sem a presença física do médico na sala de cirurgia.
Para isso, o 5G apresenta-se como uma ferramenta imprescindível, dada a rápida velocidade de conexão e a massividade na transmissão de dados possibilitada pela conexão. Assim, é possível que um médico opere uma cirurgia mesmo estando a quilômetros de distância do local do paciente.
Tal perspectiva, segundo Ramon Malaquias, deverá ser plenamente concretizada quando for possível, por meio do alto volume de transmissão dos dados, a efetivação do streaming de vídeo das cirurgias – transmissão das imagens de um procedimento médico em altíssima velocidade e riqueza de detalhes.“A partir do momento em que você tem condições de transmitir mais dados, com maior velocidade, você passa a ter mais confiabilidade e enxerga mais possibilidades. O streaming como forma de viabilização das cirurgias remotas é um dos insights que tivemos”, comenta o CTO.
Outra vantagem do uso do 5G combinado com o registro e historiamento de dados cirúrgicos em tempo real consiste – segundo o professor do IMD e mentor da NUT, Itamir Barroca – no melhoramento do próprio procedimento médico, o qual passa a ser otimizado com tecnologias que transcendem a percepção humana.
“Essa solução pode, por exemplo, acusar comportamentos arriscados durante o processo de cirurgia, bem como alertar questões não percebidas pelo médico durante o procedimento. O grande diferencial do aprendizado de máquina é que ele vai descobrir padrões nos dados coletados que não são fáceis de serem enxergados por humanos. Então isso aumentará a segurança da cirurgia”, aponta Barroca.