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Sinmed questiona implantação do hospital de campanha e projeções da COVID-19 no RN

FOTO: DIVULGAÇÃO

O médico anestesiologista e presidente do Sindicatos dos médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), Dr. Geraldo Ferreira, questiona o valor a ser empregado para a montagem do hospital de campanha pelo governo do estado e as projeções do coronavírus para os próximos meses divulgadas pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap). O valor total da gestão do empreendimento será de R$ 37 milhões. O médico avalia como sendo um valor muito alto para se colocar nas mãos de uma Organização social (OAS) em um período de seis meses.

Para o médico, seria usar o dinheiro durante um período e, passado o tempo previsto, não contar mais com aqueles equipamentos. “Há leitos hospitalares que foram ampliados em vários hospitais, no Deoclécio (Hospital Regional Dr. Deoclécio Marques de Lucena), é, no hospital da Polícia, que o estado nunca botou para funcionar porque não tinha dinheiro. Esses 38 [37] milhões eram prioritariamente para colocar estes leitos para funcionarem”. argumentou o Dr. Geraldo Ferreira.

Ele afirma que a quantidade de leitos públicos no estado é grande, estimou que existem  leitos que poderiam ser usados se alguns hospitais recebessem o investimento dos 37 milhões e poderiam ficar à disposição do estado após a pandemia. “Os hospitais estão pela metade, como foram suspensas as eletivas, os procedimentos e consultas eletivas, etc. Os hospitais estão vazios, essa história de colapso do sistema de saúde que pode acontecer em algum momento, na verdade, o sistema vivia colapsado, agora não, o sistema está pela metade. Então, há leitos públicos superiores a duzentos leitos que podem ser colocados em funcionamento”.

A Secretaria de Estado do Rio Grande do Norte (Sesap), informou que o estado tem 232 leitos de UTI cadastrados na rede pública. Destes, 160 são para adultos, 61 neonatais, 11 pediátricos. Na rede privada, existe um total de 266 leitos cadastrados, sendo 103 destes disponíveis ao SUS. 219 adultos; 19 pediátricos; 28 neonatais. Na rede filantrópica, estão cadastrados 57 leitos de UTI, sendo 49 deles disponíveis ao SUS; 20 são para adultos, 10 para pediatria e 27 são neonatais. Os dados são do  CNES/DATASUS/GOV/BR.

Quanto aos leitos diversos, clínicos e cirúrgicos são 6.510 de enfermaria clínica e cirúrgica entre públicos, privados e filantrópicos. Deste total, 5.455 são leitos disponíveis ao SUS, nas diversas especialidades, conforme cadastro do CNES.

Segundo a Sesap, estão sendo colocados em funcionamento mais 170 leitos na rede pública de saúde para tratamento do coronavírus. Em Natal, no Hospital Coronel Pedro Germano, da Polícia Militar, localizado no bairro do Tirol, serão ofertados, especificadamente, 10 leitos de UTI’s (Unidades de Terapia Intensiva), 15 leitos semi-intensivos e mais 25 leitos de retaguarda, totalizando 50 leitos. A previsão é que esses leitos entrem em funcionamento nos próximos 15 dias, informou a secretaria.

Em Mossoró, o Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM) colocou em funcionamento, na terça-feira (7), 10 novos leitos de UTI’s outros 10 estão para serem colocados em funcionamento nos próximos dias.

Além desses, a Secretaria informou que já foram abertos outros 41 leitos na tipologia COVID-19, todos do SUS.

O hospital de campanha ainda não está sendo construído, o governo do RN prorrogou o prazo de Chamamento Público Emergencial para implementação e gestão do hospital de campanha, a ser construído no Arena das Dunas para até às 17h do dia 10 de abril.  A estrutura contará com 100 leitos hospitalares, sendo 53 leitos de UTI’s, 45 leitos de retaguarda e 2 leitos de isolamento, contemplando aquisição de material de consumo, sistema de informação, gestão de pessoas, bem como todos os aspectos à operacionalização do hospital.

Para o médico Dr. Geraldo Ferreira, a construção irá desperdiçar recursos. “Acho que se for aberto esse hospital de campanha é desperdício de dinheiro público”. Mas considera que pode estar errado. Ele manifestou também concordar com algumas ações do governo. “As medidas de distanciamento social são importantes, o secretário tem procurado comprar os materiais de proteção para os profissionais, eles têm acompanhado assim, o dia a dia, têm prestado conta do que está acontecendo, mas essas medidas que envolvem alto poder monetário precisam ser estudadas com muita cautela até por zelo do dinheiro público”, alerta, o médico.

O Presidente do Sindmed afirma ainda que “os hospitais privados estão pedindo socorro ao governo do estado, são hospitais privados que prestam serviço ao SUS, estão com seus leitos pela metade, esvaziados.”

Projeções para o coronavírus no RN

Outro questionamento levantado pelo médico refere-se às projeções levantadas pelo comitê de especialistas do Rio Grande do Norte em análise da pandemia do coronavírus. “Esses números dessas projeções matemáticas, eles têm um valor: é mostrar que se você usar equipamentos de proteção, aplicar o distanciamento social, etc, o cálculo matemático mostra que há uma queda das possibilidades das pessoas morrerem, isso é um fato, agora os números são absolutamente teóricos, eles não correspondem à prática”. Disse isso em referência à projeção levantada pelo comitê de 10 mil mortes durante o pico da epidemia no estado.

“Esses modelos são teóricos, eles têm sido usados com muito alarmismo e histeria para justificar as medidas que vão ser tomadas”, afirmou o médico relacionando a divulgação das projeções à intenção de construir o hospital de campanha por 37 milhões de reais.

A Infectologista e professora do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do RN, Dra. Marise Reis faz parte do Comitê de especialistas que estudam o coronavírus e fala da estimativa feita pela equipe de que poderiam ocorrer até 10 mil mortes no estado por conta do coronavírus. “É uma projeção em cima de um contexto de uma epidemia que nós não temos certeza de como ela vai se desenvolver aqui (RN). Essa projeção se faz em cima de modelos que estão sendo utilizados para estudar a epidemia em diversos cenários em diversos países”.

“Quando a gente olha para a curva epidêmica no Rio Grande do Norte, a gente identifica que estamos no comecinho dela. Essa pandemia tem uma característica de uma transmissibilidade muito alta e de uma capacidade de contaminar uma população muito grande num espaço curto de tempo”, disse a infectologista preocupada com os leitos, segundo ela, um paciente passa de duas a três semanas ocupando um leito sem garantia de cura.

Segundo ela, não houve a menor intenção de alarmar a população e sim informar da gravidade da doença. “Nós estamos sobre um grande risco de termos um grave problema no sistema de saúde pelo o grande número de pessoas adoecidas e não termos lugar para todos. Na hora que não tiver lugar para todos, teremos gente morrendo”.

Marise disse que a população tem que entender as projeções como um alerta para ficar em casa e diminuir os riscos de contaminação, mas, levanta um questionamento sobre a situação social do país. Por enquanto, os casos estão disseminados entre os bairros de classe média em que as pessoas dispõem de espaços maiores em suas residências para manterem o distanciamento, o mesmo não acontece nas casas das periferias e esses distanciamento é quase impossível.

Ela ressaltou que os dados estão sempre em mutação e que a cada óbito a curva muda. O que o comitê está avaliando é o comportamento da epidemia no estado para ter como direcionar as soluções. A médica torce que as estimativas estejam erradas. Tudo o que nós podemos fazer para reduzir os danos, nós estamos tentando fazer, porque inclusive nós não temos certeza de como chegaremos lá, nós somos um país completamente distinto da Europa”.

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